Em uma entrevista à TBS, os desenvolvedores Akira Katano e Daisuke Ishiwatari, que trabalharam em Guilty Gear -Strive-, comentaram sobre a personagem Bridget e, segundo eles, desde o começo ela foi criada para ser transgênero, apesar haver mais contexto para a inclusão dela no jogo.
“Sobre a conclusão da história, a direção geral foi decidida desde a primeira aparição de Bridget [Guilty Gear X2, 2002]. Isso não foi mudado agora”, segundo Ishiwatari — o arco dela ficou mais ou menos como ele sempre imaginou. Katano complementou que isso vale para todos os personagens, nada foi alterado da ideia inicial
Quando sugeriram que a ideia estava “à frente de seu tempo” — pois a questão de direitos e reconhecimento transgênero ficou mais vocal mais recentemente — Ishiwatari respondeu “parece maneiro quando você coloca dessa forma, mas é mais que agora era o momento no qual podíamos expressar melhor essa história”.
Ele contou ainda que o design de Bridget foi inspirado em um conhecido que fazia truques de iôiô — e a temática crossdress veio por ser “excêntrica”. Ishiwatari negou rumores de que não queria mostrar uma personagem feminina batendo ou apanhando.
“Quando Bridget apareceu pela primeira vez, não éramos muitos sensíveis à adequação. Com o jogo antes desse, estávamos bem conscientes do marketing para o público do exterior, e bastante cientes em ficar nos conformes dos padrões globais, mas no começo, focamos mais no que tinha mais apelo visual e emocional”.
Como exemplo de personagem que ele sofreu pressão para mudar, Ishiwatari mencionou Baiken, uma mulher com apenas um olho e um braço. Ele insistiu em incluí-la no jogo e conseguiu mantê-la sem escrever uma história explícita sobre a deficiência física dela. Para ele, colocando uma personagem assim, ele conseguiu mostrar Baiken como alguém que sempre escolheu seguir vivendo.
“Com um grande elenco de personagens, sempre tentei representar pessoas em posições ‘minoritárias’ na sociedade. Queria colocar esses personagens fazendo coisas heroicas”.
Quando questionar como Bridget se via inicialmente, ele disse que, num período no qual as pessoas tentam se encaixar com os outros, Bridget provavelmente evitava pensar sobre sua identidade de gênero. Ao trazê-la em Strive depois de um sumiço de 10 anos, ele queria atualizar a persongem, por isso o símbolo ♂ (símbolo masculino) no chapéu dela virou ⚧ (símbolo trans) em Strive — ele até chamou a atenção de um designer desatento que usou o símbolo antigo.
Sobre a recepção, Katano disse que a equipe esperava uma reação mista, mas eles não planejavam fazer qualquer afirmação oficial até que alguns fãs começaram a se passar pela conta oficial dando suas opiniões — aí decidiram fazer um anúncio. Em setembro, eles falaram sobre a identidade dela no “Developer’s Backyard”, deixando claro que Bridget se identifica como mulher — e também garantiram que não há final “bom” ou “ruim”.
Sobre a polêmica, Ishiwatari acredita que a maior questão para o anúncio era a fixação dos fãs na opiniãodos desenvolvedores — e que, ao clarificar a questão, alguns fãs tiveram paz. Também disse que seu foco era mostrar como personagens em rumos distintos encontram sua felicidade, ao invés de uma mensagem particular com Bridget.
Apesar de “diversidade” ser uma palavra em voga mais recentemente, ele sempre quis mostrar que “todas as pessoas podem virar algum tipo de herói ou heroína”.
Em Strive, todos os personagesn jogáveis têm uma mini-história mostrando o quanto eles mudaram desde suas últimas aparições, e a Bridget traz ela fazendo uma espécie de busca espiritual. Em um dos finais do Estágio 8, ao ser questionara se prefere ser “cowboy” ou “cowgirl” ela diz que “Cowgril está bom! Porque… sou uma garota”.
Guilty Gear é uma franquia japonesa de jogos de luta da Arc System, criada em 1998 com GUILTY GEAR the missing link para PlayStation. A série se passa em um mundo destruído por uma guerra entre humanos e armas biológicas chamada Gear.
Fonte: ANN