Quem acompanha animês avidamente, pelo menos desde os anos 2000, provavelmente deve saber quem é Aya Hirano. A seiyuu (atriz de voz) que subiu ao estrelato de maneira arrebatadora por sua atuação como a protagonista de The Melancholy of Haruhi Suzumiya, uma das séries mais populares daquela década, era amplamente conhecida e rapidamente foi adotada pelo público como uma super idol, fazendo com que ela conseguisse mais destaque na mídia.
No entanto, ser considerada como uma idol de porte tão grande nessa indústria até hoje tem seus lados negativos, e Aya Hirano sofreu com isso de forma dolorosa. Em 2010, após ter comentado abertamente sobre sua vida sexual em um programa de variedades, Hirano recebeu críticas massivas e injustas dos fãs otakus, que pioraram com os rumores de que ela abandonaria a indústria de atuação de voz.
Só que as coisas se tornaram um desastre de vez, quando foi vazado que ela teve relações sexuais com três membros de sua banda — e tudo isso atingiu o mais baixo nível quando fotos envolvendo o caso foram divulgadas por um tabloide.
Obviamente, ter uma vida íntima fora dos holofotes não deveria ser motivo de revolta para ninguém, mas infelizmente não foi assim para os fãs de Hirano na época. Vários e vários “fãs” irritados fizeram manifestações extremamente vocais para que Aya Hirano parasse de atuar como seiyuu, além das constantes ameaças de morte, algo que ela comentou recentemente que ainda acontece.
Com toda essa situação, Hirano acabou injustamente sendo afastada da indústria de atuação de voz, seguindo praticamente só com os trabalhos que já fazia anteriormente. O impacto da polêmica parece ter envolvido até mesmo o animê que impulsionou sua carreira, já que, após os ataques, a série principal de The Melancholy of Haruhi Suzumiya nunca voltou a ser adaptada para animação, mesmo com sua estrondosa popularidade.
Também é importante relembrar que Aya Hirano interpretaria Shinobu em Kizumonogatari na época, que foi justamente uma das produções mais diretamente afetadas com a revolta dos fãs, antes da atriz ser substituída por Maaya Sakamoto… mas em Nisemonogatari. Kizumonogatari, que sairia em 2012, foi lançado apenas em 2016 e, apesar de outros motivos provavelmente estarem envolvidos, é difícil não conectar o atraso também com a situação de Aya Hirano.
A carreira pós-polêmica
A atriz nunca chegou a parar de trabalhar com animês de fato. Além de manter seus trabalhos anteriores, continuou recebendo papéis aqui e ali, apesar de na maioria ter sido interpretando figuras mais “caricatas”, como Migi, em Parasyte, e Okachimachi, em Akiba Maid War.
Nos jogos, apesar da situação ainda ser escassa, a atriz parece ter sido aceita de braços um pouco mais abertos. Provavelmente seu papel de maior destaque após a polêmica é o de Beatrix, personagem extremamente popular de Granblue Fantasy, que é um dos jogos para celulares mais bem estabelecidos na indústria. E Hirano não conseguiu só um, mas dois papéis no game, já que ela também interpreta Alexiel. Ela até mesmo costuma ser convidada para participar em eventos presenciais do jogo interpretando Beatrix, como na apresentação abaixo:
No entanto, apesar de ainda fazer trabalhos de atuação de voz, o foco de Hirano na indústria do entretenimento virou o teatro. Desde 2012, Aya Hirano atua em diversas peças teatrais e, felizmente, parece ter se encontrado por lá. Seu trabalho teatral normalmente não era relacionado com adaptações de animês ou mangás, o que não é algo ruim, mas mostra que ainda havia um receio nesse sentido, talvez até por parte da própria atriz.
Os indícios de um grande retorno
As coisas, contudo, parecem estar se encaminhando para um novo rumo desde o ano passado, quando uma notícia inesperada mudaria o parâmetro da situação. Com o anúncio da adaptação teatral de Chainsaw Man, o nome de Aya Hirano apareceu entre os escalados para o elenco. E, não, não foi em um papel pequeno, mas sim no papel de uma das personagens femininas de animês mais populares com o público nos últimos anos: Makima.
Mensurar de forma geral é bastante difícil, ainda assim, segundo o que foi possível apurar, a reação mais geral com a escalação e também com a própria atuação de Aya Hirano na peça foi bem positiva. Isso é algo ótimo não só pela reação do público ter sido boa, mas também porque criou-se um otimismo para um comeback real da atriz para a indústria dos animês e produções relacionadas.
Outro anúncio que reforçou bastante essa possibilidade foi o de que Aya Hirano interpretará Maria Antonieta no novo filme de Rosa de Versalhes, um dos maiores clássicos dos animês e mangás até hoje. Além disso, a personagem é uma das principais da trama, então o papel de Hirano é de grande destaque.
Claro, abraçar a notícia de forma totalmente esperançosa também não é o ideal. A produção do filme de Rosa de Versalhes é um ponto relativamente fora da curva, começando pelo fato de que a equipe de produção é formada principalmente por mulheres, o que pode ter facilitado que houvesse uma sensibilidade maior para escalar Hirano, mas sabemos que, infelizmente, a indústria de animês é formada principalmente por homens que, por muitas vezes, podem concordar com os fãs doentios que escorraçaram a atriz.
Por outro lado, outros novos papéis da atriz, por mais que poucos, também podem ser vistos de maneira otimista. É possível apontar principalmente para o fato de que Hirano está interpretando Lilith no arco atual de One Piece, personagem que é bem relevante para a atual fase da obra, sem falar que é um papel em um dos animês mais populares em todo o mundo.
Outra franquia do mesmo calibre de popularidade que Aya Hirano conseguiu um papel recentemente foi em Pokémon, já que ela integra o elenco de Pocket ni Bouken wo Tsumekonde, um dorama sobre uma fã dos jogos da série. Por fim, também é possível apontar para outro trabalho na esfera teatral posterior à Makima, sendo este o de Rin Shiraki na peça de Kono Sekai no Katasumi ni, cujo filme animado foi amplamente premiado no Japão.
Por fim, outro grande indício de que Aya Hirano está voltando a ser mais aceita nos holofotes é que este ano ela iniciou uma turnê musical depois de 11 anos sem fazer algo do tipo. A cantora fez diversos shows no Japão entre fevereiro e março, e já confirmou que se apresentará em agosto na China e no Taiwan. Esse é outro retorno importantíssimo para a carreira dela, considerando que seu título de “super idol” não era à toa — Hirano tinha uma grande participação musical em boa parte das séries que atuava, incluindo principalmente The Melancholy of Haruhi Suzumiya, além do fato de que ela estava estabelecendo uma carreira sólida mesmo fora do cenário dos animês. Levando esses pontos em consideração, a reconquista desse espaço no mundo da música é de grande relevância.
O regresso a todo vapor é incerto
Novamente, essa aceitação atual não significa que Aya Hirano de fato está voltando com tudo de vez, porém podemos ter uma visão otimista de um grande retorno, caso seja algo que de fato a atriz queira — considerando que ela já comentou que ainda tem receio de voltar a se envolver mais ativamente com esse mundo, podendo ser mais um motivo que reforçou os poucos trabalhos como seiyuu nos anos após as polêmicas.
Talento não é algo que falta à atriz, o que possibilitaria que ela participasse de mais testes, mesmo em produções mais específicas, mas obviamente ela também deve considerar os próprios sentimentos quanto a essa questão.
É difícil não se sentir mal pela atriz ter medo de voltar para o local que a levou ao sucesso, ainda mais se considerarmos que tantos homens da indústria, que já se envolveram em casos de traição, racismo e até mesmo pedofilia já foram perdoados ou nem sequer acusados por nada. Enquanto isso, Aya Hirano foi uma vítima desde o início, nunca tendo cometido algo que merecesse acusação. Ainda teve sua intimidade exposta de forma chula, e mesmo assim precisou se afastar o máximo possível da indústria por tantos anos e continua recebendo ameaças à sua vida.
Resta a nós, que nos compadecemos com a situação da atriz, apenas torcer para que Aya Hirano consiga novamente o espaço que tanto merece nesse mundo. Considerando as reações positivas do público aos trabalhos mais recentes, existe a possibilidade de que a atriz se sinta pelo menos um pouco bem-vinda novamente, e consiga mais uma vez brilhar com um dos grandes nomes da atuação que sempre foi.
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Chega a ser difícil acreditar nessas reações dos "fãs". Lembro de uma história sobre uma fã do ator Jackie Chan ter pulado na frente de um ônibus após uma fake news dizer que ele era casado. Pessoal, seus ídolos tem vidas fora da ficção, vocês também deviam arrumar uma!
O que ocorre com a Aya Hirano é a prova de como a indústria do entretenimento usa de "dois pesos, duas medidas" em relação a "escândalos" envolvendo homens e mulheres (e francamente, o "crime" da eterna voz da Konata de Lucky Star era ter uma vida sexual ativa? Japão!?): Enquanto as mulheres são relegadas ao ostracismo, os homens recebem uma segunda chance. Só lembrar que a Shueisha possui dois autores que cometeram crimes no passado. O Shimabukuro vivia tendo "encontros compensados" com menores de idade, inclusive na época em que ele era processado na Justiça e continuou tendo mangás publicados. O eterno autor de Samurai X, Nobuhiro Watsuki fez algo pior: Consumia material pornográfico infantil, com suspeitas de distribuir esse material para outras pessoas. E continua publicando normalmente (e a imprensa japonesa fez o favor pra ele de "retalhar" a notícia da prisão, que hoje é difícil de ser encontrada).
Depois dizem que a "lacração" é um fenômeno exclusivamente ocidental. Sempre existiu. Infelizmente aqui a violência só mudou de lado. E todos ouvimos desde crianças aquela antiga frase que os adultos diziam e mesmo assim não assimilamos (talvez porque eles próprios nunca tenham assimilado): "a violência só gera…"
Isso não é lacração, não confunda as coisas, idols, seiyus Etc. No Japão sempre foi uma profissão onde escândalos não são permitidos e isso vai desde a ter um simples namorado(a).
Infelizmente a indústria do entretenimento do Japão impede a pessoa de ter uma vida privada, diferente do ocidente onde adoram escândalos envolvendo relacionamentos.
Isso é cancelamento por parte da sociedade japonesa.
Aqui na minha casa nós torcemos e comemoramos por cada vitória desta mulher. Obrigado pelo artigo, vocês são mesmo um portal único hoje em dia.
Ótimo artigo.
Queria que vocês fizesse um artigo comentando sobre as disputas pelos direitos de Dragon Ball.
Tem razão. Confundi os termos da moda.
Sim, por isso eu disse que sempre existiu.
Dá um prazer enorme saber que Aya Hirano superou aquela fase difícil e não desistiu.
Eu só acho que o regresso dela começou bem antes. foi de não ter jogado a toalha mediante a pressão destes "fãs". E que trabalho impecável ela entrega aos seus personagens.
Não nego de forma alguma que foi injusto o que aconteceu com ela. Mas, ao mesmo tempo, todo mundo que acompanha a cultura japonesa sabe da existência deste problema do fanatismo doentio dos japoneses. Até mesmo, animês abordam este problema do fanatismo doentio que os fans japoneses tem com as seiyuus. Então, no momento em que ela aceitou entrar para este mundo, ela tinha que estar preparada. A verdade é que ela errou em ser muito aberta sobre sua vida sexual para os seus fans. Eu diria que ela sabia o que iria acontecer, mas talvez ela tenha calculado mal o estrago que sua honestidade iria provocar com os seus fans.
Fico feliz em saber que ela esta dando a volta por cima. Não sabia que era ela que estava atuando como Lilith em One Piece. Espero que ela volte com tudo agora.
Nossa, como sociedade japonesa é idiota nisso. Mulher foi penalizada por relatar sua vida sexual com um HOMEM, sério isso?
Pra nós é estranho, mas é a forma como as coisas funcionam lá, não que concorde, uma vez que a indústria Pop japonesa tem seus problemas como essa falta equilíbrio dos fãs em lidar com a vida privada de seus ídolo, muito carregado também pela troca do produto pelo público alvo e o que ele oferece, entretanto é o preço que se paga pela fama… Fora que ao menos eles tentam dar/cobram uma imagem mais inocente, pura e respeitosa dos artistas, diferente do ocidente em que quanto mais falta de pudor e exposição da vida íntima melhor.
Você fez parecer que isso está relacionado a lacração, o que não é verdade.
A lacração como militância não deixa de ser uma reação a certos costumes que sempre existiram, mas com a mesma vocação para a violência.
Não sei onde exatamente você quer chegar, pra mim isso é um caso simples de uma indústria abusiva, onde a lacração/militância se encaixa ? Eu devo ser burro ou você tá viajando nas ideais e ficou confusa.
Eu também não sei onde você quer chegar. Não estou tentando insinuar nada mais profundo do que o simples fato de que as pessoas sempre foram violentas, o que inclui a violência no campo das ideias/costumes, no Ocidente ou no Oriente, o que faz com que outras pessoas tentem devolver uma violência com outra violência. Eu só não acho que exista violência melhor que outra. Simples assim.
E por que não disse isso logo, os outros comentários ficaram confusos demais.
Sempre acontece quando tento reduzir o número de palavras numa só expressão popular. Nunca fui boa com gírias.
Percebi, você escreve formal demais, o que complica o entendimento das ideias.
Triste de saber. Crítica construtiva justa. Obrigada. Necessária uma mea culpa pela negligência no desenvolvimento da autoexpressão. Se a mensagem não chega, o problema está com quem emite.
Valeu, novamente formal demais, mas dessa eu entendi.