Muitos são os fatores condicionadores para o estabelecimento de um costume. No Brasil, a invasão dos animes na TV aberta, na famosa era da Manchete, foi de importância incomensurável para que os desenhos japoneses (não chorem) entrassem em nossas vidas. Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball são decerto os dois mais conhecidos dentre esses – pelo menos por enquanto! Isso porquê um certo personagem conseguiu, quando os animes já não mais estavam em alta (na televisão), atrair atenção do público e então iniciar uma nova fase para os animes e mangás em nosso país: estamos falando de Naruto, um dos maiores sucessos do Brasil e do mundo.

A série com certeza é um dos principais motivadores para o atual bom momento do mercado nacional (embora seja bom lembrar que, apesar do sucesso, não fora o suficiente para melhorar o panorama dos animes na tv brasileira).

Sua chegada ao país foi em 2007, através da animação, que era transmitida pelo Cartoon Network. Estreando no canal pago em janeiro daquele ano, teve o mangá trazido pela Panini logo em seguida, em maio. No entanto, foi em julho que o SBT iniciou sua transmissão e esse foi um momento crucial para a propagação da obra, já que a TV aberta sempre teve maior alcance. Também ajudou, é claro, a restabelecer a relação entre o público brasileiro e os quadrinhos e animações da terra do sol nascente.

De lá pra cá, passaram-se cerca de 8 anos muito agitados: os animes sumiram da televisão, mas os fansubs cresceram e se multiplicaram, o público também cresceu, os eventos se popularizaram, as bancas ficaram cada vez mais cheias de mangás, Naruto enfim chegou ao fim no Japão (e no Brasil) e, agora, acaba de ganhar a sua 3ª edição nacional.

Enfim, é hora de conhecermos Naruto Gold, da Panini!

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Sobre o mangá

Primeiras informações

Escrito e ilustrado por Masashi Kishimoto, Naruto é um dos maiores sucessos da revista japonesa Shonen Jump, na qual foi publicado semanalmente por longos 15 anos (de 1999 a 2014). Com um total de 72 volumes, a série se popularizou através do anime produzido pelo Studio Pierrot, que, diferente do mangá, ainda está em andamento na chamada fase Shippuden.

Além disso, o sucesso rendeu ao ninja diversos filmes, sendo que o último deles, The Last: Naruto O Filme, foi exibido por aqui pela Playarte a mesma a organizar, em maio deste ano, o Festival Naruto, que recebeu muitos fãs para a exibição dos primeiros episódios de Shippuden em versão dublada.

E como já foi dito, o título chega para sua 3ª publicação no Brasil. A primeira, iniciada em 2007, veio no formato original tankobon e encerrou-se no final do ano passado. A segunda, que ainda está em andamento, chegou em 2010 no formato pocket  esse um pouco menor do que o outro (como o nome sugere) e com preço mais acessível.

Agora, temos a terceira edição: Naruto Gold – inspirada num formato deluxe da Panini Itália – vem com capa em laminação fosca e hot stamping dourado em alguns detalhes; um mini-pôster colorido em cada volume e as páginas em papel offset.

A história

O mangá conta a história de Naruto, um jovem ninja da Vila Oculta da Folha, que possui um sonho: se tornar Hokage, título dado ao maior shinobi da vila. Mas para isso, precisará encarar dificuldades tremendas, já que é órfão e guarda uma herança terrível cujos habitantes da vila o escondem.

Desenvolvimento

Começamos com um mote típico de série da Shonen Jump. Temos um protagonista sonhador, que encontra obstáculos e precisa passar por eles para atingir seu objetivo. E esses obstáculos são constantemente renovados: Naruto precisa lidar com problemas que já carregava e ainda tem que enfrentar o surgimento de novas complicações.

Então o caráter do personagem principal é apresentado como primeiro ponto para o desenrolar da história, em conjunto, é claro, de suas ações advindas. Em seguida, temos os demais personagens e seus respectivos comportamentos, que consistem no ponto primordial da trama. Sim, pois, embora haja a incessante busca por reconhecimento por parte de Naruto, o que o personagem busca de fato é uma relação harmoniosa com os moradores de sua vila. Essa relação não existe pois o garoto é mal visto e a maioria o evita por ser órfão e carregar consigo um fardo tremendo (evitaremos ao máximo dar qualquer tipo de spoiler).

Daí a história se desenvolve vagarosamente, lembrando até, em alguns aspectos, as epopeias gregas (Ilíada e Odisseia): o enredo é narrado e desenrola-se a longo prazo e o final de tudo parece óbvio desde as primeiras páginas. Só que o Kishimoto é muito melhor que Homero, e o Naruto muito mais legal que o Aquiles (na verdade, o Sasuke é quem estaria mais próximo de ser um Aquiles, mas isso não interessa tanto ou, pelo menos, não deveria).

Enfim, não nos prolongaremos muito aqui, pois vocês já sabem o final da ópera.

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A edição nacional

Anunciada em maio, no Festival Naruto, Naruto Gold veio como promessa de ser uma edição melhorada, com maior durabilidade, o que de fato é. Seria ele o grande lançamento da Panini no Anime Friends, evento realizado em julho, em São Paulo. Todavia, houvera uma infelicidade com a produção e os exemplares não passaram no controle de qualidade, o que impediu a venda dos volumes no evento. Então o lançamento foi adiado para o final do mês (o evento aconteceu um pouco antes disso).

A edição chegou na última semana de julho por R$ 16,90. Começando pela capa, seu acabamento é em laminação fosca e esse é o primeiro detalhe a chamar atenção. O segundo é o hot stamping presente em alguns elementos dela, como no subtítulo “gold”, na faixa horizontal que fica na parte inferior da primeira capa e nas listras verticais da contracapa.

O layout da capa mantém quase que o mesmo padrão das edições comum e pocket. As alterações são sutis, mas realmente fazem diferença (é claro, né, ô). Obviamente, o nome “gold” é uma novidade dessa edição, assim como os detalhes em dourado. As faixas da capa e da lombada, que na primeira versão alternavam entre azul e laranja (e eram azuis na pocket), agora serão douradas em todos os volumes. Há, também, mudança no posicionamento (e na fonte) do nome autor e a inclusão dos selos da Panini Comics e Planet mangá na parte superior à esquerda (nada muito incômodo) da capa da frente.

A capa traseira (ou contracapa) foi quem mais sofreu alterações aparentes. A ilustração da frente foi redimensionada e colocada nela ocupando metade da capa. Há três listras verticais douradas e duas brancas logo ao lado da arte, formando uma espécie de borda. O logo foi posicionado quase que no centro, mas um pouco à esquerda, com o nome do autor abaixo e uma pequena sinopse (além do código de barras e os respectivos selos da Panini e da Jump). Ficou muito bonito!

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Abrindo o mangá, temos outra coisa para agradar aos fãs: um mini-pôster colorido exclusivo da edição nacional. Trata-se da mesma ilustração da página dupla de abertura do primeiro capítulo. Segundo Beth Kodama, editora da Panini, serão pelo menos 3 pôsteres exclusivos, nas 3 primeiras edições. Sobre os demais, a mesma disse que é provável que sejam utilizadas imagens dos artbooks da série para a elaboração.

As capas internas, diferente das outras edições, não possuem nenhuma ilustração, nem mesmo um freetalk (esse, aliás, está presente nas páginas finais, antes do glossário). Contudo, é de se destacar a qualidade do trabalho de editoração do primeiro volume. A fonte de algumas partes do texto, como título dos capítulos, foi alterada para uma mais agradável (agora parece ser a famosa ‘Impact’). A diagramação está sem problemas e as falas estão bem dispostas nos balões e quadros, como é de se esperar das edições atuais da Panini.

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O trabalho de tradução, encarregado a Ricardo Cruz, sofreu nova revisão e agora é creditado não só a ele, mas também à Luciane Yasawa. Em relação à edição comum, o texto foi alterado (desde a primeira página). Aliás, no campo semântico, temos algumas alterações importantes. Na primeira edição, o sexto capítulo tem como título “Deixe com o Sasuke”, já na versão gold temos “Não com o Sasuke”, o que, de certo modo, nos deixa com (o Sasuke) um pé atrás.

Assim como Nobuhiro Watsuki (criador de Rurouni Kenshin) e outros tantos, Kishimoto costuma escrever textos intercalados com os capítulos para dialogar com o leitor sobre o processo de criação da série, curiosidades da carreira de mangaká e até sobre sua vida pessoal. Num desses textos, o da página 150 da primeira versão, correspondente a 148 da edição Gold, temos uma anedota em que o autor fala sobre uma “planta de estimação” que deixou morrer.

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“Papinho que tem cara de ser chato pacas com Masashi Kishimoto”, título da historinha, tem resoluções diferentes entre a publicação atual e a anterior: numa versão, a plantinha morre por falta de água (tadinha, sofreria o mesmo em SP). Na outra, a atual, ela é fatalmente assassinada por aplicação incorreta de adubo líquido. Evidentemente, a oscilação dos textos, nesse caso, não implica em nada no entendimento da série, já que é algo totalmente isolado da história do mangá. Porém, nos deixa uma certa desconfiança.

Ainda comentando os signos, temos as onomatopeias. Na nova edição, elas estão grafadas como no original, em japonês, e com a tradução logo abaixo. Curioso é que o público dá mais atenção a isso do que o imaginado, e costuma cobrar as editoras quando um mangá vem com onomatopeias grafadas diretamente no sistema ocidental. Um caso mais recente é o do relançamento de Berserk, que teve, em sua primeira passagem, onomatopeias traduzidas, mas na nova edição elas foram preservadas em JP a pedido dos fãs.

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Agora, vamos para a parte mais polêmica de Naruto Gold: o papel.

O papel a ser utilizado nos encadernados da coleção é o offset 90g. Esse material vem sendo muito bem recebido pelos leitores, desde que voltou à moda, com os relançamentos de Sakura e Rurouni Kenshin, da JBC. A Panini também tem trabalhado com o offset em suas edições mais “luxuosas”, como Berserk, Hideout e Planetes. Até agora, vinha sendo bem elogiada pelos consumidores. MAS, como nem tudo são flores, Naruto Gold veio para quebrar o protocolo e deixou muita gente insatisfeita com relação ao papel.

As páginas estão transparentes em boa parte do encadernado. E isso incomoda bastante, convenhamos. Podemos notar que, em algumas cenas, a transparência dificulta na recepção dos quadros. Em muitas partes, os traços de uma página se junta com os do verso e da página seguinte, gerando certo desconforto e confusão na leitura.

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Naruto Gold tem cerca de 190 páginas, assim como na primeira publicação. Enfim, o papel offset de 90g é de maior gramatura comparado ao pisa bright (que tem entre 48g e 52g), então deduzimos que a edição atual deveria ser mais volumosa que a antiga. Porém, não é o que vemos na imagem abaixo:

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Por incrível que pareça, a antiga (que está muito mal preservada, por sinal) consegue ser mais espessa. De longe, esse é o maior problema da edição e, embora tenhamos apontado alguns outros detalhes menores, é o papel quem mais deixa a desejar.

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Considerações finais

Finalizando, é bom deixarmos claro que temos em banca um material com mais qualidade. O mangá parece ter sido feito com o carinho que a Panini costuma ter com Naruto, afinal, é o seu maior título (em questão de sucesso). É uma pena, porém, que o trabalho gráfico não tenha sido totalmente satisfatório.

Ficamos na torcida de que o volume 1 seja uma exceção e de que o problema não venha se repetir nos demais encadernados. Contudo não sabemos se, para a editora, a qualidade dessa folha quase transparente será considerada um problema. Esperamos, definitivamente, que a resposta seja positiva, pois uma edição de ouro não pode apresentar um papel de bronze.

Pra ser mais otimista, vale lembrar os casos de Vinland Saga, que teve um volume lançado com papel inferior ao de costume, mas foi corrigido no número seguinte, e Tokyo Ghoul, lançado recentemente com um pisa bright “diferenciado”, mais branquinho. Também é bom lembrar que a editora está testando uma nova gráfica, já que a anterior vinha cometendo algumas mancadas.

Enfim, talvez Naruto Gold 1 não faça valer os R$ 16,90, mas quem sabe em Naruto Gold 2 não mudamos de ideia? Inclusive, uma boa saída para aliviar o bolso durante toda essa nova jornada que se inicia é recorrer às assinaturas, que oferecem descontos e um brinde exclusivo para os assinantes: um chaveiro ainda desconhecido (nenhum assinante que entramos em contato recebeu a encomenda, por enquanto).

Fiquemos com a avaliação final:

Avaliação final

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Naruto Gold

volume 1
de Masashi Kishimoto
Formato: 13,7 x 20 cm, 192 páginas
Papel: offset
Periodicidade: mensal
Concluído com 72 volumes

Prós

  • Capa de laminação fosca com detalhes dourados em hot stamping;
  • Pôsteres em cada edição;
  • Trabalho de editoração melhor acabado (mais clean e elegante);
  • Tradução revisada e onomatopeias originais em japonês;
  • Assinaturas com desconto e brinde exclusivo para assinantes;
  • Papel de melhor qualidade em relação às publicações anteriores*

Contras

  • Capas internas sem detalhe, característica retrógrada em relação às edições comum e pocket;
  • Demora na entrega para assinantes;
  • Papel transparente.

Nota da edição nacional: ★★★★✰ (4/5)