O festival mais insano de todos os tempos em ‘Tenchi Universe’ | Momento Sugoi #3

30 de novembro. Uma tarde de sábado. No estádio Nilton Santos, antes conhecido como “Engenhão”, pois fica no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Casa do Botafogo. O glorioso. O clube que é mais tradicional. Tem um canto na torcida que diz “quero te ver campeão de novo, vou te apoiar até o final”. E, vejam só, para o desespero de milhares de famílias, com medo de seus avós sofrerem com infartos, o time realmente foi! Venceu do Frango, digo, do Galo a final da Libertadores. Assim que o Júnior Santos meteu o terceiro nos últimos segundos dos acréscimos, os fogos no estádio explodiram. Muito grito, muito choro, uns três copos de cerveja caindo em minha cabeça.

Estava eu observando tal festa em uma das portas de saída do setor oeste inferior e pensando: “Hahaha, fuck you, Hulk!”, quando fui abordado por uma senhorinha, cabelos branquinhos, apoiada por uma bengala. Ela faz sinal para que eu aproxime meu ouvido. Eu me abaixo, e ela diz, com voz baixa e embargada:

A vida é tão curta, e tão confusa, que ela passa sem se sentir!

Depois disso, ela saiu, caminhando lentamente. Imediatamente pensei, “Nossa, faz realmente muito tempo que Tenchi Muyo! passou por aqui…”

E após uns três minutos dela caminhando praticamente sem sair do lugar, achei prudente pedir a um dos seguranças do local para ajudá-la a sair dali. Mas ele me olhou, espantado, e disse que não havia idosa alguma ali. Estaria eu perdendo minha sanidade? Não. Sou apenas eu inventando uma maneira de linkar o jogo do Botafogo com mais uma edição da coluna Momento Sugoi!

Não não, AberturasBR, essa não é a primeira abertura, mas sigamos a vida…

Tenchi Muyo! A cronologia dessa “franquia” de animês é um dos negócios mais caóticos das últimas décadas. Para se aprofundar nela, sugiro esse vídeo aqui de um tal canal JBox TV. Acho que esses jovens têm futuro, hein? Para esse post, me limito a dizer que esse foi um desenho exibido aqui no Brasil dentro do programa Band Kids, que compilou diferentes “séries Tenchi Muyo!” como temporadas de um grande animê em sua grade.

Tenchi Universe, que é a primeira temporada feita para TV, mas que adapta (livremente) o fio condutor de Tenchi Muyo! Ryo-Ohki, primeiro OVA da franquia, foi exibida aqui como se fosse, de fato, uma primeira temporada de Tenchi Muyo!, e é dessa série que vem o episódio de que trato na coluna de hoje, o sétimo, nomeado aqui como “Sem Necessidade para Festa”.

Resumo bem resumido de Tenchi: essa é uma história harém, que mistura comédia com ação e romance, e inclui também elementos de mecha, ficção-científica e política espacial. Soa uma colcha de retalhos falando assim, mas eu prometo que faz sentido quando a gente assiste. Na trama, um moleque chamado Tenchi, que vive com seu pai e seu avô num templo, quebra um selo que sua família vinha protegendo há tempos, e liberta uma, aparentemente, grande vilã espacial chamada Ryoko, que após tentar matá-lo, se apaixona por ele e passa a viver em sua casa.

Com o retorno da garota, isso atrai a atenção de outras personagens, como a princesa do planeta Jurai, Ayeka, sua irmã mais nova, Sasami, a cientista louca Washu, e as policiais Mihoshi e Kiyone. No fim, todas acabam morando ali no templo e vivendo grande aventuras, com um triângulo amoroso entre Tenchi, Ayeka e Ryoko se formando, e uma porção de coisas ocorrendo ao longo dos episódios.

Um dos grandes trunfos de Tenchi Muyo! é o modo como conseguem estabelecer personalidades bem marcantes para cada um dos personagens. Mais do que um esquema de girlbands dos anos 90, onde “cada gatinha tem algo de diferente a oferecer”, os pontos únicos delas acabam se emendando e construindo uma dinâmica familiar deliciosa de acompanhar. Sempre que a gente se pergunta, “Puxa, como será que essa personagem mais atrapalhada vai lidar com essa outra aqui que é mais sacana?”, o animê vai lá e prepara um segmento respondendo isso.

O ápice desse jogo ocorre, então, no sétimo episódio. Nele, ocorre um matsuri. Esse é um tipo de festival tradicional na cultura japonesa, que pode servir para diferentes fins, sejam religiosos (do budismo, do xintoísmo), seja a comemoração de uma estação, ou mesmo de virada de ano. Em geral, as comunidades locais se reúnem, fazem apresentações musicais, de dança, teatro, colocam barraquinhas vendendo comida, ou com atrações, ou jogos, por aí vai.

Nesse matsuri, que ocorre ali perto do templo da família do Tenchi, a maioria das gatinhas espaciais está trabalhando. A exceção é Sasami, que ainda é muito novinha, e vai acompanhada do Tenchi para curtir as atrações. E essa é a desculpa perfeita para que o roteiro e a direção explorem ao máximo as dinâmicas entre as personalidades das meninas. Tenchi e Sasami, juntos da mascote Ryo-Ohki, vão de barraca em barraca, e uma sequência de loucuras relativas ao que cada uma ali faz acontece.

Em ordem:

Imagem: AIC/Reprodução

Ryoko tem uma banquinha com um aquário para pescaria de peixinhos domésticos. Contudo, Sasami e Tenchi questionam o porquê de não conseguirem enxergar nenhum peixinho ali. Ryoko diz que eles estão mais fundo, que eles precisam mergulhar a cabeça para verem.

Imagem: AIC/Reprodução

Eles descobrem que, na verdade, aquele aquário tem um tipo de portal dimensional para peixes alienígenas, e quando um deles vê Tenchi mergulhando, coisas assustadoras acontecem.

Imagem: AIC/Reprodução

A segunda barraca mostrada, mesmo sem Tenchi e Sasami passarem por ela, é a da Ayeka. Nela, rola um jogo de tiro ao alvo. De início, parece inocente, mas quando vemos o que são os alvos…

Imagem: AIC/Reprodução

São bonequinhas chibi da Ryoko! Guarde isso, que já voltamos aqui.

Imagem: AIC/Reprodução

A terceira barraca é a da Mihoshi e da Kiyone, que estão vendendo yakisobas. Nela, vemos que a Mihoshi, a atrapalhada do grupo, não tem habilidade alguma com cozinha, não sabendo cortar direito os vegetais, ou mesmo cuidar dos alimentos ali no estoque.

Só que o negócio tem tempo limitado. Sasami e Tenchi pedem um yakisoba, mas quando Kiyone, a organizada do grupo, pede que a Mihoshi pique as cenouras, a loirinha descobre que…

Imagem: AIC/Reprodução

Não tem mais cenouras! Pois a Ryo-Ohki comeu todas. Sasami e Tenchi ficam na fome, e a dupla de policiais espaciais, tais como você, que apostou metade do salário na BET, ficam no prejuízo. Pelo menos por enquanto.

Imagem: AIC/Reprodução

A banquinha de pescaria da Ryoko foi interditada, pois peixes alienígenas são perigosos demais. Então, para continuar faturando um troco no matsuri, ela resolve vender um tônico milagroso confeccionado a partir do suor nervoso de um… sapo alienígena.

Mas para provar que o tal tônico funciona, ela passa a fazer uma propaganda chamativa no público, chamando a galera ao redor, convidando que eles provem o tônico. Até que uma transeunte aceita a proposta…

Imagem: AIC/Reprodução

Mas a tal transeunte é ela mesma, Ryoko, que dividiu seu corpo em dois, e alega agora que o tal tônico não só curou suas dores, mas lhe deu a capacidade de flutuar. Calha de o golpe ser descoberto bem cedo, e a segunda banquinha da Ryoko fecha mais rápido que a primeira. Eu culpo o rapaz questionador de camisa cinza à esquerda ali.

Imagem: AIC/Reprodução

A barraca seguinte é a da Washu, a cientista louca do grupo. Na verdade, não só do grupo, mas a cientista mais louca de todo o universo. A atração que ela preparou foi uma casa assombrada, onde os convidados passariam pelos locais mais assustadores já existentes.

Mas como seriam esses locais dentro de uma pequena casa de horrores num matsuri local? Não sei, mas numa atração construída pela Washu…

Imagem: AIC/Reprodução

São literalmente o inferno.

Imagem: AIC/Reprodução

Lembra do tiro ao alvo da Ayeka com bonequinhos da Ryoko? Após ver seus dois (na falta de uma palavra melhor) empreendimentos pitorescos fracassarem, Ryoko decide ir por um caminho menos arriscado, e também monta uma banca de tiro ao alvo. Ao lado da de Ayeka. E com isso aqui servindo como alvo:

Imagem: AIC/Reprodução

Isso gera uma briga entre as rivais pelo coração de Tenchi, que envolve eventos (extremamente questionáveis) de um matsuri que ambas participaram no passado, e que pode destruir todo o local, dado a magnitude dos poderes de ambas. Mas tudo é interrompido quando…

Imagem: AIC/Reprodução

A Mihoshi e a Kiyone, numa segunda tentativa de faturar, começam a vender algodão doce. Só que a máquina foi construída pela Washu. E como disse, a Washu é a cientista mais louca do universo.

Imagem: AIC/Reprodução

E a máquina dá origem a um kaijuu de algodão doce, que acaba com o matsuri imergindo o local em açúcar e corante rosa.

Um final doce para uma noite inesquecível. Sugoi!

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Sabe aquele momento em um animê, filme, mangá, em que você pensa “Nossa, mano, é isso aí!!!”? Há uma palavra no vocabulário japonês que resume isso: “sugoi”. Sugoi é um adjetivo que expressa o quanto algo pode ser incrível, grandioso, maravilhoso, magnífico, terrível, espetacular. E nessa coluna, assinada por Igor Lunei, são relembrados, justamente, esses “momentos sugoi” de animês, filmes e mangás que marcaram época, ou que valem um maior reconhecimento.