A convite da Remow, o JBox teve a oportunidade de entrevistar os atores de voz Kazuki Ura (Shiki Ichinose), Hiroshi Kamiya (Naito Mudano) e Koutaro Nishiyama (Jin Kougasaki), que compõem o elenco principal de TOUGEN ANKI.

O animê adaptará o mangá de Yura Urushibara, que é seriado na revista Weekly Shōnen Champion, da editora AKITASHOTEN, desde 2020, reunindo 20 volumes até o momento. A previsão de estreia é para 2025.

Na trama, certos humanos fazem parte de linhagens sobrenaturais, os Oni e os Momotaro — e as duas linhagens estão em conflito. Shiki descobre repentinamente sobre sua herança Oni após ser atacado por um Momotaro.

 

O enredo de TOUGEN ANKI usa como base o Conto de Momotaro para criar a rivalidade entre os Oni e os Momotaro. Como vocês enxergam a relação do conto com a história do animê?

imagem: ilustração de personagem do shiki de tougen anki.

Divulgação: Yura Urushibara (AKITASHOTEN) /TOUGEN ANKI PROJECT.

Kazuki Ura: No Japão, temos uma percepção que os oni são associados com o mal, inimigos comuns, vilões fáceis de entender, então eu nunca pensei no cenário oposto.

Pelo contrário, o termo “oni” está enraizado na ideia de mal, a menos que seja explicado como um bom oni, então achei original fazer um oni o personagem principal, explicando a situação.

Então, eu pensei que tipo de história seria e, também, em qual posição os Momotaro estariam. Os Momotaro trabalham pelo bem da humanidade, mas isso não implica que eles devem punir unilateralmente os Oni.

Nesse sentido, me faz pensar. Acho que muitas pessoas têm uma visão preto-no-branco de mal e justiça, mas tudo bem ter uma área cinza. É por causa dessa área cinza que muitas histórias são criadas, e esse trabalho me fez perceber o quanto a perspectiva pode mudar só ao entender o cerne de uma pessoa e ser gentil com os outros. Acho que é uma obra que faz você querer saber mais sobre as pessoas.

Koutaro Nishiyama: Para esses protagonistas, eles são “vilões”, mas quando você aprende sobre o passado e o que eles lutam, pelo lado dos Momotaro, você pensa que os Momotaro também não são necessariamente o “lado bonzinho”. Mostra que todos estão lutando por algo que precisam proteger e que há motivos para lutar. Então acho que há um entendimento mútuo entre eles. Acho que seria interessante que os espectadores se aprofundem nos sentimentos e histórias de cada personagem.

Hiroshi Kamiya: Eu tenho a impressão que o Conto de Momotaro é perfeito para isso, já que é um dos mais conhecidos no Japão.

A história não é só feita de termos caros aos japoneses — Momotaro, oni, e tal — mas as roupas dos personagens são ideais para cosplay. O design é simples e bem montado. Se você consegue desenhar um personagem, acho que consegue desenhar todos. Quando as barreiras da participação são diminuídas, criadores de fanarts e cosplayers podem participar mais fácil. Acho que essa obra vai abrir bastante espaço para essas coisas.

 

Como as personalidades dos personagens afetam a atuação? Shiki tem uma atitude mais bruta, enquanto Jin é mais racional. Essa diferença se reflete também nas vozes?

Kazuki: O Shiki pode ser grosseiro, mas ele é uma criança de inocência pura e sentimentos e palavras verdadeiros. Acho que isso é uma parte da criança que perdemos ao crescer, então o invejo por manter essa “infantilidade”, e vejo ele como um personagem que puxa os outros para perto dele.

Ao fazer esse papel, eu valorizo a parte “criança”, não a infantilidade. Para mostrar que ele verdadeiramente pensa do “jeito criança”, eu tento prestar atenção ao máximo nas crianças que vejo em parques e em outros lugares, para ter pistas de como elas falam com os outros e como agem. Eu, na verdade, tentei olhar nos olhos dos outros e dizer o que penso quando conversava. Eu fiz esse papel ciente de manter o senso de inocência e pureza.

Koutaro: Espero chegar a uma postura serena, então vai ser bom se eu conseguir soar relaxado. Enquanto o Shiki é mais animado e tem uma imagem de respiração dura, pro Jin, mesmo se os sentimentos verdadeiros forem diferentes, eu acho que seria melhor se ele parecesse calmo e se expressasse pela respiração, até em contraste com as emoções internas. Eu pretendo sempre falar de forma calma e serena.

imagem: ilustração de personagem do jin de tougen anki.

Divulgação: Yura Urushibara (AKITASHOTEN) /TOUGEN ANKI PROJECT.

Koutaro, na sua opinião, o que faz a relação entre os protagonistas, tão diferentes entre si, funcionar? A coincidência de ambos terem pais Momotaro ajuda nisso?

Koutaro: Acho que é o poder do que cada um acredita. Os motivos para se unirem na academia Rasetsu são opostos, mas o poder da crença de que podem se sacrificar por algo, a habilidade do Shiki de converter essa crença em palavras, e a do Jin em aceitar essa crença, eu acho que é isso que une eles.

Eles podem se aceitar mais e mais, e conforme a história anda, acho que vai ser interessante ver eles ficarem mais amigos.

 

Hiroshi, os Oni em TOUGEN ANKI, assim como no Conto de Momotaro, são considerados o mal a ser derrotado e até mesmo têm habilidades que remetem a um aspecto mais vilanesco. Como você enxerga a discrepância de ter essa raça no papel principal da história?

Hiroshi: Já que virtudes não são necessariamente endossadas e nem vícios condenados, é difícil criar uma história onde o lado justo é totalmente bom e os vilões são totalmente maus.

Nesse contexto, enquanto os Momotaro são reconhecidos por estarem do lado da justiça e os oni como aqueles que devem ser derrotados, os oni também têm seu lado. Apesar dos Momotaro serem mostrado como quem vence oni como “arautos da justiça”, acho que é uma questão de perspectiva, seja dos Momotaro ou dos oni, já que os dois lados têm suas concepções de justiça. Dessa vez, focar na visão dos oni pode criar um novo entendimento para quem conhece a história do Momotaro desde criança.

 

imagem: ilustração de personagem naito de tougen anki.

Divulgação: Yura Urushibara (AKITASHOTEN) /TOUGEN ANKI PROJECT.

O Naito, como um instrutor tão próximo dos personagens principais, acaba sendo também um tipo de protagonista da história. Como você vê a importância do trabalho dele na mediação dos personagens?

Hiroshi: Naito Mudano pode ser visto como um lutador do lado dos oni, na mira da Organização Momotaro, pela perspectiva dos demônios, então ele precisa aperfeiçoar suas habilidades para lidar com essa ameaça. Ele representa a ideologia oni, em contraste a Shiki Ichinose, que viveu confortavelmente até agora.

Em uma posição superior a Shiki e Jin, ele tem poder físico e habilidades mentais incríveis. Enquanto ele está acima dos dois em todos os aspectos, por outro lado, ele também aprende com eles pelas batalhas, o que o fortalece mais ainda.

Durante a pandemia de COVID-19, por um tempo, cada um de nós tinha que se virar sozinho. Nessa época, me dei conta do que os outros estavam fazendo enquanto entregava minha performance. O que fazíamos era mais próximo a um desafio solo por tempo em uma corrida de carros.

Contudo, agora as regras mudaram, então todos são chamados para gravar juntos, mais próximos a uma corrida de carros.

Resumindo, estou correndo enquanto outros também estão, todos tentando melhorar. É só uma analogia, mas, numa situação assim, é importante lembrar o caminho de cada um enquanto fazemos sozinhos. Até então, dava para pisar no acelerador com tudo e ignorar os outros, mas agora vira uma questão de se as suas técnicas vão funcionar na corrida.

Conforme avançamos, temos nossas entregas enquanto consideramos os limites e técnicas de direção dos outros. Sobre o elenco de TOUGEN ANKI, o que sentimos dos outros vai se refletir no nosso desempenho, então não gosto muito de ficar mostrando minhas habilidades ou coisa assim. Se eles dirigirem assim, talvez eu reaja da mesma forma. Claro, o diretor e o diretor de som vão nos guiar de modo que nossos percursos de corrida não se choquem, e vamos seguir pensando em maneiras de dirigir mais rápido.

Tivemos que imaginar cenários assim até há pouco, mas agora que trabalhamos juntos no estúdio, espero que minhas habilidades como um ator de voz e meu personagem possa crescer enquanto experienciam isso tudo.


Reportagem: Talles “Teke” Queiroz | Tradução: Laura Gassert (EN-PT) | Edição: Rafael Jiback e Laura Gassert