Quando uma obra que já tem uma adaptação para série animada ganha um filme, normalmente a produção pode variar entre três opções: 1. um filme sem ligação direta com a história original; 2. um filme de recapitulação que pode ou não ter cenas adicionais; ou 3. um filme que é continuação direta ou tem uma história paralela que faz parte da série original. Supostamente, Blue Lock: Episódio Nagi seria esse terceiro caso, com um roteiro alternativo canônico para se somar com a série animada, mas não é bem isso na prática.

Blue Lock: Episódio Nagi, como diz o título, dá destaque para o personagem Seishirou Nagi, um dos principais de Blue Lock, mas que não chega a ser um protagonista na série original. A trama apresenta a história do personagem desde às origens, quando ele é convencido a entrar para o mundo do futebol por Reo, só que agora de forma mais detalhada do que já tinha sido apresentado anteriormente. 

Quando ouvi falar dessa história alternativa de Nagi, sinceramente o que me veio a mente é que ela apresentaria com mais detalhes os momentos iniciais do jogador, antes dele entrar para o projeto Blue Lock, mas o que recebemos na verdade é só a mesma história apresentada no animê com uma leve aprofundada na mente de Nagi e de Reo.

imagem: o personagem Nagi com uma expressão cansada no filme Blue Lock: Episódio Nagi.

Reprodução: Bandai Namco Filmworks.

O filme até chega a apresentar um pouco dos momentos iniciais de Nagi no esporte, porém é por um tempo mínimo. Vemos no máximo algumas jogadas soltas ao invés de um jogo de fato durante essa fase do personagem, além de haver um grande reforço em mostrar que jogar bola não era algo que ele estava muito a fim de fazer, coisa que já tinha sido deixada bem clara na série.

Em pouco tempo de filme, Nagi já vai para o Blue Lock junto de Reo e, a partir desse momento, o roteiro começa a se mostrar mais interessante.

Inicialmente, parece que haverá um foco nos jogos do Time V que o animê não mostrou, então começa a se esperar que a história de fato siga por um caminho distinto, porém, novamente, o tempo gasto em apresentar os jogos não mostrados na série é bastante curto — é compreensível considerando o tempo de filme, porém a empatia com essa escolha do roteiro acaba no momento em que fica claro qual será o jogo que terá maior foco no longa-metragem: a partida contra o Time Z… que já foi mostrada por completo no animê.

Quando chegamos nesse momento, o longa-metragem vira um show de reaproveitamento de cenas, sendo praticamente uma versão picotada do que já tivemos na série de TV. O que recebemos a mais é apenas um mergulho na mente de Nagi e como, aos poucos, ele começa a apreciar o futebol, algo que, por mais que não tenha sido de forma tão profunda, também já tinha sido mostrado muito bem no animê.

A falta de novidade torna a produção em mais do mesmo, ainda mais por que o dilema de Nagi não é tão interessante assim, mesmo que a história o apresente de maneira competente o bastante.

imagem: Nagi impedindo que seu celular caia no chão com o pé durante o filme Blue Lock: Episódio Nagi.

Reprodução: Bandai Namco Filmworks.

Os momentos finais do filme se tratam de uma recapitulação ainda mais acelerada da série de TV, com direito a uma montagem de cenas com uma música da banda ASH DA HERO tocando. O máximo que podemos destacar dos minutos finais do filme é uma tentativa de última hora de se aprofundar melhor nos sentimentos de Reo e uma curtíssima prévia do que vem por aí na segunda temporada, já na cena pós-créditos.

Além disso, a exibição contou com um novo episódio de Additional Time!, série de curtas animados também presentes no animê original. Na exibição no Japão, o filme teve quatro episódios do curta exibidos nos cinemas, mudando de acordo com o passar das semanas, porém não foi informado se haverá um tratamento parecido no Brasil.

Como ponto positivo, é possível destacar o foco na relação entre Nagi e Reo. Apesar da história ter perdido a oportunidade de apresentar momentos da dupla de forma mais detalhada, ainda é possível sentir a relação dos dois de forma mais vívida do que no animê, fortalecendo o impacto da cena que acontece logo no início do segundo arco do animê. Com um entendimento melhor da mente de Reo e de Nagi, fica claro que, apesar dos pesares, os dois ainda sustentam uma parceria forte e que são importantes um para o outro, algo que é muito bem retratado.

Outro destaque que também poderia ter sido abordado com mais detalhes foi um pouco do passado de Zantetsu, personagem que se destaca ao lado de Nagi e Reo dentro do projeto Blue Lock. No filme, descobrimos um pouco sobre a família do personagem e suas motivações, tirando um pouco o aspecto quase que puramente cômico que o personagem aparentava em sua personalidade na série. 

imagem: Reo driblando dois jogadores ao mesmo tempo durante o filme Blue Lock: Episódio Nagi.

Reprodução: Bandai Namco Filmworks.

No apanhado geral, Blue Lock: Episódio Nagi traz uma experiência que fica devendo no aspecto de ineditismo, já que, apesar da promessa de ser uma história inédita, na verdade funciona mais como uma recapitulação por outro ponto de vista.

A experiência geral ainda consegue ser divertida, porém muito menos intensa do que a série de TV apresenta e, como é quase uma versão alternativa dela, o filme deixa bastante a desejar. A produção do longa também não justifica a experiência, considerando que fica nos mesmos padrões da série de TV e até mesmo reutiliza cenas dela. No fim das contas, é um título que já nasceu com problemas desde a forma que foi divulgado.


Essa crítica foi feita a partir de exibição de cabine de imprensa realizada pela Cinemark. BLUE LOCK: O Filme – Episódio Nagi estreia aparentemente apenas em cópias legendadas exclusivamente na rede Cinemark no dia 18 de julho.


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