Não diretamente a ver com o animê dessa crítica, mas circulando esse assunto. Talvez por hoje a maioria de nós sermos muito conectados ao ambiente online, especialmente aos de redes sociais, há a impressão de que “sexo” e “pornografia” se tornaram um assunto que, paradoxalmente, é muito discutido, mas também é tabu.
Ao mesmo tempo em que crescem movimentos onde pessoas pedem por botões de pular em cenas de nudismo e sexo em serviços de streaming, em que um filme como Pobres Criaturas, com a Emma Stone, é taxado como “sexualmente explícito” (mesmo sem qualquer cena de sexo explícito), em que fãs da série de quadrinhos, e de sua adaptação para TV, Heartstopper reclamam sobre como mangás BL “fetichizam” relacionamentos entre homens, e de que todo um movimento online ocorre para discutir sobre sexo ser ou não “essencial” para se contar uma história, também são constantes alegações de que jovens e adolescentes, hoje em dia, estão “viciados em pornografia”. Ué?
Caretice. Julgo que não há outro termo que melhor defina essa confusão. E talvez seja por surgir, justamente, nesse momento online onde a caretice está tão em evidência que DAN DA DAN seja tão interessante. Porque a história mesmo não é lá essas coisas. Mas só de ser mais “transgressora” (pros padrões atuais), acaba impressionando e se elevando para acima da média.
O animê é uma adaptação do mangá shounen de Yukinobu Tatsu, publicado na Jump Comics+, feito pelo prestigiado estúdio Science Saru (dos espetaculares Devilman: Crybaby e Eizouken), com direção de Fuuga Yamashiro e roteiro de Hiroshi Seko.
Na trama, dois estudantes do Ensino Médio, a Momo Ayase e o Ken Takakura (cujo apelido é Okarun) criam uma amizade por motivos paranormais. Momo é de uma família de médiuns, mas Okarun não acredita em espíritos, youkais ou criaturas do tipo. Enquanto Okarun é fanático por ufologia, mas Momo não acredita em alienígenas. Certa noite, eles se desafiam a irem, cada um, num local onde podem encontrar um espírito malvado e podem ter contato com extraterrestres. Calha de Okarun ser possuído por um espírito e de Momo ser abduzida por aliens. Isso se desenrola com Momo despertando poderes psíquicos e os utilizando para enfrentar os invasores do espaço, e também ajudando ao Okarun a controlar o espírito dentro dele, que permite que ele lute contra esses inimigos.
Só que tudo isso tem uma consequência das brabas: o espírito que está dentro do corpo do Okarun, numa espécie de maldição para juntá-los, rouba… seu pênis e seus testículos. Esse evento em comum, e o desejo de recuperar o que foi tomado do Okarun, fortalecem os laços da dupla, que, embora ainda não admitam, sentem um pelo outro mais do que sentimentos de amizade. Alienígenas e espíritos com visuais e poderes elaborados surgem, uma vovó “Mestre Kame” gostosa, e um terceiro elemento para trazer tensão ao relacionamento, lutas bem animadas aparecem, e *Pow!*, temos o nosso animê.
Em termos de história, de enredo, ao menos nessa primeira leva de episódios, DAN DA DAN não chega a trazer muita coisa. É uma protagonista bad girl tsundere com um protagonista nerd atrapalhado formando um casal bonitinho que ainda não sabe direito como se aceitar como casal. A cada ciclo narrativo, eles encontram algum inimigo diferente e precisam vencê-lo. O trabalho luxuoso do Science Saru torna essa simplicidade narrativa algo opulente de assistir. Tudo em DAN DA DAN é lindo! Quando surgem os aliens ou espíritos, o modo como os cenários são elaborados e como as brigas se desenvolvem é deslumbrante.
E se ficasse só nessa, DAN DA DAN seria o “animê de obra da Jump que injetaram bastante empenho e ficou legal de assistir” do ano. Já seria o suficiente. Jujutsu Kaisen virou uma febre. Mas volta o que disse no início do texto. Em tempos onde “sexo” e “pornografia” são assuntos tão tabus, o fato dessa história ter, justamente, no sexo, no que é considerado pornográfico, no ecchi, um fio condutor, torna tudo muito mais interessante.
Literalmente, é uma história sobre eles recuperarem o sexo do Okarun. Os personagens fazem piada com isso o tempo todo. Eles falam sobre pênis, sobre testículos. Há inúmeras passagens onde o roteiro brinca e ri com o desconforto de situações de intimidade sexual. Ao fim do episódio 9, os personagens, depois de determinados eventos numa luta, são encontrados sem roupa na escola, e precisam lidar com isso no episódio seguinte. Até os vilões trazem, de alguma maneira, alguma piscadela erótica neles.
DAN DA DAN é um animê que pega a caretice sobre fingir que jovens, cheios de hormônios, não se interessam por sexo e joga no ventilador. Explicita o quanto isso pode ser ridículo. E por sair logo quando tanta gente têm se esforçado para tentar podar esses assuntos, acaba sendo bem mais transgressor do que talvez fosse planejado pra ser.
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DAN DA DAN é exibido no Brasil pela Crunchyroll (com uma dublagem e português feita pelo estúdio Som de Vera Cruz) e pela Netflix (com outra dublagem em português, essa feita pelo estúdio MGE Studios). A Crunchyroll fornece um acesso de imprensa ao JBox.
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