Entrevista publicada originalmente em 13 de abril de 2023.
A nova produção de Makoto Shinkai, reconhecido mundialmente pelo sucesso Your Name, finalmente chega aos cinemas brasileiros. Recorde de bilheteria do cineasta no Japão, Suzume (Suzume no Tojimari) nos leva à uma pequena cidade onde a protagonista vive uma jornada maluca, entre desastres e portas misteriosas, depois de encontrar um estranho viajante rumo às montanhas.
Em oportunidade cedida ao JBox pela Sony e pela Crunchyroll, entrevistamos o diretor em um breve papo que você confere abaixo. Por motivos técnicos, a entrevista foi feita apenas no formato de texto. Sem mais delongas, confira alguns apontamentos de Shinkai sobre sua nova obra.
De onde surgiu a ideia de um dos protagonistas se transformar em uma cadeira?
Shinkai: Quando eu era criança, meu pai fez uma cadeira para mim. Assim como a do filme, era uma cadeira simples feita com tábuas de madeira, mas lembro de ficar muito contente. Acho que, para uma criança, uma cadeira pode ser como o seu primeiro quarto, quase como o seu próprio lar. Então achei que seria um bom objeto para servir como ligação entre Suzume e suas memórias da infância.
Além disso, ter uma cadeira ambulante foi intencional para “aquecer a temperatura” do filme. A base dessa obra foi o grande terremoto de Tohoku [popularmente conhecido como terremoto de Fukushima no Brasil], de 2011. Por isso, seria muito triste ir direto ao ponto, e eu queria fazer algo mais equilibrado. Achei que seria bom colocar um personagem fofo para viajar com a Suzume, daí veio o Souta transformado em cadeira.
Em comparação com Your Name e O Tempo com Você (Tenki no Ko), que abordam o crescimento dos protagonistas usando alegorias fantásticas mais poéticas, Suzume desenvolve o coming of age puxando mais para a ação. Por que essa escolha?
S: Queria fazer um filme que pudesse ser divertido para diversas gerações, especialmente para as crianças. Por isso tem muitos elementos fantasiosos, como uma cadeira que anda e um gato que fala. Para não entediar a geração de jovens acostumados com smartphones tem cenas ao estilo RPG, com batalhas com “chefões” e monstrengos.
O tema é o desenvolvimento da Suzume, mas achei que o entretenimento deveria entrar no ritmo certo. Como eu disse antes, essa obra tem base em uma tragédia real, achei que os jovens não aceitariam se não tivesse uma pitada de diversão. Não queria fazer um filme que parecesse um sermão.
Algum road movie o influenciou para Suzume?
S: Desculpe, não tinha nenhuma obra em mente enquanto produzia esse longa (risos).
Nesse filme, Suzume sai de Kyushu (oeste do Japão) e vai até Tohoku (leste do Japão). Ela teve que se mudar para Kyushu depois de perder a mãe e a casa no terremoto de Tohoku. Nesse caso, um terremoto realmente aconteceu há 12 anos.
É como se Suzume seguisse por uma trilha de lugares assolados por desastres no passado para encontrar sua cidade-natal. Teve uma chuva torrencial em Ehime (oeste do Japão) em 2018; um terremoto catastrófico em Kobe em 1995; o grande terremoto de Kanto, em Tóquio, em 1923. Então, a rota de Suzume veio por uma necessidade do roteiro.