Em 1º de novembro de 2012…

imagem: recorte de notícia do lançamento da Crunchyroll em 2012
… a Crunchyroll chegava oficialmente ao Brasil, trazendo títulos como Naruto Shippuden, Sword Art Online, Bleach e vários simulcasts legendados em nosso idioma. Na época, a assinatura Premium custava R$9,99 e podia ser paga via cartão de crédito internacional ou Paypal — mas o plano gratuito permitia assistir aos animês simulcast com 1 semana de atraso (hoje já é diferente, as opções gratuitas são limitadas).

Na verdade, o serviço poderia ter até chegado por aqui um pouco antes já que, em 2011, a editora JBC anunciou uma parceria com a empresa. A editora, na época, estudava o mercado e existia a possibilidade de ser uma fornecedora de tradução de animês (como de fato foi com algumas séries exibidas na TV) mas, como podemos bem ver, optaram por seguir outro caminho.

De 2012 para cá, muita coisa mudou, então preparamos um texto especial para comentar um pouco do que rolou com o streaming por aqui nessa última década.

 

Oferta de séries e acessibilidade

Em sua chegada por aqui, a Crunchyroll possuía basicamente títulos legendados e opções limitadas de formas de pagamento. O catálogo brasileiro começou relativamente magro, com simulcasts com alguns dias de atraso (foi assim com Saint Seiya Omega por um tempo, por exemplo) — talvez tenha começado a ficar mais interessante a partir de 2013, com a aquisição de séries como One Piece.

Imagem: O bando de Luffy em One Piece.

Reprodução: Toei Animation.

Na chegada da Crunchyroll, o canal Sony Spin (ex-Animax) estava já se despedindo do público otaku (e do público num geral), e os animês também já não se encontravam com força na TV num geral (aberta ou paga). Assim, o streaming acabou sendo a possibilidade de assistir legalmente a animês que pareciam improváveis de chegarem por aqui (como o já citado One Piece).

Com o tempo, a oferta legendada aumentou bastante (o timing de postagem dos novos episódios também), e alguns títulos do serviço, como JoJo, começaram a se popularizar dentro do nicho, tornando o streaming mais atrativo para quem queria assistir aos novos lançamentos das temporadas japonesas.

Contudo, streamings sem foco em animê começaram a trazer séries dubladas — principalmente a Netflix, com o clássico Naruto dublado quase onipresente em seu catálogo e animês exclusivos/originais como The Seven Deadly Sins (2014–) — , então ir para a Crunchyroll também passou a ser sinônimo de não ter dublagem (exceto para séries cujas distribuidoras internacionais fizessem questão de dublar para outros meios, como derivados de Cavaleiros e Dragon Ball).

Mesmo oferecendo a versão legendada de títulos que já tinham dublagem, parcial ou completa por aqui, como Naruto, Naruto Shippuden e Bleach, a Crunchyroll “ficava para trás” por não ter quase nada dublado — por muito tempo, as únicas dublagens disponíveis foram: a série clássica de Os Cavaleiros do Zodíaco, mas sem qualidade de imagem em HD (embora essa versão já existisse), e Os Cavaleiros do Zodíaco: A Saga de Hades.

Isso foi mudando ao longo do tempo, com a introdução vagarosa de séries dubladas. Fizeram parte das primeiras levas animês como Schwarzes Marken e Rokka ~Braves of the Six Flowers~ — apesar da iniciativa, alguns fãs não ficaram muito satisfeitos com o trabalho, realizado pela Dubbing Company.

Imagem: Pedaço de pôster promocional de 'Jujutsu Kaisen', com Yuji, Megumi e o rapaz que usa venda nos olhos.

Divulgação: MAPPA.

Conforme mais séries foram entrando dubladas, a empresa foi “testando” trabalhar com outros estúdios como Wan Marc, Unidub e Som de Vera Cruz, e começou a trazer dublagens um pouco mais quentes, como Re:Zero, Mob Psycho 100 e Black Clover.

Um pouco antes da fusão com a Funimation, a Crunchyroll começou com as “dublagens expressas” de temporada, estreando algumas semanas após a estreia da versão legendada. A primeira leva dessas dublagens veio em 2020, com Jujutsu Kaisen, Tonikawa, Noblesse e Million Lives.

Com a incorporação da Crunchyroll à Funimation, o catálogo de dublagens aumentou ainda mais — as dublagens expressas foram absorvidas no termo simuldub, e o streaming traz uma série de títulos de temporada dublados, mas utilizando o bloco Quintas de Dublagem para trazer semanalmente versões brasileiras de séries mais “antigas”.

Alguns anos antes dessa fusão, a plataforma também buscou expandir sua marca para o público da TV: a primeira iniciativa foi com a Rede Brasil, onde o bloco Crunchyroll TV (2018-2020) trazia conteúdos dublados do streaming (AT: no início, alguns foram exibidos legendados, e ganharam dublagem depois, agradecemos ao Luiz Henrique Piza nos comentários) — como não havia tanta oferta assim, vários animês foram reprisados.

No final de 2020, a Crunchyroll TV foi extinta da Rede Brasil, mas, de certa forma, migrou para a estreante Loading, que reprisou dublagens e também levou à TV mais séries legendadas da Crunchyroll. Na Loading, a empresa apostou alto, prometendo dublagens exclusivas do canal — por exemplo, 91 Days e Given — que acabaram não vendo a luz do dia até o momento, com o fim abrupto da emissora.

A Crunchyroll também apostou na TV paga no fim de 2019: o serviço fez uma parceria breve com a PlayTV e o Mais Geek (ex-Senpai TV), encerrada em 2020 quando o canal virou TV WA (e hoje é PlayTV de novo…). Ainda em 2020, o streaming chegou nas madrugadas do Cartoon Network em um revival do Toonami, que exibiu de forma inédita Radiant, Laid-Back Camp, Dr. STONE e Eizouken dublados — mas hoje o bloco está (novamente) extinto.

Além da TV, a empresa também apostou em editoras, fazendo ações em parcerias com brindes — por exemplo, o primeiro volume de Mob Psycho 100 vinha com um marca-página da Crunchyroll. Não é incomum também que a empresa ofereça mangás de brinde em eventos, também em ações conjuntas com editoras.

Aliás, falando em eventos, a presença da Crunchyroll aumentou bastante, marcando inicialmente presença com estandes modestos, que foram aumentando de tamanho principalmente no Anime Friends, e passando a oferecer também compra de camisetas exclusivas, além de buscar inovar na forma de oferecer brindes — neste ano, a empresa montou um dos maiores (se não o maior) estande do Anime Friends em parceria com a Piticas (desta vez, a Piticas ficou com toda a parte de vendas), e os brindes podiam ser conquistados por meio de uma máquina estilo gacha, causando filas enormes no evento.

O streaming ainda buscou se tornar mais acessível nas formas de pagamento, introduzindo opções como boleto bancário, assinatura via Google Play, participação em programas de recompensas, chegando também a oferecer, por um tempo, gift cards em lojas — hoje, só é possível comprar os cartões de assinatura em eventos. Recentemente, o serviço também diminuiu o preço da assinatura (que hoje custa R$14,99 para o plano mais básico) — os valores passaram por aumento em 2020.

 

Política de títulos

Uma coisa que chama a atenção ao revisitarmos a notícia de 2012 é a tradução dos títulos para o nosso idioma: na época, quem assinasse o serviço se depararia com nomes como Café Polar (Polar Bear Cafe, Shirokuma Cafe) e Insetos Mordedores de Traseiros (Oshiri Kajiri Mushi).

Em algum momento, no entanto, essa política foi abandonada, e as séries começaram a chegar com os nomes japoneses, mas não por tanto tempo assim: atualmente, a Crunchyroll utiliza praticamente apenas os nomes em inglês, mesmo a maioria dos grandes streamings localizando o título de, pelo menos, seus conteúdos originais.

Nós sabemos, por meio de declarações de profissionais da área de mangás, que os japoneses por vezes obrigam a utilização de nomes em inglês devido a uma estratégia de marketing global, mas o fato de praticamente todo o catálogo da Crunchyroll utilizar os nomes em inglês indica que essa é uma escolha do streaming e não apenas das empresas que licenciam títulos à ele.

 

Do you like manga?

Em 2016, a Crunchyroll lançou oficialmente a parte de mangás do serviço (antes disso estava em fase beta), mas só em inglês. Na época do anúncio, chegaram até a dizer que isso abria a possibilidade de termos mangás traduzidos em nosso idioma, mas não rolou até o momento.

Felizmente, algumas empresas japonesas estão começando a olhar para nosso mercado: a MANGA Plus, plataforma da Shueisha, traz alguns títulos traduzidos em nosso idioma e a Comikey tem uma ou outra opção em português em seu serviço de mangás.

 

Site, aplicativos e HTML5

Imagem: Página inicial do Crunchyroll Beta.

Reprodução: Crunchyroll.

Durante um bom tempo, o site e os aplicativos da Crunchryroll não sofreram grandes mudanças, o que gerava bastante reclamação. A empresa enfim reformulou o aplicativo para smartphones em 2020, tendo recepção positiva do público.

No ano passado, foi a vez do site ser repaginado, mas ainda não totalmente: para ler as notícias, por exemplo, ainda é preciso entrar na versão antiga, que parece saída direto de 2008. Vale pontuar que a Crunchyroll também por muito tempo ofereceu um player em flash, que era bastante criticado (e chato de usar), e só atualizou seu player para HTML5 em 2018, mais de um ano depois do fim do Flash Player ser decretado (e agendado para 2020), parecendo que a mudança só ocorreu por ser inevitável — mas a demanda era tanta que chegou ao ponto de fãs criarem players HTML5 para o site antes do próprio serviço.

De presente de 10 anos no Brasil, a Crunchyroll ofereceu o fim de funcionalidades do site antigo, como fóruns (brincadeira, as datas foram só coincidências).

Já quanto à disponibilidade em várias plataformas, a Crunchyroll expandiu sua oferta ao longo dos anos, com apps para todos os grandes consoles atuais (sendo um dos poucos streamings no Nintendo Switch, feito conquistado logo após a compra pela Funimation), e serviços como Roku, FireStick… mas segue devendo um aplicativo — bastante requisitado — para Smart TVs.

 

Amor e ódio (e amor de novo) com a Funimation

Imagem: Deku e o logo de Funimation.

Entre 2016 e 2018, a Crunchyroll e a Funimation fizeram uma parceria na qual a Crunchyroll exibia os títulos (especialmente os de temporada) da Funimation legendados, enquanto a FunimationNow (antigo nome do serviço de streaming da empresa) tinha como foco o conteúdo dublado — a parceria previa a exibição de títulos dublados (em inglês) da Crunchyroll na FunimationNow, que não estava disponível no Brasil. A Funimation também seguiu distribuindo suas dublagens para canais americanos, como o Adult Swim.

A lua-de-mel expandiu os títulos quentes em simulcast na Crunchyroll consideravelmente — vale pontuar que, em 2017, a Funimation passou a fazer parte do grupo Sony via Sony Pictures Television (a Aniplex só entrou na jogada em 2019). E é provavelmente por essa compra que, logo depois, o caldo engrossou quando a Crunchyroll passou a fazer parte do grupo AT&T (“Warner”) em 2018.

A parceria foi encerrada, e alguns acontecimentos fazem crer que de forma abrupta: a Funimation ficou com a dublagem (americana) de alguns exclusivos da Crunchyroll, como Dr. STONE (2019–), e a Crunchyroll seguiu exibindo algumas séries da Funimation por algum tempo, como My Hero Academia — esses acontecimentos fortalecem a ideia de que alguns termos previamente acordados não puderam ser rompidos com um fim provavelmente repentino da parceria.

De 2019 em diante, a Funimation passou a focar em seu serviço de streaming, virando uma rival importante da Crunchyroll. Nessa época já começaram a surgir boatos de que o “serviço roxo” seria expandido para a América Latina, fortalecidos quando a Sato Company começou a sublicenciar séries da Funimation, como Fruits Basket (2019), que não ficaram disponíveis fora dos EUA pela Crunchyroll.

Mas a ironia do destino juntou as duas novamente em 2021, quando a Funimation comprou a Crunchyroll — a Warner, afundada em dívidas, quis se desfazer do streaming, provavelmente por ser muito nichado. O caminho escolhido foi o de manter a marca com maior alcance internacional, então, apesar de ter comprado a Crunchyroll, no fim das contas a Funimation “virou” Crunchyroll, e atualmente diversas séries estão sendo migradas para o catálogo laranja.

 

Ufa! Muita coisa rolou de lá para cá, mas e para você, quais foram as maiores mudanças da Crunchyroll nesses últimos 10 anos? Deixamos algo de fora? Conte para a gente nos comentários e até a próxima viagem no tempo!

 

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Matéria original: Crunchyroll é lançado oficialmente no Brasil, por Fábio Soares


Fontes adicionais:

Crunchyroll Brings Anime to Brazil!, por Patrick Macias

Crunchyroll and Funimation Partner to Expand Access to Anime!, por Patrick Macias

CR Originals and the HTML5 Player, por “Shinji Ikari”

New Fan-made HTML5 Player for Crunchyroll (Chromium), por “AbjectPresentation” (Reddit)


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