Não vou assistir a mais nenhum animê deste ano! Ano esse que foi meio atípico. 2024 não rendeu tantos “novos clássicos” quanto em momentos anteriores dessa década. O maior ouro, pra mim, seguiu em continuações, como em Frieren e a Jornada Para o Além, Diários de uma Apotecária e Shangri-la Frontier, todos presentes na lista de melhores do ano passado.

As exceções são os dois que ocupam as posições mais altas, e que ocuparam minha mente por meses e meses. Mas o resto da lista é formado por obras que são muito bacanas, divertidas, que têm seu apelo, charme, e valeram como ótimos entretenimentos do início ao fim. Outras que não aparecerão aqui, pois bateram na trave, como Magilumiere: Companhia Das Garotas Mágicas e Os Dias de Folga do Vilão, também valem a atenção. E o editor do site fez questão de frisar que a ausência do remake de Ranma 1/2 é criminosa (dei bobeira e ainda não o assisti, mas já está na minha watchlist).

Uzumaki, Solo Leveling, A Condition Called Love e Rick and Morty: the anime só apareceriam em uma lista de piores do ano.

Convido cada um de vocês, então, a opinar, discordar, selecionar também seus prediletos, ou aqueles que menos gostaram. Listas de melhores do ano servem para celebrar esses animês que pautam as temporadas, celebrar a experiência que é se transportar para outros mundos, que mesmo tão distantes e diferentes, podem ser tão próximos e parecidos com a realidade. Gostar de animê é um barato!


10. Dragon Ball Daima

(Yoshitaka Tashima, Aya Komaki | Toei Animation)

Um animê de Dragon Ball, em 2024, transformando os personagens em crianças, e iniciando uma aventura num cenário totalmente novo? Poderia ser a receita para uma bomba que desagradaria a todo tipo de fã, mas resultou em uma das séries mais simpáticas de toda a franquia. Vários dos temas preciosos ao Akira Toriyama ressurgem aqui: governos autoritários (e ridículos), divisões sociais injustas, e um punhado de desculpas para explorar mundos deslumbrantes, com criaturas intrigantes e criativas. Depois de Super, Dragon Ball Daima precisava ser bom assim, e que bom que é!

Disponível na Crunchyroll, na Netflix, na Max e na Claro Vídeo.


9. Metallic Rouge

(Motonobu Hori | Bones)

Shinichiro Watanabe é deus, e seu colaborador, Motobobu Hori, sabe disso. Tanto que Metallic Rouge soa como um primo de segundo grau de obras como Cowboy Bebop e Carole & Tuesday, por exemplo. Animê comemorativo de 25 anos do estúdio Bones, criação do veterano Yutaka Izubuchi, um dos principais nomes dessa indústria quando o assunto é mecha. Esse é um noir que toma seu tempo para contar a história de uma assassina de robôs imortais, mas com um plano de fundo político que debate sobre imigrantes, xenofobia, racismo e abuso trabalhista. É o que de melhor a ficção-científica faz: usar como motor narrativo temas tecnológicos que parecem fantásticos, mas que são mais próximos da realidade do que pensamos.

Disponível na Crunchyroll.


8. Train to the End of the World

(Tsutomu Mizushima, Fumihiko Suganuma | EMT Squared)

Precisamos de mais animês como Train to the End of the World, que não tem pudor nenhum em ser tão caótico quanto brilhante. A escalada entre as estações que as personagens percorrem em busca de sua amiga é a desculpa perfeita para explorar uma série de estímulos aos sentidos, com a insanidade de ideias daquele mundo bizarro aumentando e aumentando. Conforme as coisas se desenrolam, mais e mais pro grotesco, nos perguntarmos se aquilo realmente poderá retroceder. E não pôde. Impressionante uma animação tão colorida ser tão perturbadora.

Disponível na Crunchyroll.


7. Go! Go! Loser Rangers!

(Keiichi Sato | Yostar Pictures)

Talvez “versões The Boys” das coisas já estejam começando a enjoar, mas essa aqui sobre o mundo do tokusatsu, em especial de Sentai, funciona bem demais. Ao levar o protagonismo para um dos vilões, podemos observar como o tecido moral entre heróis é facilmente rasgável. Essa é uma história que não toma decisões narrativas fáceis, que não cai na armadilha de tentar tornar o que é mau bom, e que brinca o tempo todo com as matizes de cinza existentes nos personagens. Go! Go! Loser Rangers! é um festival de ironia afiada, mas com um sentimentalismo envolvido que o torna impagável.

Disponível na Disney+.


6. Minha Amiga Nokotan é um Cervo

(Shikanoko Nokonoko Koshitantan, Masashiko Ota | Wit Studio)

Animês de comédia com premissas dodóis assim correm o risco de perderem o gás conforme os episódios passam. Como manter engraçada uma mesma piada maluca durante uma temporada inteira? Nokotan responde isso. É hilário do início ao fim, com sequências e mais sequências de situações inacreditáveis envolvendo as protagonistas e aquele mundo inexplicável do qual elas fazem parte. O primeiro episódio é inesquecível, e o que se desenvolve a partir daí é de recolher o cérebro derretido do chão.

Disponível na Crunchyroll, na Anime Onegai e na Prime Video.


5. Kaiju N.° 8

(Shigeyuki Miya, Tomomi Kamiya | Production I.G)

A barra para o etarismo anda baixa. Kafka Hibino, com seus trinta e poucos anos, já é considerado velho para seguir a profissão de seus sonhos aqui: enfrentar kaijus, monstrengos que aparecem pelo Japão. Então, o rapaz tem que lutar o dobro para se destacar entre outros recrutas mais jovens nesse universo onde o perigo de morte é constante. Tudo isso enquanto ele mesmo se torna um… kaiju. Funciona como uma metáfora para como envelhecer num mundo que dá valor demais à juventude pode ser monstruoso, como uma crítica ao paramilitarismo capitalista, e como uma homenagem ao que de mais legal há no cinema e na TV japoneses quando o assunto são monstros bizarros. E ainda com uma das bad girls mais icônicas desses ano.

Disponível na Crunchyroll.


4. Mayonaka Punch

(Shu Honma | P.A. Works)

Talvez o animê que melhor leu a atualidade em que vivemos. Ao acompanhar a tentativa de retorno de uma influenciadora digital para a internet produzindo um canal com um grupo de vampirinhas divertidas, Mayonaka Punch entrega uma radiografia de como somos vampiros de atenção online, de como esse mundo de likes é bem mais fácil para abastados, e de que o que lemos nas telas pode ser tão perigoso quanto qualquer veneno. E tudo isso do jeito mais gracioso, leve e divertido possível. Mayopan!

Disponível na Crunchyroll.


3. DAN DA DAN

(Fuga Yamashiro | Science SARU)

DAN DA DAN é favorecido pelo momento careta em que estamos. A trama é o arroz com feijão já feito em outros shounens: adolescentes com super poderes se envolvem em aventuras sobrenaturais onde precisam enfrentar espíritos e extraterrestres. Mas o jeito sapeca e debochado com que desenvolvem isso é a cereja do bolo. É ecchi, erótico, sexual, tão cheio de hormônios quanto os personagens nele, no melhor sentido possível. Ele joga no ventilador o quanto a caretice pode ser ridícula. E por sair logo quando tanta gente têm se esforçado para tentar podar esses assuntos, acaba sendo bem mais transgressor do que talvez fosse planejado pra ser.

Disponível na Crunchyroll e na Netflix.


2. Dead Dead Demon’s Dededede Destruction

(Tomoyuki Kurokawa | Production +h.)

No fundo, essa é uma história sobre o quanto o amor pode ser egoísta. A chegada de uma nave espacial gigantesca que fica parada por anos no céu em Dededede pode ser lida com diferentes interpretações. Uma parábola à maneira como o Japão, ou como outros países do mundo, aos seus modos, lidam com imigrantes. Uma reflexão acerca da passividade com que o planeta lida com a iminente extinção devido às crescentes crises climáticas, preferindo colocar mais importância em passagens corriqueiras da vida que não terão mais quaisquer utilidades futuras do que enfrentar os reais problemas. Uma metáfora a respeito do quanto o capitalismo é agressivo ao povo e sobre a concentração da maioria do dinheiro na mão de tão pouca gente ser algo venenoso. Mas, é, nada disso supera o quanto desse animê é sobre o egoísmo do amor. Sobre o quanto nos tornamos passionais em prol daquela pessoa que queremos tanto. E talvez nada no mundo resuma melhor a adolescência do que isso.

Disponível na Crunchyroll.


1. Dungeon Meshi

(Yoshihiro Miyajima | Trigger)

O animê mais lindo desse ano. Em todos os sentidos. O maior mérito de Dungeon Meshi é fazer com que nós, espectadores, sintamos toda a cumplicidade que uma party de RPG medieval consegue desenvolver ao assistirmos o dia a dia desses personagens. Aqui, uma trupe de aventureiros precisa resgatar uma de suas integrantes, que ficou presa no final de uma masmorra. Porém, eles fazem isso de um jeito diferente: em vez de viajarem com um estoque grande de comida e se preocuparem com o peso, eles decidem caçar os monstros que encontram pelo caminho e cozinhá-los, algo considerado estranhíssimo naquele lugar. E que estúdio melhor para lidar com o estranho que o Trigger?

O diretor Yoshihiro Miyajima conduz a narrativa de modo leve, sem pressa, dando tempo nos episódios e no arco inteiro da temporada para que conheçamos aquele mundo, aqueles personagens, e nos afeiçoemos a tudo através dos pequenos momentos do dia a dia. E aí, quando os perigos mais intensos surgem para chacoalhar as coisas, realmente sintamos o impacto. Mais do que qualquer coisa que qualquer outro animê desse ano tenha feito, em Dungeon Meshi, eu senti vontade de estar com esses personagens, de fazer parte daquele mundo fantástico, de provar as comidas servidas ali. Cada momento nele é impecável. Da trilha sonora pontual utilizada toda vez em que uma comida nova é mostrada, até a atmosfera mais aterrorizante nos segmentos finais. Muitas obras saíram após Dungeon Meshi em 2024, mas nenhuma conseguiu o alcançar.

Disponível na Netflix.


Listas de 202020212022, 2023, e listão com os melhores da década de 2010.


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