Histórias sobre assassinos em série na ficção normalmente são retratadas de forma bastante gráfica, principalmente quando são casos em que vemos as mortes seguirem um padrão um tanto mais, digamos, artístico. Museum: O Assassino que Ri na Chuva é um desses exemplos que abusa bastante da parte gráfica, porém no caso dele não parece ser algo que vai agradar todo tipo de leitor, mesmo os que gostem dessa abordagem.

No início de Museum, somos apresentados a um estranho assassinato onde uma mulher foi morta por cachorros famintos e, no vômito de um deles, foi encontrado um bilhete que falava que a sentença dela seria virar comida de cachorro, revelando para a polícia que foi possivelmente uma morte bastante calculada.

Um dos policiais envolvido na investigação do caso é Hisashi Sawamura, que foi um dos primeiros a apontar algo estranho no caso, um tipo de “vigilantismo”. Ao decorrer que mais mortes acontecem, a situação se torna bastante preocupante, mas o ápice dessa preocupação chega quando Sawamura descobre que, devido à conexão entre as mortes, sua esposa e filho estão correndo perigo.

imagem: um homem usando uma máscara de sapo segura uma serra ensanguentada. Enquanto isso, um homem grita desesperado para que ele pare em cena do mangá Museum.

Foto: Teke/JBox.

Durante o primeiro volume, somos apresentados aos momentos iniciais da investigação, porém, ao mesmo tempo, os assassinatos estão acontecendo em um ritmo bem acelerado — algo que, sim, aumenta o senso de urgência da história, só que simultaneamente parece uma medida desesperada de conquistar os leitores.

Talvez seja questão de preferência, mas normalmente o que me atrai mais em histórias de assassinatos não são eles em si, mas sim os momentos de investigação. Ou, caso seja o outro lado, de planejamento das mortes. Então ter várias mortes só jogadas na cara do leitor, sem espaço pra nenhum desses dois fatores, não é muito atrativo.

Ainda existe um reforço de que muitas cenas são só pelo impacto de “uau, que história adulta!” quando uma das vítimas, antes de ser abordada pelo assassino, aparece se masturbando. Ou quando, logo após essa vítima ser assassinada, o corpo dela é descoberto porque um casal decidiu encontrar um local escondido para transar. Nem chega a ser um problema com “ecchi desnecessário” — até por que as cenas são escritas de maneira bem mundanas —, mas fica óbvio que é só uma tentativa de aumentar o impacto geral.

Apesar desses pontos, Museum ainda consegue criar um suspense que funciona. A partir do momento que Sawamura descobre que sua família corre risco de vida, o desespero do investigador fica bastante palpável, fazendo com que suas atitudes se tornem cada vez mais irracionais. Desde o início da história, já é palpável que ele não chega a ser um policial tão frio, já que é repreendido ainda no início da investigação por tomar conclusões precipitadas. Porém ainda assim é possível notar que, quando as coisas ficaram mais pessoais, sua razão praticamente desaparece.

Essa demonstração da personalidade de Sawamura também condiz bem com o fato dele ter sido deixado por sua esposa por se preocupar demais com o trabalho. Além dos flashbacks que atormentam a mente do policial, uma conversa com uma amiga da esposa durante a investigação deixa bastante claro que sua cabeça está afundada demais na profissão, fazendo com que a relação com a família tenha entrado em colapso. Tudo isso fica ainda mais evidente quando consideramos que o assassino, por muitas vezes, usa o meio familiar para escolher suas punições para cada vítima, estabelecendo bem os paralelos que a história quer apresentar.

imagem: Sawamura, um policial, tem um pesadelo com sua esposa e filho. No sonho, o investigador reforça que precisa trabalhar e a mulher fala que se ele é um detetive, ele que consiga pegá-los.

Foto: Teke/JBox.

A ideia da punição para as pessoas, inclusive, inicialmente é interessante, já que demonstra que o assassino parece ter motivações bem claras, porém, com as revelações do final do primeiro volume, o sentimento instigante meio que se perde.

Claro, o restante da história deve esclarecer melhor essa questão, mas a impressão que fica é apenas a de uma psicopatia feita da maneira mais capenga possível, o que não passa um sentimento de confiança que convença a acompanhar o resto do roteiro. O que entristece mais é que o conceito apresentado até levanta curiosidade, apesar de não ser novo — o de mortes tratadas como obras de arte —, só que os exemplos apresentados fazem um trabalho tão ruim em convencer o leitor desse aspecto artístico que fica difícil acreditar em uma boa sequência para a narrativa.

Visualmente, o mangá consegue transmitir bem que é uma história com teor mais realista, focando bastante nas expressões faciais e corporais mais cruas durante discussões e conversas.

Esse realismo contrasta bem com o absurdo dos assassinatos, os tornando em situações credíveis. Por outro lado, existe uma tentativa em criar um aspecto de terror através da imagética do assassino usar uma máscara de sapo, buscando estabelecer uma estranheza no meio daquilo tudo, o que acaba não funcionando muito bem.

As cenas com foco nesse aspecto do assassino não surtem a perturbação necessária para o medo, algo que a história também falha durante a representação das mortes mais sangrentas. Inclusive, são justamente os corpos que não têm ou que têm pouco sangue visível que conseguem passar melhor a impressão de que foram mortos por um assassino doentio.

Museum: O Assassino que Ri na Chuva, em seu 1º  volume, é um mangá que se esforça excessivamente para conquistar o leitor, o que faz com que ele se atropele demais e não cative o bastante. Existem ideias que poderiam ser melhor aproveitadas com mais calma, principalmente as questões investigativas, e já fica claro nesse primeiro terço da história de que a proposta não é essa. A violência banalizada pode até convencer uma parcela do público, contudo, quem estiver atrás de uma história intrigante e mais significativa, com certeza vai sair se decepcionar com a experiência.


Galeria de fotos

Confira no álbum abaixo alguns registros da edição brasileira de Museum:


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imagem: capa de museum o assassino ri na chuva.

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Essa resenha foi feita em parte com base na edição cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora JBC, que disponibilizou o primeiro volume da obra ao JBox.


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