Digimon “Dois Pontos”, que terminou recentemente, aparentava ser uma tentativa da Toei Animation de revitalizar a marca: ao mesmo tempo em que produziriam um novo animê utilizando os mesmos personagens dos anos 90, de maneira a familiarizar a molecada japonesa atual com eles para novas possibilidades de merchandising, a galera das antigas, que teve contato com Taichi, Agumon e companhia na infância, poderia se sentir representada.
No entanto, quando executaram a série, esqueceram elementos básicos que tornam um animê (ou qualquer narrativa) aceitável nesse caminho, o que resultou num produto que não agradou nem à audiência, nem à crítica. Felizmente, no novo animê da franquia, esses problemas, de início, parecem ter sido superados.
Digimon Ghost Game é a nona série animada de Digimon. A direção é dividida entre Mitsuka Masato (que também comandou o Dois Pontos) e Chioka Masatoshi (que já esteve envolvido em diferentes animês da Toei, sendo mais conhecido pelos primeiros 46 episódios de Dragon Ball Super). Já o roteiro é feito por Sogo Masashi (creditado em vários episódios de Fairy Tail).
Na história, num Japão futurista onde a tecnologia já é bem mais avançada e pessoas convivem diariamente com hologramas, uma série de ataques envolvendo fantasmas virtuais tem ocorrido, levantando comentários e suspeitas em redes sociais. Paralelo a isso, o menino Hiro Amanokawa, um estudante do ensino fundamental, descobre que seu pai, um cientista desaparecido, foi parar num lugar chamado Digimundo.
De lá, o velho mandou de presente pro moleque um aparelho intitulado digivice, o qual lhe permite enxergar e interagir com digimons, monstrinhos digitais que têm conseguido atravessar a barreira do Digimundo e estão sendo confundidos com hologramas fantasmas na Terra. Hiro, então, se alia a Gammamon, digimon enviado pelo seu pai, e a outras crianças e seus próprios digimons para lidar com toda essa situação, que pouco a pouco parece evoluir de ataques esporádicos isolados para uma trama bem maior entre os dois mundos.
Ghost Game já de início se mostra uma pedida bem mais interessante que o animê anterior da franquia. Ao assistir aos oito primeiros episódios, é possível perceber que há uma premissa bacana, um norte que a história pode seguir e que ocorre uma preocupação em fazer com que cada episódio seja recheado de elementos de puro entretenimento – coisa que todo bom animê infantil deve apresentar.
Percebo nele duas referências bem fortes de outros dois desenhos para a molecada: Digimon Tamers, da própria franquia, e GeGeGe no Kitaro, também da Toei Animation. No primeiro, porque há semelhanças na climatização, onde os digimons vêm do Digimundo à Terra, ocorrendo um paralelo entre suas aparições e o misticismo humano, e na paciência em desenvolver a história, que foca mais em trabalhar as personalidades das crianças e só então digievoluir os digimons quando realmente ocorrem mudanças. No segundo, pela estrutura “história de horror e mistério para crianças” dos episódios, que lá eram com yo-kais e aqui são com digimons.
E a mistura dessas referências com o universo construído para Ghost Game torna esse um dos animês mais interessantes dessa temporada. O Digimon Adventure lá no final dos anos 90, onde nossa interação com os meios digitais ainda eram bem limitadas, aproveitava essa falta de familiaridade para nos impressionar com a fantasia de um universo paralelo ao nosso feito com esses dados que pouco dominávamos. Conseguir evocar isso hoje em dia, em que uma parcela bem maior da população sequer traça limites entre o offline e o online, é um tiquinho mais difícil de convencer.
O que o argumento faz aqui é jogar a trama para o futuro, onde as tecnologias estão ainda mais desenvolvidas e as pessoas estão tão habituadas a isso que, inclusive, convivem com “digimons” no dia a dia: os hologramas que circulam livremente, têm imagem e som nítidos e são úteis ao todo.
Então, há a especulação: e se esse lado virtual que não é mais tão visto como virtual do mundo começasse a dar errado, como seria? E aqui entram os digimons (os de verdade), que começam a ultrapassar a barreira dimensional que separa a Terra do Digimundo e adicionam um elemento sobrenatural à equação.
Aí entra uma boa sacada que o roteiro tem nesse começo, pois para ilustrar o virtual, tão presente no dia a dia dos personagens, se tornando fantasmagórico, são utilizados digimons e ações que remetem a clichês bacanas do terror.
O primeiro episódio é com um digimon palhaço que rouba a juventude daqueles que ele encontra. O segundo, com um digimon múmia que se esconde na ala egípcia de um museu e prende as vítimas em suas bandagens. E segue com um que amaldiçoa coisas que aparecem em fotos, com um que prende as crianças em cabeças de abóbora no dia das bruxas, criaturas gigantes que remetem a kaijus, uma sereia grega no karaokê, pássaros hipnotizados por um corvo gigante, uma “procissão” com a própria morte e por aí vai.
Falando assim, o animê parece bem mais pesado do que é, mas a real é que os episódios e as resoluções são bem leves, bem-humorados e divertidos. Como o roteiro opta por desenvolver os protagonistas com mais empenho em vez de já liberar toda sorte de digievoluções logo de cara, acontece de a maioria das resoluções das tramas virem de raciocínios dos personagens, até de conversas sérias com os “digifantasmas”, não de grandes lutas. O que é uma escolha narrativa bem legal, ainda mais quando comparamos com o animê anterior, onde basicamente tudo girava em torno de batalhas intermináveis.
Somem também ao conjunto o fato de a animação ser bem estilosa e fluida, com cores legais, designs de personagens bem caprichados, o elenco ser enxuto e os três protagonistas serem recheados de charme, carisma e traços únicos de personalidade que diferenciam uns dos outros (o Hiro é mais estoico no início, mas já está crescendo mais em reações, o Gammamon é mais crianção e fofo, o Kiyoshirou super preocupado, a Jellymon extremamente tsundere, a Ruli mais debochada, porém bastante responsável, o Angoramon funciona como um sábio, etc.), e então temos um animê de Digimon muito divertido de assistir.
Digimon Ghost Game está numa boa fase para iniciantes, sejam fãs da franquia ou não. Os episódios ainda são mais fechados dentro deles próprios, o foco ainda é no carisma dos personagens e nos paralelos que podemos traçar com a nossa realidade.
É bem provável que, em breve, a série adquira os elementos aventurescos de outras temporadas, pois é quase certo que, em algum momento, as crianças irão encontrar o pai do Hiro no Digimundo. Enquanto isso não chega, temos aqui um animê para espectadores casuais muito bacana de acompanhar semanalmente.
Digimon Ghost Game é exibido simultaneamente do Japão com legendas pela Crunchyroll, e a plataforma concede ao JBox um acesso de imprensa.
O texto presente nesta resenha é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
Ghost Game tá muito bom. Estou lavando a alma depois de todo o tempo sabendo que não teria Digimon novo porque estavam ocupados com remake de Adventure. Ghost Game é uma brisa de ar fresco que eu tava precisando pra empolgar com a franquia de novo.
Enfim, estou adorando. Já até importei o Vital Bracelet (edição do anime). Vou ver se pego a figura do Gammamon também.
Ah, só um adendo: seria legal citar que o roteirista principal, Musashi Sogo, já trabalho em vários episódios de Pokémon Advanced Generation e Diamond & Pearl (inclusive, ele quem escreveu o infame episódio da batalha Ash vs Tobias). Como o último é bem popular, acho que a menção deixaria a coisa mais fácil pro pessoal que quer conhecer os outros trabalhos dele já que é mais ou menos a mesma demografia de Pokémon
Seria ótimo se fosse dublado.
Mais uma coisa de Digimon que NÃO vão dublar.
Tem um monte de coisa saindo dublada ultimamente, a essa altura ja deviam ter pelo menos anunciado que querem investir na volta do anime.
Fun, crunchy, net, hulu, não interessa, depois que finalizaram o tri e veio o last evo, eu achei que ia rola alguma coisa.
Só a fofura do Gammamon me faz pensar que ele é um dos Digimons mais fofos que já existiram.
Digimon Ghost Game mescla bem a seriedade de um anime adulto com resoluções que são feitas com o poder do diálogo entre os personagens e os Digimon vilão de cada episódio onde não há a morte do vilão de cada episódio, mas a criação de uma amizade com ele.
Hiro Amanokawa apesar de ser um adolescente mostra maturidade que um adulto possui, ao contrário de Gammamon, que é uma criança fofa.
Ruli e Kyoshirou são personagens que possuem muito em comum com os seus parceiros Angoramon e Jellymon. Ruli é curiosa, Angoramon é um sábio. Kyoshirou é medroso, Jellymon é uma Digimon cômico e ao mesmo tempo, encrenqueira.
Em 9 episódios, Digimon Ghost Game se mostra bem melhor do que todo o Reboot de Digimon Adventure em vários quesitos.
Só de ter trilha do Ko Otani ao invés do compositor que a Toei adotou e enfiou em Dois Pontos e CDZ, já valeria.
Tem seu diferencial que é bom, visual dos personagens mais simples, clima mais de terror, carisma, os digimons de cada um conversam com os outros membros (antes só falavam com seus parceiros o que achava estranho, parecia que apenas o digiescolhido o via), e por ai vai. Só to achando as vezes meio arrastado o drama pq, só agora no episodio 8 que a historia avançou um pouco com a explicação da materialização, fora que sinto falta das digievoluções (Ja me enjoei sendo apenas do principal ate agora).
Digimon Palhaço ? Toda a critica foi boa, mas o “palhaço” foi meio do nada já que o mesmo não lembra em nada um palhaço
Jogada de Marketing, vão lançar a digievolução dele no mesmo momento que lançarem os Dim cards dos dois
“de lá, o velho mandou pro moleque um aparelho chamado digivice” kkkk melhor parte
Estou gostando de Digimon Ghost Game. Alguns dos primeiros episódios são meio arrastados e parecidos, e as aparições das evolução do Gammamon são bem rápidas (até o momento), mas diferente de Adventures onde o foco era a aventura e ação, a premissa de Ghost Game é mais focado em mistério e um pouco de terror. Os personagens são bem carismáticos (adoro o Kiyoshiro! Ele é todo medroso e engraçado, mas muito responsável como líder de dormitório e proteger seus colegas) e o episódio 9 nos deu uma ótima explicação dos comportamento dos Digimon no mundo dos humanos, o que foi fantástico.
Só espero que não cometam os mesmos erros de Adventures 2020. Não que o anime anterior seja ruim, mas que poderia ser bem melhor (na minha opinião), pois tinha um bom lore, algumas ótimas batalhas (a grande maioria do Agumon e Taichi, é verdade), mas a necessidade de focar quase que religiosamente no Taichi, freou todo o seu real potencial. Sinceramente, quando vi que somente Gammamon teria quatro evoluções (inéditas), me deixou um pouco desanimada. Mas se os roteiristas souberem trabalhar a história e os personagens em si, esse tipo de coisa será o de menos.
Vim do futuro dizer que muitos vilões morreram em ghost game.