Dragon Ball é uma daquelas unanimidades que transcendem a animação japonesa: ele não é só considerado um anime, ele é conhecido pelo próprio nome e méritos. Não temos dados concretos sobre isso no Brasil, mas dá para arriscar que Goku e seus amigos estão num mesmo nível de importância cultural de um “Seiya e os outros”. Porém, ao contrário de Cavaleiros do Zodíaco, que sobrevive com poucas iterações destinadas ao público latino e europeu, Dragon Ball continua enorme no mundo todo, rendendo jogos (Dragon Ball FighterZ), séries recentes (como Dragon Ball Super) e, claro, um novíssimo longa animado, Dragon Ball Super – Broly.

Esse é o terceiro filme da série Super, se levarmos em conta que A Batalha dos Deuses e O Renascimento de Freeza fazem parte desse universo do novo segmento televisivo, e se trata de uma continuação direta do anime exibido pelo Cartoon Network e disponibilizado pela Crunchyroll. Algum tempo se passou desde o final do Torneio do Poder e (surpresa!) Goku está treinando com Vegeta para aumentar os seus poderes. As lutas amigáveis são interrompida por um plano de Freeza de juntar as sete esferas do dragão, e essa é a desculpa perfeita para juntar protagonistas e antagonistas em um mesmo lugar (o continente antártico do mundo de Dragon Ball, local onde está a sétima esfera do dragão). Só que Freeza não está sozinho! O vilão que vira ouro agora conta com a ajuda de Broly, um sobrevivente da raça Saiyajin de força incomensurável resgatado de um planeta inóspito. Mas de onde surgiu esse personagem e como ele foi parar lá?

Na verdade, Broly é um personagem que já fazia parte do universo não-canônico de Dragon Ball. Durante os anos 1990, o personagem antagonizou uma trilogia de filmes (de qualidade bem variável), nos quais ele enfrentava gerações da família de Goku e os demais Guerreiros Z. Como os longas nunca eram considerados como partes da série de Akira Toriyama, o vilão acabou sendo deixado numa gaveta da Toei ao lado do Androide 13 e do Lord Slug. Décadas depois, Broly continua no imaginário dos fãs da franquia mesmo não sendo oficial, tanto que até apareceu em Dragon Ball FighterZ, e a mesma Toei decidiu ressuscitar o personagem, recontar sua história e integrá-lo oficialmente ao universo do anime. A forma na qual a empresa faz esse processo de “oficialização” de Broly acontece de uma maneira surpreendentemente boa.

Dragon Ball Super – Broly é dividido em duas partes distintas. O filme começa com um longo flashback mostrando a vida no planeta dos Saiyajins, como Broly nasceu, a relação do rei Vegeta com o ditador Freeza e, claro, acompanhamos novamente o passado de Bardock, o pai de Goku. Esqueça o filme anterior lançado para explorar a figura paterna por trás do protagonista da série, neste novo longa o personagem é explorado de uma forma nunca antes vista. Bardock sempre foi retratado como um “Rambo” Saiyajin, descobrindo sozinho o plano de Freeza de destruir o planeta Vegeta e saindo na porrada com centenas de soldados do tirano. Neste novo longa, Bardock ainda tem aquele lado mais brucutu, porém foi “amansado”. Ele tem conflitos internos, pessoas que deseja proteger (como sua mulher, não citada no filme anterior) e uma evolução narrativa que nunca imaginaríamos num filme de Dragon Ball.

Para falar bem a verdade, esse trecho com o flashback do filme é uma das melhores partes do longa, e a qualidade de roteiro é digna de um anime muito bom, superior a muita coisa já feita com a franquia Dragon Ball. É uma abordagem mais madura (porém sem a pretensão de ser “adulta demais”) dos personagens, e serve perfeitamente para introduzir Broly e recontar (e atualizar) o passado dos principais personagens da franquia de uma forma que permita a criação de novas histórias.

Já no presente, e ainda na construção da personalidade do Broly como um guerreiro solitário criado sem a presença de outros humanos, o filme introduz uma nova personagem chamada Chirai. Ela trabalha para o exército de Freeza e foi a responsável por achar Broly em um planeta inóspito. A relação do guerreiro com a capanga é muito interessante, e a personagem tem tanto carisma que dá pra torcer bastante para entrar de vez na franquia numa possível continuação de Dragon Ball Super.

Eu havia dito que o filme se divide em duas partes, certo? Após a apresentação do Broly, chega o momento no qual Freeza leva o Saiyajin para a Terra com o objetivo simples de acabar com Goku e Vegeta. É aqui que começa uma luta… que dura o resto do filme. É isso mesmo que você leu, mais da metade do filme é uma única e emocionante luta, com Broly lutando contra os dois homens mais fortes da Terra (e o Freeza também em certo momento, como o trailer já entregou).

Não me entenda mal, essa luta é animal e uma das melhores de todos os filmes de Dragon Ball. A animação está belíssima – mesmo utilizando algumas CGs de qualidade duvidosa em certos pontos-, coreografia de luta emocionante e você fica com o coração na boca a cada porrada que aparece na tela. Ok, a trilha sonora não é lá aquelas coisas, já que a música “tema” da luta é apenas uma espécie de narrador de MMA gritando coisas como “Go, Go Broly Go“, mas não estraga o clima. Porém, a luta ser gigante afeta um pouco o ritmo do filme, que fica sem muito “respiro” para o público. As poucas interrupções da batalha não ajudam o espectador a “descansar” e “recarregar” as energias até a próxima cena de luta. Ah, e esqueça a aparição de mais guerreiros na luta, o pessoal não é louco de se meter em uma batalha tão grandiosa assim.

A dublagem brasileira, como as últimas produções da franquia, foi realizada no estúdio da Unidub, mantendo elenco e a qualidade já esperada. Nenhum personagem teve voz trocada em relação à série original, inclusive os que surgiram em filmes da década de 1990. Ou seja, o Bardock continua sendo interpretado pelo Wellington Lima e o Broly mantém a voz do Dado Monteiro. Chama a atenção também dubladores clássicos convocados para uma pontinha, como é o caso de Guilherme Lopes interpretando Nappa durante o flashback de Broly.

Wendel Bezerra (Goku) e Alfredo Rollo (Vegeta) até continuam ótimos, mas o destaque fica mesmo com Carlos Campanile, o Freeza. O dublador soube se adaptar bem à mudança de perfil do personagem que rolou em Dragon Ball Super (que colocou no vilão um pouco mais de humor e psicopatia), e dá um show até nas cenas com o Freeza mais novinho. Das novas vozes, ressalto a maravilhosa Tatiane Keplmair como Chiari, deixando a capanga ainda mais carismática.

Dragon Ball Super – Broly é claramente um dos melhores filmes da franquia, não só levando em conta a “trilogia Super”, mas incluindo também os longas anteriores. Porém isso não faz com que ele seja perfeito, afinal a divisão entre cenas de ação e cenas de diálogo não é muito equilibrada. Quem for ao cinema, pode ter certeza de conhecer novos personagens bons, uma história inesperadamente ótima e cenas de luta de tirar o fôlego, com algumas piadinhas espalhadas pois isso aqui é Dragon Ball. Recomendadíssimo, ainda mais que o filme estreará no Brasil antes de grandes mercados como EUA ou América Latina.


O Filme – Dragon Ball Super: Broly estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 3 de janeiro, com distribuição da Fox Film do Brasil. Consulte o cinema de sua região para mais detalhes.