Dragon Ball é sem dúvidas um animê que fez parte da vida da maioria do público otaku brasileiro. Pessoas de todas as idades são conquistadas pelas aventuras de Goku até hoje, principalmente por ser uma série que continua ganhando novas produções, que vão desde animês e mangás até outros lançamentos derivados, incluindo, claro, jogos, como é o caso de Dragon Ball: Sparking! Zero.
Essa é uma continuação direta de Dragon Ball Z: Budokai Tenkaichi 3, jogo que por si só é um fenômeno que conquistou milhares, senão milhões, de brasileiros durante os anos 2000, sendo provavelmente um dos títulos mais jogados em locadoras de videogame Brasil afora na época do PlayStation 2. Com esse peso por trás, era de fato um jogo muito aguardado não só aqui, mas em todo o mundo. E ele de fato consegue trazer de volta a magia que conquistou tantas pessoas… ao menos em partes.
Uma história familiar se mescla com possibilidades inexploradas
Começando pelo modo história, o jogo traz uma versão um tanto mais singela do que foi apresentado em títulos anteriores da franquia. A história é contada através do ponto de vista de oito personagens, sendo alguns principais, como Goku, Vegeta e Gohan, e outros um tanto mais alternativos, como Goku Black e Jiren. A maioria das lutas canônicas de Dragon Ball Z e Dragon Ball Super são abordadas na história, porém, devido às limitações de personagens e coisas ignoradas propositalmente, algumas batalhas emblemáticas são deixadas de fora, como a de Gotenks contra Majin Boo, por exemplo.
A falta mais notável durante é a de todo o arco inicial envolvendo o Universo 6, que mal é citado durante o jogo. Ou seja, um personagem como Hit, que tem sua devida importância em Dragon Ball Super, acabou sendo deixado quase que completamente de lado, já que o Torneio do Poder também é abordado de forma um tanto breve. Algo parecido acontece com os saiyajins do Universo 6, que são um tanto minguados pelo roteiro. Claro, além de tudo isso, também é importante pontuar que a presença de Dragon Ball clássico, GT, Daima ou dos filmes na história é nula.
O destaque do modo história, contudo, não fica para a abordagem dos acontecimentos que já conhecemos, mas sim para as histórias alternativas originais do game. Cada um dos oito personagens principais jogáveis, além de contar com rotas que seguem o roteiro canônico, também participam de situações que poderiam ter acontecido. E elas são várias. Goku virando Super Saiyajin na primeira batalha contra Vegeta, Freeza revivendo seu exército e os levando para o Torneio do Poder e até mesmo o perigo iminente do Gohan Black. São diversas possibilidades que deixam o acompanhamento do modo história mais divertido e surpreendente.
No entanto, não são todas as rotas alternativas que trazem uma experiência totalmente inovadora. As histórias variantes de Goku Black e Jiren, por exemplo, não contam com desdobramentos muito fora do comum, provavelmente por serem personagens que se limitam originalmente a apenas um arco. Porém, mesmo nas aventuras de outros personagens pelos arcos de Goku Black e do Torneio do Poder, a falta de possibilidades interessantes também se faz presente, sendo quase sempre tudo muito repetitivo ou não muito distante do que já acontece no animê.
Esse problema também está presente em algumas rotas alternativas que não levam a nada. Durante o arco dos Androides, por exemplo, existem várias conclusões que são apenas “tal guerreiro Z conseguiu vencer Cell antes que ele pudesse absorver os androides”, e para por aí. Não leva a nada diferente. Outro ponto é que às vezes uma rota alternativa só leva a lutas que foram “puladas” em outra. Ou seja, são batalhas que acontecem de forma canônica, porém estão divididas entre as rotas, tanto que várias vezes essas rotas alternativas levam ao mesmo lugar na linha do tempo do mapa da história.
Algo interessante em Dragon Ball: Sparking! Zero é que, para acessar as rotas alternativas, o jogador precisa fazer por merecer, já que a maioria dessas histórias alternativas só podem ser iniciadas após batalhas que podem ser um tanto desafiadoras. A maioria dos desafios para conseguir as rotas alternativas exige que o jogador vença lutas em um tempo que, por muitas vezes, é bastante limitado.
Por padrão, quando estamos em uma luta que, na série original, é vencida pelo inimigo, a luta é encerrada de forma um tanto brusca sem um vencedor claro durante o gameplay. Porém, caso o jogador consiga vencer em uma quantidade de tempo determinada, ele pode entrar em uma rota alternativa. A história de Gohan Black, por exemplo, só pode ser iniciada após Gohan vencer Freeza no Arco da Ressurreição de Freeza, já que, por ter reconquistado seu poder mais cedo, ele acaba virando um alvo de Zamasu.
As batalhas de tempo, no entanto, podem ser um tanto chatas de lidar. Não há nenhum contador sinalizando em quanto tempo você deve vencer a batalha para conseguir avançar para a rota alternativa. O que sabemos é apenas que é “o mais rápido possível”, contudo às vezes pode ser difícil ter noção e planejar a estratégia. Os únicos indicativos são os diálogos durante as lutas que podem servir de guia, mas não são todas que contam com isso. Além disso, nem todas as rotas alternativas são obtidas vencendo rapidamente, já que às vezes é necessário cumprir algumas condições especiais. Entretanto, não há indicativo de quais são as condições para as rotas, então muitas vezes é necessário repetir até entender.
Caso o jogador não relembre com detalhes alguns momentos de Dragon Ball, é até mesmo possível entrar em rotas alternativas sem querer e, por algumas serem muito semelhantes, acabar nem percebendo isso. Na luta de Goku contra Yuz e Boter, por exemplo, para entrar na rota principal é necessário refletir a Crusher Ball de Yuz, algo que de fato acontece na série original, porém pode facilmente escapar das lembranças. O jogo respeitar a memória do jogador é algo que, de certa forma, é uma boa característica, porém alguns detalhes muitas vezes podem nem ser conhecidos caso quem esteja jogando não tenha tido contato mais próximo com a série de origem.
Além do modo história principal, o jogo conta outra maneira de contar a história, em batalhas que podem ser personalizadas pelo próprio jogador. O jogo já entrega alguns exemplos pré-prontos que contam com narrativas que poderiam ter saído direto de um episódio filler, como a revanche dos Saibaiman contra os saiyajins, por exemplo.
No geral, os desafios pré-prontos até são divertidos de se fazer, apesar da história deles soar estranha devido à maneira que a ferramenta de edição funciona. Porém, os problemas reais começam a surgir quando o jogador passa a criar suas próprias batalhas personalizadas, já que é tudo muito limitado. Os modelos de criação são inspirados diretamente nos desafios pré-prontos, então no geral é possível apenas selecionar tópicos e um dos tipos de batalha sugeridos, incluindo os personagens e mapas desejados. Também é possível acessar desafios criados por outros jogadores na Biblioteca Mundial, porém, pelo modo de personalização ser tão pobre, acaba servindo apenas para dar impressão que o jogo tem mais conteúdo relevante.
Batalhando com o mesmo sentimento do passado
Partindo para o gameplay, Dragon Ball: Sparking! Zero voltou para relembrar por que a série reinou por tanto tempo como uma das mais queridas entre os jogos de animê. Os mapas continuam expansivos, permitindo uma grande liberdade de movimentação para os jogadores.
Em relação ao seu antecessor, o que se destaca no novo jogo é a gama de novas técnicas de defesa, que permitem ao jogador escapar dos mais variados ataques possíveis. Isso recheia as batalhas com novas possibilidades, além de dar um efeito dramático interessante, como o caso da habilidade que torna possível refletir rajadas poderosas de ki.
Nas mecânicas gerais, o jogo continua tão familiar quanto era tantos anos atrás. Usando os controles clássicos, qualquer veterano da série consegue se adaptar facilmente à nova sequência por pura memória muscular, tendo acesso aos combos que já usava e a antigos e novos poderes para os personagens, incluindo rajadas de energia e ataques de investidas.
As habilidades secundárias, que normalmente incluem buffs, dessa vez parecem cumprir um papel ainda mais importante durante as lutas, principalmente porque muitos personagens mais fracos foram beneficiados com boas habilidades secundárias, equilibrando bem o elenco do jogo e aumentando as possibilidades para o cenário competitivo.
Os controles novos, chamados de padrão em Sparking! Zero, não ficam atrás e também são bem intuitivos, permitindo uma aproximação mais moderna para o gameplay. Ainda há a possibilidade de mesclar alguns elementos entre clássico e padrão, porém não existe uma customização botão a botão, algo que acaba fazendo falta, ainda mais em um jogo de luta.
Quem tiver dificuldade com a quantidade abundante de mecânicas, principalmente os tipos variados de defesa, com certeza encontrará tudo que precisa no modo de treinamento. É possível checar detalhadamente cada uma das dezenas de técnicas de batalha que o jogo fornece por meio de testes que apresentam como funcionam os comandos. E não é recomendado apenas para quem for novato, já que muitas habilidades de defesa contam com execuções mais específicas, sem falar que o sistema de transformações e de fusões passou por uma mudança considerável, dando um dinamismo maior para as lutas.
Sparking! Zero, além de contar com os modos tradicionais de batalhas em equipes de até cinco personagens e de torneios com regras próprias, traz também o modo online que é… um tanto decepcionante. Talvez a falta de crossplay afete, porém, ainda é assustador como é difícil encontrar partidas, mesmo na época do lançamento. O sistema de fila não parece ser muito funcional, tornando a espera muito mais longa do que um jogo tão cheio de jogadores como esse deveria ter. Durante as partidas em si, a conexão é relativamente competente, apesar de ter uns tropeços aqui e ali em alguns momentos.
O online ter os problemas que tem se torna ainda mais decepcionante quando consideramos que o modo de dois jogadores local, que definitivamente é o que fez a franquia ter tanto sucesso na época, foi praticamente deixado de lado. É possível ter batalhas contra seus amigos localmente em apenas um mapa — a Sala do Tempo que, por ser vazia, ajuda nas questões de desempenho. Isso acaba sendo bastante decepcionante em um jogo onde os cenários impactam diretamente nas lutas, principalmente porque não parece ter sido feita uma tentativa maior de otimizar o jogo para que ele funcionasse em mais mapas, que já são poucos.
Apesar de decepcionar nos mapas, felizmente a variedade de personagens continua bastante ampla, mesmo que muitos, principalmente do Dragon Ball clássico, tenham sido cortados (algo que provavelmente aconteceu em prol das futuras DLCs). Os personagens, como sempre aconteceu na série, não contam com tanta variedade entre si, principalmente do que se trata do uso de combos de ataque corpo a corpo. É o mesmo esquema de sempre que um ou outro guerreiro conta com uma coisinha especial nos golpes básicos e nos ataques de ki, mas o que muda no geral são mais questões de velocidade, resistência, ataque, além das habilidades especiais de cada um. Talvez a nova característica individual mais significativa seja o Instinto Superior, que permite que lutadores como Whis e Goku em ambas as formas desviem de golpes básicos sem precisar executar comandos para isso.
As diferenças de poder, para maior imersão, também continuam presentes, porém o jogo consegue equilibrar a competitividade com um sistema de pontos, onde personagens muito fortes custam vários pontos para entrar em um time, sacrificando a quantidade de lutadores. Porém, personagens mais fracos podem participar de times mais numerosos, permitindo que seja possível usar guerreiros que normalmente seriam deixados de lado em batalhas individuais (que continuam presentes no novo game).
Sparking! Zero também traz de volta várias das funções antigas de personalização. O jogo conta com as cápsulas que podem alterar habilidades dos personagens, podendo facilitar batalhas para personagens mais fracos em partidas casuais, por exemplo. É possível desbloquear várias roupas para os personagens, além de músicas, narradores para as partidas e por aí vai. O jogo também dá a opção de conseguir títulos e outros itens através das invocações utilizando as Esferas do Dragão, na loja, cumprindo tarefas para a dupla de Zenos ou, obviamente, participando dos mais diversos tipos de batalhas.
Para trazer ainda mais do gostinho de passado, o título segue o caminho contrário da maioria dos jogos de lutas atuais e tem muitos personagens que precisam ser desbloqueados antes de serem utilizados, algo que é bem mais fácil no novo jogo do que era nos anteriores.
Ser fã de Dragon Ball nunca valeu tanto a pena!
Dragon Ball: Sparking! Zero faz um trabalho competente em trazer de volta a sensação de seus antecessores. O título consegue trazer novidades para a franquia ao mesmo tempo em que mantém o sentimento que conquistou tantos jogadores pelo mundo no passado, mas também considerando os novos fãs que surgiram nos últimos anos. Apesar dos deslizes, o jogo ainda entrega uma experiência completa e que com certeza garante no mínimo dezenas de horas de gameplay, seja na história ou até mesmo nas batalhas online e com amigos, por mais limitadas que estejam essas funções.
Depois de não conquistar como o esperado em Raging Blast ou Xenoverse, o retorno de Sparking! com certeza traz um futuro promissor para os jogos em arena da franquia, somando-se ao sucesso de FighterZ e de Kakarot em outros gêneros. Ter experiências diferentes com produções derivadas de Dragon Ball nunca valeu tanto a pena quanto agora.
Dragon Ball: Sparking! Zero já está disponível para PlayStation 5, Xbox Series e PC. O JBox recebeu uma chave gratuita de PC para produzir a resenha.
O texto presente é de responsabilidade de seu autor e não reflete necessariamente a opinião do site JBox.
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