A editora Pipoca & Nanquim lançou este ano FIRE!, clássico mangá shoujo de Hideko Mizuno, trama com muita influência do rock da época.

Antes de entrar no conteúdo da obra em si, é necessário abordar Mizuno, uma das poucas artistas mulheres na indústria shoujo (e de mangás num geral) nas décadas de 1950 e 1960 — as mulheres só entram em peso na indústria de quadrinhos no Japão a partir dos anos 70.

A artista começou a criar mangás ainda criança, influenciada pelas obras de Osamu Tezuka. Aos quinze anos iniciou suas publicações na revista Shoujo Club, e aos dezoito trabalhava ao lado e morava com Shotaro Ishinomori (Kamen Rider, Cyborg 009) e Fujio Akatsuka (Osomatsu-kun, Tensai Bakabon) — eles usavam o pseudônimo U. Mia na Shoujo Club. Mizuno, assim como os outros dois, também trabalhou como assistente de Tezuka.

Com relação a FIRE!, o mangá começou a ser publicado em 1969 e foi um dos primeiros shoujo pós-guerra com protagonista masculino. O mangá rendeu à autora o prêmio Shogakukan Manga Award, em 1970. A publicação foi encerrada em 1971, com 4 volumes.

imagem: cena de fire apresentando a banda fire.

Foto: Laura Gassert/JBox.

A história gira em torno de Aaron Browning (inspirado em Scott Walker, da banda The Walker Brothers), um adolescente americano criado por uma mãe solo que acaba parando em um centro de detenção de jovens equivocadamente, após o delinquente Fire Wolf roubar um presente para Aaron dar à sua mãe.

Na detenção, Aaron descobre como o mundo pode ser duro, cruel e injusto, mas também experimenta o sabor da verdadeira liberdade com Fire Wolf, que lhe dá seu violão. Quando finalmente é solto, o protagonista tenta levar uma vida digna trabalhando em uma fábrica em Detroit, até conhecer o guitarrista John, com quem passa a tentar viver da música. Novos membros se juntam e, assim, é formada a banda de rock Fire.

Aaron funciona por vezes como um vidro transparente em que todos podem enxergar seus sentimentos; um personagem “puro”, mas com defeitos e momentos de fragilidade, o que o torna humano para quem acompanha sua trajetória nessa história, que funciona em um formato similar a Daisy Jones & the Six, uma ficção histórica musical ambientada também na década de 1960 (o livro tem uma adaptação em série no Prime Video).

imagem: cena de fire.

Foto: Laura Gassert/JBox.

A trajetória no grupo de rock traz à vida do protagonista diversos encontros e despedidas, entre amigos e paixões. As mulheres que passam pela vida dele funcionam como arcos de amadurecimento: cada uma o molda, seja como forma de provação ou superação. FIRE! é intenso, e, no bom sentido, não deixa tempo para o leitor respirar, com um protagonista que leva uma vida cheia de reviravoltas, injustiças e maldades do destino ao longo da trama.

O que começa para Aaron como um interesse que nasceu por influência de um ídolo, gradualmente se torna a única vida possível para o rapaz. O desejo de reproduzir os ideais de Fire Wolf consomem o jovem cada vez mais, transformando a sua música em um instrumento para uma revolução em um período tão agitado para a juventude dos Estados Unidos.

Hideko Mizuno também não poupa o leitor de temas políticos, abordando de forma crítica questões como racismo, discriminação, supremacia racial e violência policial. Em tempos que muitos consumidores de animês e mangás batem na tecla de que não há política em mangás, a publicação de FIRE! vem em um ótimo momento para mostrar (literalmente desenhando) que muitas obras não são isentas de críticas à sociedade.

imagem: cena que não tem nada tão explícito mas aponta pra uma cena de sexo entre aaron e uma garota.

Foto: Laura Gassert/JBox.

A edição brasileira segue um relançamento de 2023 da obra no Japão, que recompila a trama em dois volumes. Com tons vibrantes e coloridos, a capa remente ao rock psicodélico que emergiu nos anos 1960, em contraste com as capas em cores preto e branco da edição original japonesa. A tradução de Drik Sada é capaz de transpor as emoções verbalizadas por Aaron nas letras de suas músicas, envolvendo o leitor nessa montanha-russa até o fim.

FIRE! é uma boa pedida para amantes de rock, de quadrinhos e também para qualquer um que queira uma história empolgante e envolvente, capaz de ficar na mente como uma boa música. É também de grane importância que uma obra como essa seja publicada no Brasil, inclusive até mesmo antes de sair em mercados internacionais de quadrinhos maiores que o nosso, como França e EUA.


Galeria de fotos

Confira nos álbuns abaixo alguns registros da edição nacional de Fire! pela Pipoca e Nanquim:

 

Volume 1

 

Volume 2

 

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imagem: capa do volume 1 de fire de hideko mizuno.

Volume 1 | Volume 2


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Essa resenha foi feita com base na edição cedida como material de divulgação para a imprensa pela editora Pipoca & Nanquim, que disponibilizou a obra completa ao JBox.


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