Uma série tokusatsu que nunca passou por aqui — ao menos de maneira oficial –, e que mesmo assim muita gente tem um carinho ou curiosidade é Choudenshi Bioman, Super Sentai de 1984. Mas apesar da exibição nunca ter acontecido, não quer dizer que o público brasileiro não foi impactado por ela.

Inclusive, desde a metade dos anos 1980 ela faz parte do imaginário de muita gente. Como assim?

Do sucesso na colônia aos versos de VHS

Bioman foi um dos campeões de aluguel na Golden Fox no bairro da Liberdade em 1986. Especializada em produtos midiáticos para a colônia japonesa, a locadora de Toshihiko Egashira, o fundador da vindoura Everest Video, tinha um vasto acervo para os seus frequentadores.

Junto de Bioman e séries Kamen Rider, Jaspion e Changeman eram muito alugados, com imagens das fitas gravadas direto da televisão japonesa. Essa procura toda fez soar um alerta ao empresário, prevendo que poderia atingir o público em geral com um lançamento oficial em fitas seladas. E, assim, foi rumo ao Japão, ainda em 1986, para dar início à empreitada de maior sucesso de sua carreira.

Folha de S. Paulo – 12 de abril de 1986 | Foto: Reprodução

Claro que muitos frequentadores do bairro da Liberdade tinham acesso às bancas com revistas japonesas e muitas delas eram de super-heróis. Mas para o grande público, que não podia consumir as páginas das TV Magazine que apareciam para felizardos da colônia, a primeira vez que Bioman chamou atenção foi no verso das fitas da Everest Video, mais precisamente no volume 1 de Changeman, lançado em janeiro de 1987.

O pessoal mais atento na época já sacou que além do Esquadrão Relâmpago havia mais três grupos de heróis por ali: Flashman, Bioman e Bicrossers. Obviamente, quase que a totalidade das pessoas não fazia a menor ideia do nome das séries — ou se eram apenas personagens que iriam aparecer posteriormente em Changeman. Vale ressaltar que para Flashman chegar ao Brasil ainda faltava mais de 2 anos — só foi estrear em março de 1989 pela Rede Manchete e teve seu primeiro volume lançado em VHS pela Everest Video na mesma época.

Bicrossers chegou em janeiro de 1991, pela Globo, que lançou os três primeiros episódios pelo seu selo de home-video. Mas e Bioman, quando viria? Quando o público poderia ver aqueles heróis com os braços cruzados fazendo pose na capa da fita na televisão?

Bioman entre a salada de cenas de heróis no verso da fita de Changeman. | Imagem: Reprodução

Bom, pela Everest Video é que não seria. Desde que iniciou sua trajetória em 1986, a empresa sempre primou por novidades, trazendo sempre séries pós-1985, ano de Jaspion e Changeman. A Everest licenciou Flashman (1986), Spielvan (1986), Maskman (1987), Metalder (1987), Kamen Rider Black (1987) e Patrine (1990) — ainda que esta última só tenha estreado em 1994 na fase Tikara Filmes (nova empresa de distribuição iniciada pelo mesmo empresário naquele ano).

Das séries de 1988 em diante, Jiraiya e Jiban ficaram nas mãos da Rede Manchete e Top Tape. De 1985 para trás, a Oro Filmes comprou Goggle V (1982), Sharivan (1983) e Machine Man (1984) e levou suas séries para a Bandeirantes. A Globo ficou com Gavan (1982), Shaider (1984) e Bicrossers (1985), alocando-as em sua programação ou emprestando para a TV Gazeta. Ou seja, das séries da Toei de 1982 até 1985, ficaram faltando apenas Dynaman (1983) e Bioman — e a Everest não olhava para trás.

Em uma rápida busca no site do INPI, é possível ver que a Everest registrou os nomes de Liveman (1988), Giban (com G, mesmo, de 1989), Turbo Ranger (1989) e Poitrine (1990). Além disso, registros de Metalder com a alcunha de Metaldan, além de Turbo Man, a provável outra alcunha de Turbo Ranger, nos mesmos moldes do registro de Masked Rider Black, que também gerou Blackman.

Poitrine também ganhou seu registro como Patrine, o nome usado por aqui. Toshihiko aparentemente queria garantir, ao menos no nome, o direito de exploração das séries, que pelo visto vislumbrava um dia ter em seu catálogo. Curiosamente, também tinha um Comando das Galáxias reservado, provável alcunha para algum esquadrão colorido. Dentre outros que ele “reservou”, Jiban ficou com os direitos de licenciamento nas mãos da Top Tape. Liveman e Turbo Ranger nunca chegaram ao Brasil. E um adendo: em 1998, Jiban foi comprado pela Tikara Filmes, mas nunca chegou a reestrear na Manchete junto de Jiraiya.

Fotos dos registros de marca da Everest Vídeo.

Registros de marca da Everest Vídeo. | Reprodução: INPI

 

Nas paradas infantis brasileiras

Mas se Toshihiko Egashira não teve em mãos a série Bioman, ele teria ao menos um fonograma. De forma totalmente insólita, músicas de séries que não passaram no Brasil tiveram lançamento em LP por aqui, como Bioman e Sun Vulcan. Além disso, uma música de série que a Everest nem tinha os direitos na TV no Brasil e ainda estava em vigência — Goggle V. Bagunças da época.

E é por isso que, em 1992, “Yume Miru Peebo”, música do simpático robô tutor de Bioman, foi parte integrante da trilha sonora de Blackman — versão nacional para as canções de Kamen Rider Black.

imagem: Capa e verso do disco "Blackman"

Capa e verso do disco “Blackman”. | Imagem: Reprodução/RGE

Gravada pela atriz e então recém ex-apresentadora do Cometa Alegria, Cynthia Rachel, a música ganhou o nome de “Língua do P”, aproveitando a sonoridade da original.

Curiosamente, Cynthia se apresentou junto com sua irmã no Programa Livre, em fevereiro de 1992, pouco antes do lançamento do álbum. Podemos dizer que foi a primeira vez que Bioman teve algo exibido na televisão brasileira, ainda que de vias muito tortas.

Fora essa versão bizarra, podemos dizer que o público daqui já teve algum contato com a trilha original de Bioman. Acontece que os temas são praticamente presença obrigatória nos shows do cantor Takayuki Miyauchi, que já se apresentou algumas vezes em eventos por aqui e, claro, interpretou essas canções. No Brasil, ele é mais famoso pelos temas de Winspector, Solbrain e Kamen Rider Black RX.

 

Vestindo Bioman sem saber

Como outra curiosidade bizarra, quem tinha alguém na família interessado em croché/tricot pode conferir numa edição da revista Nina, de maio de 1991, dois garotos brasileiros usando blusões alusivos à Bioman, inclusive com a “receita” de como fazê-los.

Na verdade, se tratava de uma estampa reproduzida pela revista francesa da marca de novelos de lã Phildar, que trazia um blusão frente e verso com os heróis.

Revista Nina fornecida por Bruno Seidel | Montagem: própria

 

Anexo: um “quase Power Rangers”

Um imenso sucesso na França (é o Changeman deles), a série foi o que fez o empresário Haim Saban despertar para o que futuramente seriam os Power Rangers. Nos anos 1980, em uma aposta ousada, decidiu transformar Bioman em um sucesso no Ocidente. Para tanto, buscou contar com uma equipe de produção para cenas americanas, extirpar todas as cenas com os atores japoneses e gravou um piloto, que até hoje não foi ao ar.

No elenco, os nomes mais famosos eram Mark Dacascos e Miguel Nuñes. Peebo, que teve a trilha lançada no Brasil, foi o Alpha-5 original — “agradeça” a ele pelos Ai-Ai-Ai-Ai.

imagem: flyer de divulgação do projeto Bioman pela Saban

Imagem: Reprodução/Saban

O que temos na superfície até o momento é o piloto da fase Mighty Morphin, mas com os atores da fase Bioman/USA. Mas, segundo informações do twitter Morphin Museum, o piloto de Bioman da Saban foi encontrado e será disponibilizado em breve. Vamos aguardar.

 

Querida por muitos fãs brasileiros de tokusatsu, além de ser a que modernizou o padrão estético dos Super Sentai para o resto da década de 1980, Bioman aguarda até hoje uma oportunidade para chegar ao Brasil de forma oficial. Quem sabe um dia a Hasbro abra os olhos para o resto do espólio que tem nas mãos e decida que não é só Mighty Morphin Power Rangers que existe por aí.


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