Ranma ½

[div coluna1]Ranma ½
Ranma 1/2
Produção: Kitty Films, 1989
Episódios: 161 p/ TV
Criação: Rumiko Takahashi
Exibição no Japão: 15/04/1987 – 25/09/1992
Exibição no Brasil: Cartoon Network – Play TV
Distribuição: Cloverway
Mangá: Shonen Sunday

Última Atualização: 15/08/2011

Por Larc

No começo dos anos 80, Rumiko Takahashi já havia sido consagrada como uma das maiores mangakás do Japão graças ao sucesso estrondoso que Urusei Yatsura (A Turma do Barulho no Brasil) atingiu no Japão. O desafio de não ficar marcada como “a mulher de um trabalho só” (alcunha que a autora de Sailor Moon não conseguiu se livrar até hoje) foi superado sem muitos traumas pela jovem autora quando mostrou sua versatilidade com títulos como Maison Ikkoku, Mermaid Saga e outros pequenos contos, eclipsados pelo fenômeno Urusei.

Embora muitos apontem que Rumiko apenas recicla suas personagens criadas e as relações de triângulos, quadriláteros ou até pentágonos amorosos (=P) a cada obra que lança, a verdade é que a autora não se prende aos arquétipos da indústria para criar suas  fascinantes personagens. Suas mulheres são fortes e expressivas, enquanto os homens são falhos e complicados. Já os vilões não são seres com motivações simplistas (quero dominar o mundo, ser o rei do universo e blá blá blá…) e muitas das vezes nem se consegue caracterizá-los como maus.

Em uma entrevista antiga, a autora disse que prefere se preocupar com a criação de um herói e uma heroína centrais, inseridos em um cenário no qual uma trama pode desenrolar-se. No decorrer dessa trama, personagens coadjuvantes vão surgindo e são eles que ajudam a empurrar o destino dos protagonistas. De fato, se analisarmos Ranma ½ como um todo, o roteiro se costura exatamente por essa linha estrutural que deu mais que certo, sendo uma clara influência anos mais tarde para um tal Ken Akamatsu criar um mangázim chamado Love Hina…

A comédia romântica marcial de Ranma ½ conquistou o mundo a partir de 1987 quando iniciou-se a publicação da história nas páginas da revista Shonen Sunday. A saga durou até 1996, quando o derradeiro capítulo foi publicado no volume 12 da antologia. O anime estreou em abril de 1989 na TV Fuji e rendeu 161 episódios, indo ao ar até setembro de 1992. Nos cinemas, Ranma e sua turma estrelaram 3 longas-metragens além de uma série com 11 episódios lançados (sem contar o especial de 2008, parte do projeto It’s Rumic World) sob formato de OVAs – diretamente pro mercado de home-vídeo.

A qualidade técnica da série de TV é bastante fraquinha, mas pelo menos não sofria daquela bizarra deformação do traço que acometia a coitada da versão animada da Sailor Moon. A produção foi realizada pelos estúdios da Kitty Films – que também produziu a versão animada de Urusei Yatsura. A ambientação da série mostra situações tipicamente japonesas e é um prato cheio pros apreciadores da cultura oriental. Pena que hoje em dia, o jeito de se vestir dos personagens tenha um aspecto meio, digamos, cafona… Mesmo sem existir grandes sagas (como em Dragon Ball Z), os 161 episódios são apresentados sob o formato de 7 temporadas.

Como de praxe, os OVAs e filmes apresentavam uma qualidade de animação ligeiramente superior, mas nada muito “uau”. A trilha sonora é um tanto lentinha e repetitiva. Talvez por isso, a sensação de que o mangá é muito mais engraçado seja tão forte – mesmo a TV reproduzindo exatamente a sequência dos quadrinhos. Falando em sequência,  há um furo grosseiro de produção onde Akane se lembra de algo que não tinha acontecido ainda na série – uma cena em que Ranma enche a boca pra dizer que ela é sua noiva. Há vários episódios “fillers” (inexistentes no mangá original), e não existe um “final” propriamente dito, visto que na época em que foi ao ar, dona Rumiko não tinha a menor noção de quando concluiria sua obra. A título de curiosidade, a popstar Megumi Hayashibara foi responsável pela dublagem da versão feminina de Ranma, sendo este o primeiro trabalho expressivo de sua carreira.

Dos inúmeros produtos lançados, o destaque fica para os vários jogos de luta e RPG para Game Boy e Super Nintendo. Alguns destes até chegaram ao Brasil fazendo com que os personagens não fossem completos desconhecido por essas bandas quando começaram a falar da possível vinda do anime pra cá em idos de 1996. Curiosamente, o 1º jogo da série foi modificado nos EUA e cenários urbanos foram inseridos para dar um aspecto mais “Street Fighteriano”.

Nos EUA, a VIZ foi responsável pela publicação do mangá  e o lançou a partir de 1993. Estranhamente, a série foi publicada em 36 volumes – sendo que a versão japonesa conta com 38 – sendo que o último chegou nas livrarias apenas em 2006 (!). Ranma ½ foi um dos títulos pioneiros na linha de mangás no estilo Graphic Novels da VIZ e o sucesso de vendas foi importante para os investimentos da empresa nesse formato que se consolidou no país. O anime foi lançado em VHS (!) com uma cronologia um tanto bagunçada, mas fez bastante sucesso. Em consequência disso, a VIZ lançou vários outros produtos dos personagens como camisetas, pelúcias e até CDs com a trilha sonora, conseguindo explorar muito bem a série – e abrindo precedentes para o crescimento da empresa.

As lendárias fontes amaldiçoadas
Na China, existe um local conhecido pelo nome de Jusenkyo que é formado por pequenas fontes (que mais parecem lagos) que escondem uma terrível maldição. Há centenas de milhares de anos, alguém morreu  afogado (alguma pessoa ou animal)  numa dessas fontes  e todos aqueles que caírem nelas passarão a se transformar na vítima que partiu dessa pra melhor. Temporariamente, os amaldiçoados podem voltar ao normal quando molhados com água quente, mas tornam a assumir a forma “maldita” quando entram em contato com água fria novamente.  Uma cura para essa maldição não é muito fácil de encontrar – ainda que existam lendas e alternativas bastante ortodoxas – e praticamente metade dos personagens centrais da série é vítima das fontes amaldiçoadas!

Ranma Saotome e seu pai Genma são praticantes de artes marciais do estilo vale-tudo e estão em treinamento na China. Eles chegam na região de Jusenkyo e mesmo sendo alertados por um guia turístico – que nenhum personagem da série dá a menor bola, diga-se de passagem – eles acabam caindo nas fontes em que uma garota e um panda morreram afogados. Fulo da vida, “a” Ranma se dana a perseguir seu velho (agora um panda imenso) pra acertar contas com ele, visto que ambos foram parar lá pelo fato de Genma não ter a mínima noção de chinês para saber sobre a maldição do local.

Trambiqueiro da marca maior, Genma arrumou um casamento para Ranma com uma das filhas de seu grande amigo Soun Tendo. A ideia é que ambos herdem e unifiquem o estilo de suas escolas de artes marciais – o estilo vale-tudo dos Saotome com o estilo tradicional dos Tendo – mas quando chegam ao Japão estão num arranca-rabo danado e em suas formas amaldiçoadas.

Instalando-se na academia dos Tendo, até as devidas explicações serem dadas para aquela situação inusitada, Akane, a mais nova das três filhas de Soun, já não fica com a melhor das impressões do jovem Ranma. Isso porque, sem saber sobre a maldição, ela flagra o garoto pelado saindo da banheira de água quente de sua casa – quando achava o tempo todo que estivesse lidando com uma garota chamada Ranma.

Por livre e espontânea pressão de suas irmãs, a interesseira Nabiki e a doce Kasumi, Akane e Ranma acabam – contra vontade de ambos – se tornando noivos. A partir daí, acompanhamos a cada episódio a relação desse casal, que pouco a pouco, vão se gostando e demonstrando de forma tímida e contida o amor que os unirá. Mas não pense que até Ranma e Akane admitirem a existência desse sentimento rolará um dramalhão estilo Usurpadora.  Para quebrar a possibilidade da história cair nessa vibe, Rumiko foi entupindo a trama com personagens tão amalucados que é impossível não soltar uma risada diante das situações que a autora é capaz de criar.

Os rivais de Ranma
No colégio Furinkan, todos os dias antes de começar as aulas, Akane precisa sair no braço com dezenas de alunos que tentam derrotá-la em duelo. Tudo porque o apaixonado e insistente Sempai (veterano) Tatewaki Kuno dissera que quem conseguisse derrotar Akane, poderia ser um pretendente a namorado da garota. Praticante de Kendo e cheio de grana, Kuno decide matar Ranma ao saber do noivado dele com sua amada Akane.  Mas esse amor incondicional é abalado quando ele conhece a  versão feminina de Ranma.  Apaixonando-se à primeira vista, o rapaz vive em função de conquistar sua rebelde  “garota de rabo de cavalo” e a doce (na mente dele, é claro) Akane. Tapado toda vida, Kuno não percebe que “a” Ranma e “o” Ranma são a mesma pessoa – mesmo que em diversas circunstâncias,  isso fique bem claro diante de seus olhos.

Kuno possui uma irmã que se auto-intitula “A Rosa Negra”. Praticante de ginástica rítmica marcial (aliás, qualquer coisa no anime é “marcial” =P), Kodachi, é bastante desonesta na hora das lutas e acaba se apaixonando pela versão homem de Ranma. Até aí tudo bem; mas a doida acaba tomando ódio da versão mulher do azarado herói. Da mesma forma que seu irmão, Kodachi não se dá conta que ambos são uma só pessoa. O resultado dessa confusão são hilários momentos dos irmãos Kuno disputando o amor de Ranma que tenta se esquivar de todo jeito da dupla.

Quando criança, Ranma estudou em um colégio de meninos e conheceu Ryoga Hibiki. Sempre pegando a última e disputada merenda do dia, na exata hora em que Ryoga seria agraciado, Ranma sem querer ganhou um rival por toda vida quando “deixou de comparecer” a um duelo. Na verdade Ranma foi a esse duelo e ficou esperando dias até que se cansou. Ryoga também foi para o duelo, num terreno baldio atrás de sua casa, mas estranhamente demorou dias pra chegar ao local. Acontece que o pobre Ryoga tem um “pequeno” problema com seu senso de direção e é incapaz de seguir um mapa sem desviar-se em um caminho simples e se perder. Nas andanças atrás de Ranma pra acertar as contas com o rapaz, ele acaba indo parar na China e cai numa das fontes amaldiçoadas. Só que diferente de Ranma, o rapaz virou um porquinho preto pra lá de enfezado.

Depois de passar o pão que o diabo amassou como porco e caminhar por anos (?!) até encontrar Ranma no Japão, o cara só quer saber de vingança, mas acaba se apaixonando por Akane quando involuntariamente se torna seu porquinho de estimação, ganhando o nome de P-Chan. A garota não sabe que P-Chan e Ryoga são a mesma pessoa e o rapaz passa a procurar por uma “cura” para maldição para que um dia se torne um homem completo e possa declarar-se para ela. Apesar de rivais, Ranma e Ryoga acabam se relacionando como amigos, mas nunca desperdiçando uma chance de entrar no tapa e resolverem suas diferenças – ainda mais quando Ryoga acaba se apaixonando por Akane depois que a conhece…

Da China, surge a serelepe Shampoo. Vivendo em uma tribo amazona próximo da Jusenkyo, a garota passa a querer matar a versão mulher de Ranma após ser derrotada em um duelo tradicional da tribo. Contudo, Shampoo se apaixona pela versão homem do cara e se auto-proclama noiva do rapaz quando este a derrota em combate. Tudo seguindo as lendárias tradições das amazonas. Depois de vencida, Shampoo volta pra China e acaba caindo em uma das fontes amaldiçoadas se tornando uma linda gatinha cor de rosa. O problema é que Ranma odeia gatos, pois quando mais novo, foi obrigado a treinar uma técnica lendária que não tinha eficiência alguma – coisa que o pai esqueceu de ler por não virar a página do manual +_+. O fruto do trauma é o maior trunfo do “herói”: a lendária técnica do “Gatofu” onde sua mente fica em transe e ele luta com a agilidade de um felino.

Apaixonado por Shampoo, o cegueta Mousse surge para desafiar Ranma pelo amor da chinesinha. Fazendo uso das mais variadas (e inacreditáveis!) armas por baixo de suas vestes, o rapaz acidentalmente caiu numa Jusenkyo e agora se transforma em um pato – míope e cheio de truques por baixo das penas.

A bisavó de Shampoo, Cologne, aparece pra obrigar Ranma a se casar com sua bisneta. A velha “múmia” vive chamando Ranma de genro e não mede esforços para uní-los. Eventualmente ensina a Ranma alguma técnica especial, sendo a mais importante delas a “técnicas das castanhas assando no fogo” que faz valer a agilidade com as mãos de quem aprende. Também ensinou uma técnica poderosa à Ryoga conhecida como ponto de ruptura para que derrotasse Ranma.

Ainda no elenco geriátrico da série (hihihi) temos Happosai. O velho tarado por calcinhas e qualquer peça de roupa que cubra as partes íntimas das meninas  foi o mestre de Genma e Soun e, de tão pilantra, foi trancado pelos dois numa montanha. Ele consegue escapar e vai à procura de seus malandros pupilos. Até mesmo a poderosa Cologne sabe que o velho é perigoso e num passado muito, muuuuito distante, eles tiveram um affair mal resolvido. Uma das principais características do velhinho é seu egoísmo e inacreditavelmente, existe uma “justificativa” para a alucinada tara do vovô…

Completando o que podemos chamar de elenco principal da série, temos Ukyo Kounji. Quando criança, ela e Ranma brincavam em troca de okonomiyakis (uma espécie de pizza japonesa de legumes). Vendo uma oportunidade de “negócio”, Genma promete seu filho em casamento ao pai de Ukyo e que oferece como “dote” um carrinho de okonomiyaki. Quando partem em sua jornada de treinamento, Genma deixa a decisão nas mãos de Ranma (na época com 6 anos achando que Ukyo fosse um garoto X_X) de escolher entre a carrocinha ou a garota. Ingênuo, Ranma escolhe a corrocinha e isso traumatiza Ukyo que promete nunca se apaixonar por nenhum outro garoto. O trauma é tão grande que ela passa até mesmo a se vestir como um garoto. Depois de anos, ela decide acertar as contas com Ranma e se torna mais uma garota na cola do rapaz.

Pensa que acabou? Ainda há a dupla de ouro da patinação marcial (hein?) do colégio Koolhotz –  Azusa e Mikado. Com uns parafusos a menos, Azusa é apaixonada por coisinhas fofinhas (ela tem uma coleção de bugigangas no quarto e nomeia cada uma delas com um nome em francês) e quando encontra P-Chan o chama de Charlotte, forçando uma disputa com Akane pela sua posse. Seu par, Mikado Sansenin é um playboy narcisista que acaba se apaixonando pelo Ranma mulher e chega a lhe roubar um beijo – para desespero do rapaz que faz de tudo para derrotá-lo, mesmo sem saber patinar no gelo.

E por aí a trama vai se desenrolando com Ranma ora sendo objeto de desejo, ora sendo objeto de ódio de outros loucos e loucas. Todos os personagens da trama têm sua relevância em algum momento (como o Dr. Tofu) e a impressionante capacidade de Rumiko Takahashi em criar personagens carismáticos é de causar inveja. Quem é fã do gênero de animes com comédia romântica na história não vai se arrepender pois, além dessa qualidade, a série ainda apresenta lutas vibrantes e uma história viciante. Mas Ranma tem um “ponto fraco”.

Talvez o maior problema em Ranma 1/2 seja a lentidão com a qual o roteiro da série evolui. Todos que leem o mangá ou assistem ao anime geram uma expectativa quanto ao momento em que Ranma e Akane irão se declarar um pro outro e deixar de lado os arranca-rabos . Senão isso, a gente fica na expectativa dos “amaldiçoados” encontrem uma cura pro seu problema ou se arranjarem com alguém – que não seja o Ranma, claro.  Mas por alguma razão (financeira, quem sabe?) Rumiko Takahashi  deixa de lado a chance de dar um desfecho legal pra série e seus personagens, optando por arrastar a história – de forma desncessária.  O resultado disso é que os personagens que vão pipocando no decorrer na história rendem uma série de situações  mega-cômicas, que sustentam uma comédia deliciosa, mas que se tornam enjoativos. No anime, especificadamente,  qualquer um se sente cansado de tanta enrolação e o fato da série acabar de forma não-conclusiva, apenas faz você pensar que Rumiko tem algum problema em criar finais. O pior é que isso se confirmou alguns anos depois com Inu Yasha

A maldição de Ranma no Brasil
Da mesma forma que Yu Yu Hakusho, Ranma ½ era um título relativamente conhecido no Brasil graças a vários jogos da série que chegaram por aqui, como já dito. A popularidade dos games estilo Street Fighter para os consoles de 16Bits chegou a ser destaque em algumas revistas de games da época, que entupiam as bancas de jornal no começo dos anos 90.

Aproveitando-se disso, em meados de 1997, a distribuidora Tikara Filmes elegeu Ranma ½ como sua próxima aposta no mercado brasileiro. A série aliava elementos que agradaram o público brasileiro em Yu Yu (lutas e uma certa dose de comédia) e muitos episódios. A única coisa que preocupava eram os peitinhos e bundinhas de fora que apareciam no desenho. Estaria o público brasileiro preparado para assimilar que a conotação daquelas cenas não era despertar a libido das “crianças” mas sim gerar situações de comédia?

Com um sistema de classificação indicativa mais flexível do que temos hoje, Ranma ½ foi enviado para os estúdios da Audio News no Rio de Janeiro para ganhar uma dublagem teste e ser apresentada aos executivos da TV Manchete. Com as vozes de Marco Ribeiro (dublador do Yusuke) e Fernanda Krispin (dubladora da Keiko) encarnando Ranma e Akane, a série passou pelo crivo do canal – que se responsabilizou em dar um jeitinho para censurar uma ou outra ceninha mais “ousada”. A expectativa era de que Ranma fosse ao ar a partir de março de 1998, mas faltava um detalhe na história: a assinatura do contrato de exibição.

Mergulhada em uma crise financeira que culminaria com sua extinção em 1999, a emissora dos Bloch teria oferecido um valor muito abaixo do que a Tikara pedia pela série – pra se resguardar de eventuais prejuízos no licenciamento – e a resposta do senhor Toshiko Egashira foi um sonoro não. Resultado: 1998 passou e nada de Ranma estrear. A série chegou a ser oferecida para Record – que tinha adquirido um pacote de desenhos, entre eles as versões japas do Zorro, Robin Hood e Branca de Neve  – mas a direção do canal viu muita “safadeza” na série e se recusou a pegar.

Naquele mesmo período, abria as portas em São Paulo uma lojinha que se tornou point dos otakus na época: a Animangá. Com um atendimento mais amigável que as lojas do bairro da Liberdade, a Animangá tinha o ambicioso projeto de trabalhar com mangás no mercado brasileiro. Mesmo com a popularidade dos animes em alta depois do sucesso d’Os Cavaleiros do Zodíaco, os quadrinhos orientais pareciam muito distantes de nossa “realidade”, já que nenhuma grande editora apostava no gênero. Foi então que em setembro de 1998, chegou às bancas a primeira edição de Ranma ½.

Com formato americano, o mangá tinha uma qualidade altamente discutível. Pra começar, o formato de leitura era ocidental e o padrão da publicação era similar (pra não dizer igual) ao visto nos EUA pela VIZ. Ainda que o papel tivesse uma boa qualidade (o mesmo usado pela Conrad nos seus primeiros títulos – Pokémon, Saint Seiya e Dragon Ball) a impressão do primeiro volume foi horrenda e erros de português eram constrangedores. Mas a partir da 4ª edição (que se propusera a ser bimestral, mas depois ficou “devezenquandonal”) uma equipe formada pela própria loja começou a cuidar do material e a inserir reportagens e anúncios no final da revista. Uma das edições inclusive apresentou a raríssima foto de Luiz Henrique, cantor das músicas em português de Yu Yu Hakusho,  numa matéria sobre o “lendário” evento conhecido como Mangácon.

Brasileiros sedentos por material made in japan renderam boas vendas para a publicação e numa época onde enquetes com leitores eram feitas por meio do envio de cartas pelo correio (o_O), a Animangá perguntou qual poderia ser o 2º lançamento – que nunca ocorreu – da editora. Com a concorrência da Conrad (que publicava mangás no sentido de leitura original, com o dobro de páginas e uma impressão de qualidade), a editora não teve fôlego para manter a publicação e no ano de 2003, o último número foi lançado. Reunindo todo material, a Animangá publicou 29 edições da revista que cobriram apenas 7 tankobons completos – de um total de 38.

Enquanto Ranma em mangá sofria o pão que o Happosai amassou, o anime não conseguia de jeito maneira ganhar um canal para ser exibido. A Tikara tentou vender para Band no começo dos anos 2000, mas a emissora achou o preço da série muito caro. A Rede TV!, que ocupou o lugar da Manchete, queria distância de coisas que lembrassem o antigo canal e se recusou a adquirir o anime. Dizem as más línguas que por não ter conseguido vender a série, a Tikara Filmes teve que fechar as portas e assim, parecia que jamais o público brasileiro teria a chance de assistir ao anime dublado.

A Grande Aventura na China – e no Brasil
A partir de outubro de 2001, a editora Abril resolveu se render à febre dos heróis japoneses e começou a lançar no (hoje) ultrapassado formato VHS os filmes de Dragon Ball e DBZ no Brasil. Após completar a coleção em 2004, a revista Heróis da TV pegou todos de surpresa com o lançamento de Ranma ½ : Grande Aventura na China. A fita era nada mais, nada menos que o primeiro longa da série, lançado em 1990 nos cinemas Japas.

O filme mostrava uma história fechada onde Akane é sequestrada por um estranho tipo chamado Kirin e que planeja desposá-la. É claro que o orgulhoso Ranma, mesmo insistindo que não liga pra garota, não vai permitir que o cara se dê bem e parte pra China para salvá-la. Toda turma principal do elenco dá as caras e lutam pra ajudar o herói a salvar sua amada. A história até que é legalzinha e é cheia de reviravoltas e confusão – no mesmo estilo da série pra TV.

Dublado no falido estúdio Parisi Vídeo, foram escalados para as vozes de Ranma, Márcio Araújo (James em Pokémon) como Ranma homem e Fátima Noya (Sango em Inu Yasha) como Ranma mulher. Outros que fizeram parte do elenco foram Wendel Bezerra (Ryoga), Hermes Baroli (Mousse), Márcia Regina (Shampoo) e Letícia Quinto (Akane).

Infelizmente, após esse lançamento a editora cancelou a revista (provavelmente não vendeu bem…) e o pior de tudo é que foi dublado não só um, mas dois filmes de Ranma na Parisi (!). O segundo longa, Minha Querida Concubina, nunca foi lançado, só pra aumentar ainda mais a macumba pra cima da série no país. Mesmo hoje em dia, é bastante raro achar o VHS do 1º filme – que estranhamente nunca foi parar nas piscinas de DVDs da vida…

O tempo passou e no ano de 2005 a série de TV de Ranma ganhou uma nova chance no Brasil. Acontece que o Cartoon Network adquiriu os direitos do anime através da distribuidora Cloverway e assim, finalmente, a série estreou na madrugada do dia 03 de Julho de 2006. Final feliz? Não mesmo…

Mesmo sendo exibido num horário livre pra qualquer censura, a versão apresentada pelo Cartoon Network teve edições, congelamentos e estranhas “nuvenzinhas” por cima das partezinhas íntimas das personagens. Os fãs repudiaram tal ação, mas como o Cartoon Network é um canal “família”, essa opção pareceu justificável. Ironia do destino ou não, depois de apresentar os 161 episódios da série, o canal largou de mão os animes e não adquiriu mais nenhuma produção de peso pro público otaku (coisas genéricas como Bakugan e Meninas Super Poderosas Z não contam, ok?)

Falando na dublagem, a mesma foi realizada na Álamo com tradução da equipe de mangás da JBC – o que assegurou a qualidade do texto, ainda que se desse certas “liberdades criativas” para fazer algumas piadinhas funcionarem ou homenagear outros animes, como Ranma cantarolando a abertura de Yu Yu Hakusho em português =P.

Márcio Araújo e Fatima Noya renderam um/uma ótimo/ótima Ranma e a nova voz da Akane (Tatiane Keplemaier) não tinha tanta força como a interpretação de Letícia Quinto no filme, mas até que a dubladora soube trabalhar o lado doce da garota. Entre os destaques, temos Carlos Silveira (Shaka de Virgem) interpretando o tarado do Happosai  e Alfredo Rollo (Vegeta) como Tatewaki Kuno. Das 7 aberturas e 9 encerramentos, traduziram apenas a primeira (Jaja Uma ni Sasenai De) e o 3º encerramento (Don’t mind lay-lay Boy). As versões não ficaram muito boas (a voz da cantora parece que vai sumir :P), mas não foram nenhum desastre também.

Na TV “aberta”, Ranma ½ estreou no canal Play TV no dia 5 de março de 2007 num bloco inovador chamado Otacraze. Criado exclusivamente para veicular animes distribuídos pela Cloverway, o bloco durou menos de um ano, saindo do ar em fevereiro de 2008. Durante sua existência, Ranma teve vários horários possíveis e infelizmente não chegou a ser exibido até o final. Entretanto, diferente da versão apresentada no Cartoon Network, a Play TV exibiu a série sem cortes ou edições.

Se por um lado o anime teve essa tortuosa trilha por essas bandas, o mangá ganhou uma nova chance a partir de 2009, quando começou a ser republicado no Brasil pela JBC, dessa vez no formato tankobon.

Finalizando
Ranma 1/2 é um desses animes obrigatórios pra todo fã que possui orgulho de se dizer otaku. Infelizmente, parece que as fitas da série caíram numa fonte amaldiçoada que impediram que ela tivesse uma trajetória bacana por aqui a ponto de se tornar uma saudosa lembrança. A pergunta que fica no ar é: se Ranma tivesse estreado na Manchete em 1998, será que seu destino seria diferente em nosso país? Será que os fãs de Yu Yu Hakusho e Cavaleiros do Zodíaco iriam “aceitar” naquela época um anime mais comédia que ação?

E acreditem se quiser: tem otaku “macho” que rejeita a série sem ter visto um mísero episódio só por conta desse papo de “homem que vira mulher” não soar bem. Por conta desse preconceito estúpido, Ranma é conhecido como “anime para gays”  com um herói “traveco”. Talvez até soasse engraçada essa alcunha, se a origem não fosse da mente de gente ignorante…

Checklist de Episódios
01 – O estranho estranho que veio da China.
02 – A escola não é lugar para baderna!
03 – Uma súbita tempestade de amor! Ei, dá um tempo!
04 – Ranma vs… Ranma? É um mal entendido atrás do outro.
05 – Me ame até os ossos! O coração de Akane é uma múltipla fratura.
06 – O coração partido de Akane! Não dá para fazer nada.
07 – Entra Ryoga! O eterno garoto perdido.
08 – O colégio virou um campo de batalha! Ranma vs. Ryoga.
09 – Confissões verdadeiras! O cabelo de uma garota é sua vida!
10 – P-P-P-Chan! Mas que porcaria!
11 – Perdida de amor por Ranma! A ginasta delinquente!
12 – O amor de uma mulher é uma batalha!
13 – Uma lágrima nos olhos de uma delinquente?
14 – Uma disputa diferente! Ranma é a esposa Nº um do Japão.
15 – Surge Shampoo, uma garota cheia de energia!
16 – A Técnica de Shiatsu que rouba o coração e a alma.
17 – Eu te amo, Ranma! Por favor não diga adeus.
18 – Eu sou um homem! Ranma vai voltar para a China!?
19 – O sequestro de P-Chan.
20 – Perigo eminente! A dança… da morte!
21 – P-Chan explode! A gelada fonte de amor!
22 – O confronto das garotas de entrega! A corrida de Delivery Marcial.
23 – Você realmente odeia gatos!?
24 – Eu sou a anciã das amazonas!
25 – Vejam! A técnica das castanhas assadas na fogueira.
26 – Mousse em ação! O punho do cisne branco.
27 – Competição fria! A corrida de bonecos de neve.
28 – Perigo na academia Tendo!
29 – O terrível treino nas montanhas.
30 – O ponto de ruptura! A grande vingança de Ryoga.
31 – O sequestro de Akane!
32 – Ranma vs. Mousse! Perder é ganhar.
33 – Happosai, o velho safado!
34 – Invasão no vestiário feminino.
35 – A casa de invenções de Kuno! Convidados
36 – Adeus a forma de garota
37 – Uma fina linha entre prazer e dor.
38 – S.O.S.! A ira de Happosai.
39 – Beijar é uma doce tristeza! O roubo do beijo de Akane
40 – A batalha na casa de banho!
41 – O perseguidor de Ranma.
42 – Ryoga mais Akane: Juntos para sempre.
43 – Espirre, por favor!
44 – em um pervertido na banheira.
45 – Eu te amo! Oh, minha querida Ukyo.
46 – O ladrão de lingerie que me amava.
47 – Transformação! Akane a Super-Garota.
48 – O matador de Jusenkyo.
49 – Eu sou… bonita? Ranma assume seu lado feminino.
50 – A cabeçada final! Happosai contra o homem invisível.
51 – Os miseráveis da propriedade de Kuno!
52 – Fantasmas! Ranma e a espada mágica.
53 – Só deve haver um! O beijo de amor é o beijo da morte.
54 – O time dos sonhos!? A aliança de Ryoga e Mousse.
55 – De volta à Happosai!
56 – Kodachi! A rosa negra.
57 – Os últimos dias de Happosai…
58 – Duas garotas muito violentas: Ling-Ling & Lung-Lung.
59 – Ranma e o mal interior.
60 – Surge Ken e seu lenço copiador.
61 – A cura milagrosa de Ryoga! Passa pra cá esse sabonete.
62 – A corrida de obstáculos estilo vale-tudo.
63 – A saia da Ukyo! A grande estratégia.
64 – Ranma finalmente volta para Jusenkyo.
65 – O retorno do diretor havaiano do inferno.
66 – Surge Kuno, o cavaleiro noturno.
67 – Ranma fica fraco!
68 – Eureka! O desesperado passo do desespero.
69 – Confronto! Será que Ranma consegue uma revanche?
70 – Aí vem a mãe do Ranma!
71 – O passado de Ryoga.
72 – Meu noivo, o gato.
73 – Velas ao vento! Ser jovem é aventurar-se.
74 – O admirável discípulo novo.
75 – Para fora!
76 – O diário de Ryoga na “Academia Tendo”.
77 – Happosai apaixonado!
78 – O polêmico amor de Kuno: Nabiki!?
79 – Ryoga, o forte… forte demais.
80 – Por um triz! O segredo de P-Chan.
81 – O apanhador de ovos.
82 – O primeiro beijo de… Ranma e Kuno.
83 – O terror da linha vermelha da Shampoo!
84 – Mousse volta para casa!
85 – A aposta mais idiota da história!
86 – Kuno se torna Marianne!
87 – Ranma, você é mesmo um tapado!
88 – Ling-Ling & Lung-Lung atacam novamente!
89 – Me dá este rabo de cavalo.
90 – Quando o orgulho e a alegria de um homem se vão.
91 – A proposta de Ryoga.
92 – Genma foge de casa.
93 – A gentil arte da cerimônia do chá marcial.
94 – E o desafiante é… uma garotinha?!
95 – O grande combate nas termas!
96 – Eu sou o papai do Kuno, eu sou.
97 – A matriarca fica de pé.
98 – Colant é assunto de mulher.
99 – O terror do banho-misto!
100 – A maldição do homem-sapo!
101 – A vingança da pizza de legumes!
102 – Ranma o terror das mulheres.
103 – O desafio mortal do Shogi marcial.
104 – Sasuke: “missão improvável”.
105 – Bonjour, Furinkan!
106 – Jantar à luz do ringue!
107 – Nadando com os loucos.
108 – Ryoga cavalga rumo ao pôr do sol.
109 – A hora do pesadelo de Happosai.
110 – A nova noiva de Ranma, Nabiki!?
111 – O mistério dos bolinhos perdidos!
112 – Ranma enfrenta Ranma-Sombra!
113 – O adorável papai de… Kodachi!
114 – Um novo rival? Surge Gosunkugi!
115 – Ranma e o desafio da caligrafia marcial.
116 – O chefão secreto do Colégio Furinkan.
117 – Voltar à ser como éramos antes…
118 – Ryoga herda a Escola Saotome?
119 – A Família Tendo vai ao parque de diversões!
120 – O caso do maníaco do Furinkan!
121 – O monstro namorador da Ilha Melancia.
122 – O demônio de Jusenkyo, Parte I.
123 – O demônio de Jusenkyo, Parte II.
124 – A matriarca desaparecida da Cerimônia do Chá Marcial!
125 – Um natal sem Ranma.
126 – Inverno louco no país das maravilhas.
127 – Oh não, Akane está no hospital!
128 – A maldição da panda rabiscada.
129 – A lenda do panda da sorte!
130 – O mistério do vaso de polvo saqueador!
131 – O molho secreto de Ukyo, Parte 1.
132 – O molho secreto de Ukyo, Parte 2.
133 – A história de uma garota fantasma.
134 – Os bonecos de papel do amor de Gosunkugi.
135 – Eu não entendo o coração de Akane.
136 – Mestre e aluno… para sempre!?
137 – Tatewaki Kuno, diretor substituto.
138 – O maior desafio de Ranma!
139 – Nihao! Guia de Jusenkyo.!
140 – Happosai para dar e vender.
141 – Das profundezas do desespero, Parte I.
142 – Das profundezas do desespero, Parte II.
143 – O beijo amaldiçoado de Shampoo.
144 – Fuja comigo, Ranma. Novo!
145 – Vamos para o Templo do Cogumelo.
146 – O Berço do Inferno.
147 – O grito de socorro de Madame St. Paul.
148 – Encontro você na Via Láctea.
149 – Os miseráveis bolinhos de arroz do amor.
150 – O temível fungo explosivo de Happosai!
151 – O escândalo dos irmãos Kuno!
152 – A batalha pelo jogo de chá dourado!
153 – O romance de verão de Gosunkugi!
154 – A batalha pelo concurso Garota da Praia.
155 – Pode vir! O amor de uma animadora de torcida, Parte 1.
156 – Pode vir! O amor de uma animadora de torcida, Parte 2.
157 – Os instrumentos musicais da destruição.
158 – O cão de um ninja é branco e preto.
159 – A lenda do dragão dos Tendo.
160 – Ranma encontra sua mãe.
161 – Algum dia, de alguma forma…

[/div][div coluna2]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=GXxWBdHzDfk 255 214]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ZFkZP5xDbo8 255 214]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=GIQ4OfhZRqU 255 214]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=uXiaxOXAiLw 255 214]

[/div]