Para quem acompanhou as séries tokusatsu dos anos 1980 na TV Manchete, a grande maldição que afligiu os fãs durante os anos 1990 foi o que se costuma chamar informalmente de ‘sabanização’. Ou seja, um produto totalmente japonês sendo mesclado com roteiros adaptados por americanos, geralmente pela Saban Entertainment, extirpando quase que totalmente qualquer traço nipônico da coisa.

Com isso, os produtos originais ficavam mais restritos no Ocidente, já que quase tudo tinha que passar pelos distribuidores americanos, a Saban, que consequentemente iriam ‘empurrar’ a versão ocidentalizada de seus produtos. Isso aconteceu tanto com séries tokusatsu quanto com vários animês que vimos na programação da Rede Globo durante os anos 1990 e início dos 2000.

Um pesadelo em forma de design | Foto: Reprodução


De séries que já haviam sido exibidas aqui na sua versão original e que ganharam adaptação, os exemplos mais emblemáticos para os fãs foram Kamen Rider Black RX, exibido em 1995 pela Rede Manchete e transformado em Masked Rider pela Saban para exibição na Fox Kids; e VR Troopers, que ceifou as exibições originais de Spielvan, Metalder e posteriormente Shaider de nosso convívio na TV dos anos 1990. Isso sem falar de séries inéditas por aqui, como todas as séries Super Sentai de 1992 em diante que se tornaram partes integrantes de Power Rangers, além das duas séries B-Fighter, que viraram duas temporadas de Beetleborgs (Heróis por Acaso, na exibição da Globo).

Décadas depois, mais adaptações. Em Power Rangers Morfagem Feroz, foi a vez de Gavan aparecer como o Capitão Chaku, em um trocadilho muito infame com a frase de transformação do herói no Japão (jouchaku — algo como “traje vaporizado”, em tradução livre). Além de cenas do herói participando originalmente em GoBuster (2012), tomadas inéditas com o elenco ocidental foram produzidas.

O Capitão Chaku | Foto: Reprodução

Um detalhe curioso: o personagem foi dublado por Marco Ribeiro na versão em português, mesmo dublador que havia emprestado sua voz ao Policial do Espaço Gavan em 1991, do episódio 4 ao 44, substituindo o dublador original, Orlando Prado, afastado da dublagem no final de 1990 devido à um AVC.

Pouco tempo antes, a Saban tinha mexido com uma das vacas sagradas do fandom: Jiraiya foi transformado em Xerife Skyfire na série Power Rangers Super Ninja Steel, aproveitando cenas da série original, Ninninger (2015), em que o sucessor de Togakure faz uma ótima aparição. Cenas inéditas com o personagem foram gravadas na Nova Zelândia, “explicando” o porquê de Skyfire aparecer na trama, de uma maneira bastante inócua.

Mas, por mais tola que seja essa adaptação de Jiraiya para o personagem ser inserido em Power Rangers, isso não foi nada perto do que a Bandai America aprontou com o herói em 1990. Como assim?

 

O mundo é um grande shopping center?

Em 1990, os brinquedos de Jiraiya chegaram ao continente americano com o selo da Bandai America e fabricação na China. Era a versão dos bonecos maleáveis com armaduras e que esticavam loucamente. Foram um sucesso no Japão e na França, país que recebeu os bonecos originais com uma cartela condizente: Giraya (nome da série por lá).

O “problema” foi todo o background que deram para os personagens na cartela dos bonecos para venda nos Estados Unidos. A começar pelo nome: Tacky Strechoid Warriors (algo como “Os Guerreiros Cafonas que Esticam”).

Com uma história completamente inusitada, contada através da própria cartela do boneco, Jiraiya ganhou uma nova alcunha: FRINGE. Pior de tudo: ele é um vilão e subordinado de Dokusai (!), aqui chamado de SPIKE. O intento deles? Transformar a Terra num grande shopping. É isso mesmo que você leu. O motivo? “Porque é muito brega!”.

Mas, ainda segundo as cartelas dos bonecos, um grupo de heróis, liderados por THUNDERBOLT (alcunha de Wild Rainin’, um ninja americano — oh!), visa acabar com esse desejo vilanesco. Tudo isso para proteger a Terra de mudanças no JEITO DE COMPRAR! O negócio é tão insólito que é inacreditável até para os padrões de galhofa americanos. Confira o resumo de cada personagem, segundo a própria cartela da Bandai:

THUNDERBOLT (Wild Rainin’): Líder dos Guerreiros que esticam e inimigo mortal daqueles que tentam transformar a Terra em um grande shopping. Sempre depois de acabar com um mini-shopping, um centro comercial ou até mesmo uma loja de Frozen Yogurt, ele sempre berra: “Que tal isso para uma grande abertura!?” (?!?!?)

GOLDBLASTER (Barão Owl): Guerreiro filosofal e oponente feroz de todos aqueles que visam lucrar às custas da cultura, ele guarda um segredo sombrio: seu tio é um vendedor de enroladinhos de salsicha em Coney Island. (?????????!!!!)

ARNIE (Haburamu): Resgatado de um fliperama quando jovem, Arnie deixou de lado todos os sinais de seu pregresso estilo de vida vida degenerado — exceto o seu nome.

SPIKE (Dokusai): Renegado gênio maligno e um empreendedor de Shoppings, detém um contrato falso de locação da Terra. Mas antes que ele faça uma baderna ele precisa encontrar um terno xadrez que ele herdou de seus ancestrais. (?!??!??!?!)

FRINGE (Jiraiya): Capacho de SPIKE (Dokusai), ele só aceita essa posição pois lhe foi prometido gerenciar todos os estacionamentos da Terra. Certa vez puxou uma etapa na cadeia por “sujar” Rhode Island com estátuas bregas para jardim. (!!!!!!)


Chega, né? Mais ou menos. Mais outras séries tiveram sua versão americana através dos brinquedos. Mas isso é assunto para um próximo artigo.

Você pode conferir o Jiraiya original esse final de semana no Anime Friends 2024, já que Takumi Tsutsui estará novamente no evento, se tornando quase que presença obrigatória em toda edição (diz ele que é a 17ª vinda ao Brasil, se ele estiver contando direitinho). Junto dele, Takumi Hashimoto, o Manabu, volta ao Brasil para nova aparição da família dos Togakure, o que vai auxiliar em muito a divulgação dos novos produtos licenciados de Jiraiya no Brasil.


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O Rio Grande do Sul segue em situação de calamidade pública, passando por uma das piores tragédias da história do estado, após fortes chuvas e enchentes que permanecem em algumas regiões. O governo estadual reativou o PIX do “SOS Rio Grande do Sul”, criado ano passado, quando o estado foi também assolado por fortes chuvas, para receber doações que serão direcionadas para dar apoio humanitário às vítimas. Para ajudar, doe pela chave CNPJ 92.958.800/0001-38.

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