Aproveitando a boa onda em que o Rei dos Monstros anda surfando ultimamente, a editora Conrad traz para o Brasil a HQ Godzilla — A Guerra de Meio Século, um compilado das 5 edições publicadas pela editora americana IDW no já distante ano de 2013.
Criada por James Stokoe, artista responsável pelo roteiro, pela arte e também pela colorização da obra, Godzilla — A Guerra de Meio Século é bem fiel ao seu título, mostrando ao público uma verdadeira batalha de 48 anos entre Godzilla e os que sofrem pelas consequências de seus atos. Contada em flashback pela visão do tenente Ota Murakami, ficamos sabendo como foi a primeira vez que Godzilla pisou no Japão, em 1954, e sua trajetória contínua de terror até a virada para um novo milênio (2002).
Para tanto, Stokoe mostra recursos narrativos muito interessantes. O primeiro deles é tirar o foco só do Japão: aqui, Godzilla detona também o sudeste asiático, durante a Guerra do Vietnã no final dos anos 1960; faz de Acra, capital de Gana, um verdadeiro simulacro da ilha de monstros dos filmes da era Showa durante os anos 1970; e também a Índia dos anos 1980, quando um certo aparato tecnológico começa a piorar ainda mais a situação.
Ao longo dos cinco capítulos, diversas referências e reverências aos filmes de Godzilla são jogadas na história para a trama ganhar mais coesão e, principalmente, fanservice. A atuação da F.A.M. (Força AntiMegalossauro) remonta ao filme Godzilla vs. MechaGodzilla (2002), ao mesmo tempo em que homenageia todas as outras organizações que já tentaram dar cabo do bichão ao longo das décadas. Arquétipos de heróis e vilões também são bem estilizados para remeter às películas. E por falar em filme: o vilão da história, Dr. Deverich, é a junção dos sobrenomes dos cineastas Dean Devlin e Roland Emmerich, responsáveis pelo execrável Godzilla de 1998 protagonizado por Matthew Brodderick — cujas únicas coisas que prestam são a trilha sonora e quando o filme finalmente acabou e todo mundo pode ir embora do cinema.
Jason Stokoe se mostra um verdadeiro nerd na profundidade que quis imprimir ao seu trabalho. Exemplo: decidiu transformar a onomatopeia do rugido de Godzilla, tradicionalmente grafada como “Skreeeonk” nos quadrinhos, em uma onda sonora que ele captou com um osciloscópio enquanto assistia aos filmes misturada a grafismos. Além disso, homenageia o próprio pai com o personagem Dr. Randall, misturando ao visual de seu coroa o modo de agir Doutor Scotty, de Jornada nas Estrelas, outro clássico sci-fi.
O nível de detalhamento da arte de Stokoe impressiona e faz lembrar os bons tempos da editora Dark Horse dos anos 1990, que publicava as histórias do monstrão e também de The Big Guy and Rusty the Boy Robot, obra de Frank Miller com desenhos nada menos que espetaculares de Geof Darrow. A forma realista como Jason retrata a Guerra do Vietnã, com toda sorte de veículos e túneis inacessíveis criados pelos vietcongues virando pó em segundos, faz pensar em como seria quase impossível transferir isso para uma versão live-action sem gastar um zilhão de dólares.
As cores também são um atrativo à parte, com tons mais puxados para o ocre e para o carmesim, parecendo que tudo é um céu de sangue sob um pôr do sol que nunca se põe. As batalhas entre os monstros se tornam ainda mais impactantes graças a esse recurso estético.
Sem dar spoiler para não estragar a diversão de ninguém, a forma como diversos monstros — e, por que não (?), heróis — clássicos foram colocados durante a história aciona a nostalgia de quem acompanhou os filmes de Godzilla na era Showa e em grande parte da era Heisei também, soando além de uma grande homenagem, mas como porta de entrada de interesse para quem porventura ainda não assistiu. O final da história traz muitas lembranças, também — mas aí você vai ter que ler.
Godzilla — A Guerra de Meio Século é um gibi extremamente divertido e que remonta aos bons tempos de matiné do monstrão, em que eu ficava assistindo no Cinema em Casa, do SBT. Para mim, isso é motivo mais do que suficiente para você dar uma chance.
Galeria de fotos
Confira alguns registros da edição nacional da Conrad navegando no álbum abaixo:
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Essa resenha foi feita em parte com base na edição cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora Pipoca e Nanquim, que disponibilizou a obra ao JBox.
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