A youtuber Ray Mona postou há alguns dias um vídeo entrevistando Frank Ward, fundador da Renaissance-Atlantic e com passagem como CEO da Bandai nos EUA. Esse é o novo episódio de Tales of the Lost, série da youtuber sobre mídias perdidas.

Para quem não lembra, a Renaissance-Atlantic era a empresa por trás de uma adaptação híbrida de live-action e animê de Sailor Moon (apelidada de “Saban Moon”), e de duas adaptações de Os Cavaleiros do Zodíaco (Guardians of the Cosmos e o live-action StarStorm). Nenhuma dessas adaptações viu a luz do dia, ficando apenas com episódios pilotos.

Confira a entrevista (vale pontuar que, como Frank está falando do que se lembra da época, muitas informações podem estar equivocadas ou confusas):

Na conversa, Ward explica um pouco de sua carreira e de onde surgiram não só esses, mas outros projetos de adaptação de animês da Renaissance: das demandas do mercado de negócios americanos no meio de TV. Para colocar uma série no ar, era preciso investimento, que só seria feito com expectativa de retorno (leia-se “venda de espaço publicitário e brinquedos licenciados”).

Acontece que, na década de 1980, havia um grande desprezo pelos japoneses e suas produções nos EUA — o que, provavelmente, se liga ao modo como Frank foi parar na Bandai America: a empresa estava com dificuldade de penetrar no mercado americano.

No caso dos produtos da Bandai, ela estava tentando emplacar os brinquedos que produzia no Japão, que eram majoritariamente de séries licenciadas, com a Bandai possuindo apenas o direito dos brinquedos e modelos, e outra empresa — geralmente um estúdio de animação — ficando com os direitos de TV. Do outro lado, os investidores americanos [não fica claro se eram apenas as emissoras] consideravam animês “uma piada” e rejeitavam qualquer proposta de colocá-los no ar.

É desse cenário que surgiu a Renaissance, com a proposta de produzir então versões americanas de séries japonesas que fossem aceitas dentro do ecossistema americano de televisão — ou seja, não foi por uma decisão criativa do estúdio em achar as animações “ruins” ou algo do tipo, e sim uma resposta frente a um mercado que se recusava a colocar as séries originais no ar (por motivos que incluem certo grau de racismo).

Segundo Ward, os primeiros projetos da Renaissance foram ligados a Cavaleiros (ele diz StarStorm, mas as informações de Ray Mona fazem crer que o piloto de Guardians of the Cosmos foi possivelmente produzido antes) e Little Dracula, do qual Renaissance participou da segunda temporada, que foi ao ar apenas na Europa.

Frank comenta brevemente de uma tentativa de adaptação de Dragon Ball, que não foi para frente por discordâncias com Gen Fukunaga, da então FUNimantion (que hoje é Funimation), que possuía os direitos da animação. Fukunaga acabou conseguindo o direito de muitos animês, mas não possuía direitos dos brinquedos e havia uma certa tensão entre Frank e ele, pois, na visão de Frank, direitos de TV sem direitos de brinquedos não representavam, para o B2B americano, nada (embora Dragon Ball Z tenha eventualmente ido ao ar no Cartoon Network e feito sucesso, após Fukunaga desistir de exibir Dragon Ball via syndication).

Ward não se recorda de Guardians of the Cosmos, mas demonstra um enorme carinho por StarStorm. Contudo, o projeto live-action não foi para frente porque não souberam “arrumar as peças” — ele informou que lembrava que a série foi filmada no Canadá, mas sua memória pode estar confusa. Frank tem certeza que o piloto está em algum lugar, e se sentiu frustrado ao não encontrá-lo entre seus arquivos.

A produção que quase teve chances de sair do papel foi o “Saban Moon” — que, na verdade, teve sim contribuição do Haim Saban, mas talvez não ao nível de produção. A Renaissance era próxima de Haim Saban, pois ele entendia bem do mercado de syndication e, graças a ele, havia um acordo quase fechado com a FOX para exibir a série na Fox Kids.

Contudo, a diretora da Fox Kids saiu e o novo diretor cancelou a série, dizendo que o bloco agora “era um canal de menino”. Ele foi demitido 18 meses depois, mas o estrago havia sido feito e a série nunca passou do piloto, embora Frank deixe a entender que acredita que ela teria feito sucesso com investimento.

Frank responde brevemente sobre Doozy Bots, uma versão americana de Gundam que ele não se lembra bem e possivelmente teve envolvimento da Sunrise.

Por fim, Ward faz o mais importante: ele aceita conceder permissão a Ray Mona para vasculhar a Biblioteca do Congresso e exibir materiais da Renaissance-Atlantic que ela encontrar por lá. E com isso, Mona finaliza o vídeo prometendo uma nova série, The Vault, na qual trará informações, imagens promocionais e trechos de produções da Renaissance.


Fonte: Ray Mona