unordunary

Lançado originalmente em 2007 pela editora Gentosha, Kanojo Iro no Kanojo (no Brasil, Unordinary Life) é o primeiro mangá da editora Savana, lembrando que seu lançamento anterior, Aflame Inferno, é um manhwa, quadrinho coreano. Desta vez trata-se de uma obra voltada para jovens mulheres.

Segundo a editora, o nome “Kanojo Iro no Kanojo” foi alterado porque não tem uma pronúncia muito agradável e alegou que “a tradução seria um erro”, tendo então optado pelo título em inglês (usados também pelos franceses). Pessoalmente prefiro o nome no original ou a tradução do mesmo, até porque o nome japonês significa algo como “Ela do jeito dela”, o que não tem nada a ver com “Vida Incomum”.

A editora confirmou que usou o mercado francês como referência para a escolha dos títulos, dando preferência para leituras mais adultas e gêneros menos explorados no Brasil. O que é, como dito anteriormente, bem interessante para os leitores brasileiros. Unordinary Life, por exemplo, é um estilo bem típico chamado “Josei” que entre muitos outros temas retrata a vida de jovens mulheres com suas crises, desesperos, relacionamentos e luta pelos seus sonhos. O tipo de tema é parecido com Nana (pela JBC) e Honey & Clover (pela Panini).

O roteiro é basicamente sobre Mayu, estilista autônoma, e Yuka, lutadora de luta-livre, que acabam dividindo uma casa e se envolvendo numa profunda amizade (já viu isso em algum lugar?).

Mayu, na verdade, é uma jovem egoísta que constantemente atropela os sentimentos de seus amigos e namorados (lembra muito a Hachi de Nana), por causa disso acaba perdendo o namorado e vê-se obrigada a ir morar sozinha, o que significa que terá que encontrar um novo apartamento com preços acessíveis. Acaba por se estabelecer numa casa, sob a premissa de que terá que se mudar em 3 anos, mas enquanto isso pode alterar e decorar o interior como quiser.

Yuka, como dito, é uma lutadora de luta-livre feminino, apesar disso é uma garota de aspecto bem frágil e muito magra. Seu sonho é participar das competições e ganhar o primeiro lugar invicta. Acaba gastando grande parte de seu dinheiro com os treinos e equipamentos, o que a obriga a viver num apartamento mais barato e modesto.

Na verdade, tanto Mayu quanto Yuka moram na mesma casa que foi dividida em dois apartamentos isolados. Ou eram isolados até arrombarem a parede… E é dessa forma estranha que as duas se veem pela primeira vez, apesar de não se darem muito bem de começo. Mayu, ainda está abalada por causa da sua nova vida, acaba perdendo sua inspiração para confeccionar roupas e seus sentimentos de tristeza a deixa cada vez mais para baixo. E é Yuka, sua vizinha, que lhe estimula e inspira para continuar ao convida-la para assistir sua luta de estréia do campeonato. E é assim que o destino das duas se entrelaçam e a roda do destino começa a andar.

Esse primeiro volume é mais uma apresentação das personagens, conhecer seus sonhos, tipo de vida e amores de cada uma. E, aos poucos, a história vai se formando e a trama vai ficando mais clara. Os últimos capítulos desse volume revelam mais o enredo, inclusive o romance vai surgindo entre os personagens. Além de aparecer novos amigos, amantes e ídolos, com drama, romance e intriga.

É uma história agradável e de desenrolar bem rápido, foi desenhada por Yashiki Yukari, com seu traço característico bem leve e expressivo, e o roteiro é de AOI. Ao contrário do que foi propagandeado por ai, AOI (Azul) não é o nome de uma autora e, sim, uma dupla de pessoas que colaboram e assinam suas obras em conjunto. São eles Takamichi Yamada e Takashi Watanabe. Na versão tupiniquim do mangá seus nomes foram unidos como se fossem apenas uma pessoa “Watanabe Yamada”. Nenhum dos autores possui obras famosas, embora Yukari tenha vários trabalhos publicados.

Pulando para parte que todos se perguntam: “E ai? Como tá a revisão?”. Bem, melhorou MUITO, mas não está perfeita, dessa vez eu achei cerca de 15 erros. Entre eles erro de acentuação, exemplo, na orelha tem escrito “aniversario” (correto: aniversário), na 10 tem um “olha ai” (correto: olha aí), na 57 “o que…” (correto: o quê…), etc. Erros de espaçamento, situações onde a pontuação está espaçada, assim: “sótão !?” (068), “algo …” (58), entre outros e com duplo espaçamento, como na 55 “Não  sabem nada a respeito”. Alguns pronomes demonstrativos errados. Erro de hifenização, na 53 a palavra im.pres.sio.nan.te foi separada impressi-onante. Erros nas passagens com valores em ienes, primeiro que foi utilizado vírgulas ao invés de pontos para demonstrar os milhares (no mangá “40,000 yens”) . Em segundo lugar numa mesma página (a 13) está escrito “40,000 yens” e “45,000 yen”, aqui tem um triplo erro, primeiro “yen” é a palavra inglesa para “iene” (em português) ou “en” (em japonês), segundo em inglês “yen” não tem plural e terceiro é usado duas versões de “yen” num mesmo mangá, numa mesma página. Por último, não menos importante, tem algumas frases esquisitas na obra, exemplo, na orelha tem a frase “na correria da mangá”, acho eu que a intenção seja durante a correria da produção do mangá.

Existem onomatopéias não traduzidas, algumas com uma tradução estranha e algumas com adaptações repreensíveis, exemplos: pág. 15, “bikuh” não traduzido; pág. 19 e 20, Bashi três vezes não traduzido; Pág. 24 Gacha (som de abrir a porta) adaptado para ding dong; você pode achar mais nas páginas 25, 30, 34, 55, 59, 117, etc. Algumas placas e cartas não foram traduzidos também, como na 24, na carta, “de mayu” não foi traduzido, e na 122 a placa é “universidade”.

Quanto à edição, dessa vez eles editaram algumas falas fora dos balões apagando a original e colocando a tradução no lugar, outras colocadas ao lado e outras sobre a original, sem apagar. A mesma coisa para as onomatopeias. Caso queiram ver você mesmos, olhem as páginas 162, 034, 061 e 062.

De novo foi escolhidas fontes foras do comum e quase todos os balões, sejam eles falas, pensamentos, quadros de pensamento ou gritos, foram editadas com uma mesma fonte, a “One Stroke Script LET”. Algumas das “falinhas” estão com essa mesma, outras com uma fonte super esquisita. As onomatopéias estão com uma terceira fonte, embora algumas estejam com a O.S.S. LET. Somado a isso inúmeros balões estão descentralizados, alguns deles bem claramente (exemplo, páginas 068,160, 162, 170, 171, dentre muitas outras).

As reconstruções estão boas, tirando uns abortos aqui e ali, como os quadros na 128 e o cabelo dela está horrível na 129. Na 144 é possível ver uma edição mal feita quanto a posição da legenda, o título deveria estar acima da linha, não abaixo e sobre o desenho.

Como se não bastasse algumas falas e balões não foram editados, mantendo a fala e fonte original, pura preguiça de editar. São eles os balões de pontuação (ex: 29, 37, 40…), as falas com apenas numeração (ex: 114) e as falas com “K.O.” (ex: 117 e 118).

Outro problema relacionado à edição é a falta de fidelidade ao design do mangá original. Além das fontes que não foram respeitadas (o mangá original tem umas 10 fontes diferentes), a posição e estilo das falas também foram atropelados. Todas as falinhas foram editadas retas, na horizontal, quando na original são todas inclinadas, tortas e inconstantes. Dessa forma é possível identificar o personagem que a está falando, a direção do som e intensidade da voz. Mas, uma vez que tenha sido editado como uma fala qualquer, perde-se todas essas características e estilo.

Também foram ignorados aqueles pequenos sons sobre ou no contorno dos balões, que geralmente indicam o estado de espírito do personagem ao dizer aquela fala. Na versão brasileira foi colocado junto ao texto central do balão, algumas vezes foram só simplesmente apagados. Exemplo: na 059 deveria ter um “Uau” no contorno do balão “O que é isso?”, na 64 um “Waa” em “O que está fazendo?”, na 068 um “Uh” em cima de “Um… Um sotão ?!”, na 152 a frase “Levante os braços.” era uma falinha de canto, etc.

Olhando o volume, mesmo com esses problemas com a edição, você pensa que melhorou e ficou na média. Só que tem alguns erros que só é possível identificar olhando o original. Algumas falas e onomatopeias foram simplesmente apagadas. Exemplo: na 034 tem um quadro branco, ali tinha 2 pequenas falinhas; na 052, mais duas falinhas desaparecidas; na 021 até ficou com a aparência de algo faltando no último quadro ao lado da cabeça do rapaz; na 137 tem dois tracinhos na cortina, ali tinha um “Olá”; na 171 tem outra falinha faltando;  fora as falas secundárias em cima do contorno do balão desaparecidas. Onomatopéias também foram apagadas, na 18 era para ter um “ronc” no quadro com a barriga (agora a passagem fez sentido, né?), na 036 foram 3 apagadas, na 112 mais uma, outra na 124, 125, 132, 136 e 150. Até na 151 e 169 foi apagado  o nome das medidas que a Mayu estava tomando e na 123 foi apagado o título e subtítulo da revista. Na 149 falta o nome da moça na foto (o que revolta é que o único jeito de saber o nome dela é pela foto, para os curiosos, o nome é Hisae Yabushita). Textos de pensamento também sofreram isso, na 129, naquele cabelo mal reconstruído tem uma fala “Yuka…”.

Algumas traduções (a orelha, por exemplo) estão bem diferentes das outras versões na internet e fazem mais sentidos em algumas situações. Na verdade algumas passagens, como o início da conversa entre as 3 moças nas páginas 10 e 11, são bem confusas na versão brasileira.

Não chequei página por página em todos os quesitos, peguei exemplos o bastante de cada tópico e tenho certeza que deve haver vários outros. Caso tenha interesse em ver outras versões desse mangá, você pode procurar a versão americana (de scanlator) e francesa que rola pela internet. Assim verificar com seus próprios olhos os erros e as defasagens da editora com relação aos “desaparecidos”.

Antes que eu me esqueça, o acabamento ficou bom, com dupla capa colorida, uma de plástico com orelha e outra de papel mais duro. As quatro primeiras páginas são coloridas, similar ao Aflame Inferno. Porém, dessa vez, aconteceram alguns erros de impressão no mangá, não sei se são por lotes ou todos estão assim, mas o meu, por exemplo, tem o topo da página 10 desfocado e toda a página 34 também desfocada. Espero que tenha sido má sorte minha…

Voltando para os dados do mangá, são apenas três volumes, cada um por R$ 10,90. Ao todo 184 páginas num formato de 12,7 x 17,4 cm. Tem tarja de idade mínima de 16 anos, acredito que seja devido à história mais madura, com insinuação de relacionamentos sexuais e problemas emocionais adultos.

Pode ser um pouco difícil de encontrar o título para comprar, mas tal pode ser adquirido através de lojas especializadas online ou o próprio site da editora.

Agora vocês que julguem: melhorou? São erros aceitáveis ou toleráveis? Se você gosta desse tipo de gênero e consegue ignorar os muitos erros cometidos, com certeza vai adorar a história de Unordinary life. Mas caso não consiga, se prepare para sentir raiva, muita raiva.

Título: Unordinary Life
Editora: Savana
Autores: Yashiki Yukari, Takamichi Yamada e Takashi Watanabe
Formato
: 12,7 x 17,4 cm, Volume 1 de 3 – 184 páginas.
Preço: R$ 10,90