Foi encerrado ontem (02) o animê Mobile Suit Gundam: The Witch from Mercury (Kido Senshi Gundam Suisei no Majo) e, após muita especulação, a série confirmou, sem sombra de dúvidas, que Miorine Rembran e Suletta Mercury formam um casal.

Com isso, Witch from Mercury (G-Witch para os íntimos) não é só o primeiro Gundam com uma personagem feminina como principal, mas também o primeiro com um casal de mulheres (e um casal LGBTQIAP+ num geral) protagonizando a série.

imagem: suletta e miorine em ilustração de 'Gundam: Witch from Mercury', com alianças.

Divulgação: SUNRISE.

Há muito o que se falar da segunda temporada de G-Witch, que ficou abaixo da primeira — a impressão é que entre uma fase e outra, alguns caminhos foram mudados durante a produção.

A irritação do público com o ultraprotagonismo de Lauda — de uma forma bastante patética — bem no finalzinho da série talvez seja a melhor exemplificação de como os episódios tomaram, por vezes, um curso que não parecia fazer muito sentido para quem assistia.

Com a finalização, não há mais como dizer “talvez no futuro faça sentido”: a verdade é que o próprio final é cheio de coisas que não fazem sentido, soluções baratas ou estranhas ao ponto de beirar o deus ex machina, e um roteiro extremamente fraco num geral, que ignora parte da construção de mundo ensaiada na primeira fase.

Um dos problemas específicos do último episódio é também a quantidade de coisa para ser aglutinada em meros 23 minutos, mas dá para dizer que a obra toda merecia mais tempo para desenvolver tudo que ela quis abordar.

Mas, entre tanto erros e decisões quase incompreensíveis, em um aspecto a série não pecou: o maior ship dos fãs foi concretizado, de uma forma que ninguém pode dizer o contrário. Suletta e Miorine, que foram conquistando os espectadores conforme os episódios, não ficam apenas juntas: elas, de fato, se casaram (ou seja, tem yuri e não é pouco).

Vale pontuar que trazer protagonistas LGBTQIA+ em uma franquia tão longeva tem um peso simbólico enorme no Japão, um país no qual a união civil homoafetiva não é legalmente permitida, apesar da maioria dos habitantes aprová-la — alguns tribunais regionais já declararam que a proibição é inconstitucional, mas sem poder de afetar a lei nacional.

Não é incomum que a população LGBTQIAP+ busque o meio jurídico como uma saída para legalizar a união civil entre pessoas do mesmo gênero: aqui mesmo no Brasil, a união homoafetiva não foi uma implementação legal feita via Congresso Federal, mas sim um reconhecimento do STF acerca desse tipo de união civil. Mas, nas terras nipônicas, mesmo entre os tribunais centrais, permanece a ilegalidade.

Algumas prefeituras japonesas reconhecem a união civil homoafetiva, pelo menos em parte — Tóquio recentemente foi uma das que entrou nessa lista. Com isso, dentro de funções que são específicas das prefeituras, os casais homoafetivos têm os mesmo direitos que os heteroafetivos. É um passo, mas não é muita coisa perto do que um reconhecimento do governo central traria, até porque fica limitado às regiões específicas.

Witch From Mercury teve direção de Hiroshi Kobayashi (KIZNAIVER), com codireção de Ryo Ando (Interviews with Monster Girls) e roteiro de Ohkouchi (Code Geass). O estúdio responsável pelo anime é o Bandai Namco Filmworks, o antigo Sunrise (que ainda assina a produção).

Na história, acompanhamos uma era onde várias corporações colonizaram o espaço e criaram grande sistema econômico. Nesse contexto, Suletta Mercury, uma garota solitária de Mercúrio, se muda para a Escola de Tecnologia de Asticassia, liderada pelo grupo que domina a indústria de mobile suits, e, no meio disso, acaba noiva de Miorine Rembram, filha do presidente do maior conglomerado empresarial do Espaço.

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Mobile Suit Gundam: The Witch from Mercury foi exibido em modelo simultâneo à transmissão japonesa pela Crunchyroll, apenas com legendas — empresa fornece ao JBox um acesso à plataforma. A primeira temporada possui dublagem.