Entrevista publicada originalmente em 28 de setembro de 2009.


Desde que a TV entrou na casa dos brasileiros, sempre tem algum desenho ou série japonesa que vira objeto de adoração da molecada e se torna ícone de uma geração. Acompanhando desde pequeno toda evolução do mercado, Marcelo Del Greco acabou se tornando um verdadeiro especialista no assunto. Trabalhando como editor-chefe da maior editora de mangás do país, a JBC, Marcelo nos concedeu uma descontraída entrevista que permite aos leitores conhecerem um pouco mais sobre os bastidores do mercado brasileiro. Acompanhe o bate-papo exclusivo a partir de agora!


Quando se fala em Marcelo Del Greco, associamos imediatamente seu nome a heróis japoneses… Quando ocorreu seu primeiro contato com essas produções?
Olha, eu comecei a gostar de desenhos japoneses mesmo antes de saber que eram japoneses. Lembro de adorar assistir Ás do Espaço na casa da minha avó. Ele comia uns tabletes de energia e eu pegava umas bolachas de leite e imitava ele… Hehehe… Depois, foi a época que comecei a assistir Speed Racer no programa do Capitão Aza. Em seguida vieram A Princesa e o Cavaleiro, Fantomas e a versão da Tatsunoko de Pinóquio. De tokusatsu, sempre curti a Família Ultra desde criança.

Eu saía da escola umas seis da tarde e voava para casa para chegar a tempo de ver a segunda parte de Ultraman – que sempre alternava no SBT com O Regresso de Ultraman, como se fossem continuações diretas – na TV Powww!. O problema é que eu pegava metrô e ônibus e ainda tinha um pedaço a pé (uma descidona) que eu fazia correndo. Se alguma coisa atrasasse, eu só via o monstro explodindo! Por volta de 1984, eu acordava bem cedo só para ver Fantomas e Ultra Seven na Record – até um bispo comprar o horário…

E a partir de que momento em sua vida você resolveu se tornar profissional desse meio?
Creio que tenha acontecido de forma natural. Eu já estava decidido a fazer jornalismo, mas imaginei seguir na área de esporte (ou seja, futebol) e cinema, pois veículos dedicados à televisão eram voltados praticamente para novelas e essa definitivamente não era a minha praia. Aí, num daqueles acasos do destino, uma semana após me formar, me chamaram para a Herói. Eu sempre frequentava a Devir e tinha muitos amigos lá. Quando a revista foi lançada, começaram a procurar alguém que manjasse de animações japonesas (entendam: Os Cavaleiros do Zodíaco) e que tivesse material para ilustrar as matérias. Acabei sendo indicado por um amigo e me chamaram, já que além de conhecer o anime e muita coisa de TV e cinema, eu também tinha muito material impresso e sabia onde arrumar mais. E de brinde eu sabia escrever! Olhaaaa!!!

[…] me disseram que a ideia era fazer da Herói a Contigo! dos super-heróis

Falando na Herói, a revista foi um fenômeno editorial que surgiu em nosso país e você esteve presente desde as primeiras edições. Conte um pouco sobre como surgiu a ideia de lançá-la e quais foram os pontos altos da publicação.
Pelo que eu saiba a ideia partiu dos donos da Nova Sampa, da Devir e do Franco de Rosa (que é quadrinista e sempre atuou na área, inclusive chegando a desenhar as revistinhas do Spectreman lançadas pela Bloch Editores! O_O). Eles levaram a ideia para a editora Acme, que já publicava em parceria com a Nova Sampa a finada revista General. Os caras da Acme, por sua vez, eram dissidentes da revista SET original e tinham vontade de resgatar a SET: Terror e Ficção, que teve poucas edições. No projeto da Acme a ideia era colocar o Frankenstein do Boris Karloff na capa, mas acabaram convencidos de colocar ‘Cavaleiros‘ – daí por diante é história…

Eu servi meio que de consultor na primeira edição e passei a escrever mesmo a partir da segunda (uma matéria com o perfil da Shina). Lembro que na primeira reunião que eu tive, me disseram que a ideia era fazer da Herói a Contigo! dos super-heróis. Foi o que fizemos e deu muito certo. Além do mais, na época, Os Cavaleiros do Zodíaco estavam sozinhos, sem concorrência, e o mesmo valia para a Herói, pois revistas daquele gênero não existiam até então e muito menos internet.

O mais bacana dessa época foi que pude fazer matérias de outras séries, americanas inclusive, que jamais haviam sido publicadas antes no país, e criar uma espécie de registro histórico de quando e onde elas foram exibidas também. Essa ideia também me levou a começar a entrevistar os dubladores dos personagens, não só de ‘Cavaleiros‘, mas grandes vozes que ninguém sabia quem fazia.

greco3Alguma curiosidade de bastidores da revista?
O curioso é que pouco antes da Herói ser lançada, eu fazia um fanzine chamado Nômade, que era muito parecido com ela. O zine tinha sido criado pelo Ricardo Matsumoto, que era meu professor de Faculdade na época e que depois trabalhou comigo na Herói, na SET e hoje na Preview – além de traduzir algum material que sou responsável na JBC, como o livro do Dragonball Evolution e a coleção Técnicas de Mangás. O Nômade também contava com o Eduardo Torelli, que fez muita coisa comigo na Herói e até na Henshin.

Nessa época cheguei a ir conversar com o (Nelson) Sato para ver se arrumava algum patrocínio para lançar o Nômade como revista. A capa da primeira edição destacava as matérias do que cada um dos três curtia: Família Ultra (eu), Jornada nas Estrelas (o Matsumoto) e Planeta dos Macacos (o Duda).

greco15Ainda falando sobre a Herói, como era possível ter acesso a tanto material sobre Os Cavaleiros do Zodíaco em uma época na qual o acesso às informações eram bem diferente de hoje?
Eu já tinha uma bagagem considerável em se tratando de séries japonesas por conta de tudo o que eu já tinha assistido na TV e também foi um tempo que começou a pintar muita coisa em vídeo por aqui, principalmente em locadoras na Liberdade, em São Paulo. Eu também tinha algum material de TerebIi (TV) Magazines, New Type e outras revistas. Quando a Herói começou, muita coisa era escaneada das caixas de brinquedos, encartes de CDs (inclusive a lendária imagem do Shun vestido de Hades, na edição 18), discos (sim, os lendários bolachões de vinil, que tenho até hoje, diga-se de passagem :P), LDs e outras revistas que a gente descolava com amigos, na mangateca, etc.

Como sempre fui colecionador de brinquedos (quem tiver Falcon, pode me procurar!) e de séries antigas (japonesas e americanas), eu conhecia muita gente e muitos lugares em São Paulo que tinham esse tipo de material. Então, eu trocava muita coisa que eu tinha por material d’Os Cavaleiros. Também ia de locadora em locadora na Liberdade caçar episódios e os movies do animê. Juntava tudo em casa e passava a madrugada inteira assistindo os episódios para acordar e fazer as matérias no dia seguinte. Como a Herói era bisemanal (!), para render, começamos a fazer artigos de cada um dos personagens separadamente, contando sua história e tals.

greco9Essa fórmula – cheia de spoilers, é verdade – deu tão certo que voltei a usá-la de maneira melhorada na Henshin, que fiz já na JBC, na época em que Dragon Ball Z estava em alta, e voltou a funcionar. Paralelo a isso, eu batia ponto na Gota Mágica para assistir tudo dublado antes de ser exibido e também para fazer entrevistas com os dubladores. Teve vezes que eu ficava até umas dez da noite vendo o Gilberto “Saga de Gêmeos” Baroli dirigindo o animê.

Seu pai sendo funcionário da Rede Manchete proporcionava muitas informações em primeira mão? Ele esteve envolvido na vinda d’Os Cavaleiros para a emissora?
Ele de fato trabalhava na Manchete na época, mas não teve nada a ver com a vinda da série. Já na vinda de Ultraman e National Kid pela Sato Co., ele deu uma força nos bastidores. Mas nada além disso. Claro que por ter uma pessoa conhecida na emissora, eu ficava sabendo de algumas coisas antes, como data de estréia de novos episódios e quais séries estavam sendo compradas. E não era só na Manchete que eu conhecia gente. Para se ter ideia, fui chamado na Record para dar minha opinião sobre Pokémon antes de ser comprado pela emissora, por volta de 1999. Me mostraram o primeiro episódio, já dublado e com a música de abertura. Teve uma época que a Glasslite também contratou a mim e ao (Alexandre) Nagado para uma consultoria. Nos mostraram a primeira versão da música do Kamen Rider Black RX e foi um constrangimento só, porque era muito ruim. Aí optaram pela que foi ao ar (“Kamen Rider, um mundo mais feliz, Kamen Rider, o que ele sempre quis… Kamen Rider Black RX…” :P).

Ultraman Tiga | (c) 1996 Tsuburaya Productions

Ultraman Tiga tinha distribuição brasileira pela Mundial Filmes, mas você participou ativamente do projeto de lançamento e promoção da série no Brasil. Pode nos contar como foi envolver-se com esse universo ?
Quando eu soube por uma pessoa da Record que o Tiga estava sendo trazido para o Brasil, eu procurei a Mundial e me associei a eles. Como a série toda já tinha sido vendida para a Record antes da minha entrada, eu participei no ajuste da dublagem (o episódio 49, que foi o mais arrumado, nunca foi ao ar com as correções que fiz), na divulgação e no licenciamento. Infelizmente tivemos muitos problemas nos bastidores e não bastou a série dar média de 8 pontos (Pokémon, que passava em seguida, dava 6) para mantê-la no ar. Por isso, ao mesmo tempo que foi um sonho realizado trabalhar com uma série de Ultraman, foi também um grande pesadelo na ordem financeira da coisa – afinal, a grana que foi desembolsada para comprar a licença não foi pouca e nunca voltou.

Havia mesmo planos de exibir o longa “A Odisséia Final” nos cinemas brasileiros e de lançar a série Ultraman Dyna? Esta chegou a ter testes de dublagem realizados no Rio de Janeiro?
Sim, com a audiência que o Tiga estava tendo, havia o plano de lançar o longa nos cinemas em julho daquele ano (2000). Ao mesmo tempo, a Record encomendou o Dyna que, aí sim, eu já teria direitos de TV, vídeo e de licenciamento em parceria com a Mundial. Não chegamos a fazer testes de dublagem – na verdade, eu já havia decidido quais seriam as vozes para cada personagem. Conversei com alguns dubladores do Rio que eu conhecia para saber se eles topariam o trabalho, mas o lançamento acabou não ocorrendo.

Quando a Impact Records lançou em DVD A Odisséia Final, eu sugeri os dubladores que eu tinha imaginado, com algumas mudanças, para interpretar os personagens da série Dyna que fazem uma ponta no filme. Apenas o Guilherme Briggs passou a ser um dos vilões e sugeri que o Peterson Adriano (o Koenma de Yu Yu Hakusho e o Anakin Skywalker nos Episódios II e III de Star Wars/Guerra nas Estrelas) fizesse o integrante do Super GUTS que o Briggs seria.

Outros, como o Márcio Seixas (a voz do Batman na Liga da Justiça) e a Sheila Dorfman (dubladora da Xena e da Ryoko em Tenchi Muyo), foram mantidos com seus personagens. O mais legal da dublagem de A Odisséia Final é que, por não haver registro dos dubladores para cada personagem, passei uma relação das que eu lembrava (algumas só indicando outros personagens que o dublador havia feito) e outros o Marco Ribeiro (dono da Áudio News e o dublador do Yusuke em Yu Yu Hakusho) “pescou” os donos das vozes que faltavam por telefone comigo! Foi um tanto punk esse processo!

Em relação à série do Dyna, ela também seria dublada na Audio News mas, coincidentemente, as masters dela chegaram do Japão no dia que o Tiga saiu do ar. Uma pena, porque o projeto original era trazer todas as séries Ultra, novas e antigas. Minha ideia era fazer uma sessão dupla: um episódio de uma série clássica e outro de uma nova (tinha até o Gaia na época) ou intercalar as séries com direito a reprise na madrugada. Eu queria trabalhar a licença do Universo Ultra e não apenas de uma Ultrasérie. O projeto teria sido perfeito, ainda mais depois que Ultraman Mebius foi lançado e amarrou o universo. Mas fazer o quê?! Não era pra ser… =(.

Apostaria novamente em séries tokusatsu como um investimento promissor no mercado brasileiro ou acredita que esse tipo de programa já não tem mais potencial para repetir o êxito que Jaspion e Changeman tiveram décadas atrás?
Eu ainda investiria em tokusatsu, sim. Mas não agora. Ainda vivemos um boom de animês e mangás e séries live-action meio que estão fora de moda. Mas quem sabe no futuro não pinte alguma coisa boa e alguma emissora que tope entrar em algum projeto. Os primeiros sinais de uma retomada do tokusatsu já estão sendo dados!

Além do Tiga, você esteve envolvido com o lançamento de alguma outra série ou animê?
O Tiga já foi suficiente, por enquanto =).

Como surgiu a oportunidade de trabalhar para editora JBC?
Em 2000, eu fazia alguns álbuns para a Panini (Pokémon, Monster Rancher…) e estava trabalhando forte a licença do Tiga. Me indicaram a JBC e vim oferecer a revista Ultraman World. O diretor que me recebeu contou que a editora tinha planos de entrar na área de animês e mangás e eu acabei vindo tocar esses projetos. Começamos com duas revistas (Henshin e Matinê) e mais a Ultraman World (que acabou não saindo porque o Tiga foi tirado do ar). Depois, com o sucesso das duas publicações, decidimos concentrar tudo em um título só. A Henshin explodiu em vendas, batendo até a Herói, e abriu caminho para a JBC começar a trazer mangás para o Brasil.

Revista ‘Pokémon Club’

Quais os maiores desafios como editor da maior editora de mangás do país?
Primeiro, claro, foi conseguir os títulos que queríamos. Dois deles, inclusive, perdemos por sermos, na época, uma editora nova nesse mercado – embora eu já tivesse trabalhado com produtos licenciados d’Os Cavaleiros do Zodíaco, Sailor Moon, Fly: O Pequeno Guerreiro (esses dois últimos fiz uma coleção de cards e um álbum de figurinhas para a Multi Editora, respectivamente, que pouca gente viu – inclusive eu), Guerreiras Mágicas de Rayearth, Pokémon (inclusive fui criador da revista Pokémon Club), etc.

Depois disso, foi desenvolver o produto propriamente dito. A JBC desde o início quis lançar um produto o mais próximo possível do original japonês. Naquela época não havia nada similar no Brasil em termos de estrutura e tipo de leitura. Mesmo nossa principal concorrente na época, também estava trabalhando paralelamente a nós para desenvolver sua linha. Então, foi um momento de aprendizado em que o saldo final foi aprendermos a fazer a coisa direito. Por isso, hoje a JBC é a referência que todos seguem.

A maior dúvida dos leitores de mangás é o motivo pelo qual alguns títulos são lançados no Brasil, quando os mesmos não possuem uma grande “popularidade”. Procede que os japoneses impõem o lançamento de títulos “menores” para liberar grandes sucessos ou isso não passa de “lenda”?
A verdade é que para os mangás dessem certo não poderíamos ficar vinculados apenas aos animês que passavam na TV aberta (na TV paga nem conta). Se fosse assim, ao invés de termos lançado 40 títulos, teríamos lançado o quê? Uns 15 e olhe lá?! Isso sem contar que nem tudo que passa na televisão é certeza que vá engrenar. Então, seguindo o gosto e os pedidos dos leitores fomos apostando em mangás que não tivessem esse vínculo com a TV obrigatoriamente.

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Video Girl Ai

Nesse sentido, Video Girl Ai foi determinante, pois foi o primeiro título desvinculado e menos conhecido no país se comparado com Samurai X, Guerreiras Mágicas e Sakura Card Captors. Ele abriu portas para Love Hina, X, Bt’X, Tokyo Babylon, Chobits, Angelic Layer, Tenjho Tenge, Negima, Tsubasa RESERVoir Chronicles, XXXHolic, Hellsing, Utena, Nana, Mouse, Bastard!! e até Love Junkies – título absolutamente desconhecido que gerou muita polêmica quando foi lançado, mas que se tornou um grande sucesso!

Em relação à imposição das editoras japonesas, isso não acontece. O que pode haver é eles pedirem ou sugerirem que lancemos um titulo ou outro, mas a JBC sempre pode dizer não. O que acontece é que ao pedirmos um mangá, este pode ou não estar liberado para determinado país ou continente. Yu-Gi-Oh!, por exemplo, em seu auge, não estava disponível para o Brasil. Por isso ele veio quase três anos depois de ter estourado aqui. E pedir um título antes de todo mundo não significa que ficaremos com ele.

Um mangá cujo animê foi lançado no Brasil é certeza de sucesso?
Como eu disse acima, animê lançado na TV não é certeza de sucesso. Tem muita coisa que foi exibida aqui, até com certo sucesso, mas que não venderia bem nas bancas. Outros já envelheceram e perderem seu público (já pensou lançar o mangá do Esquadrão Arco-Íris ou do Super-Homem do Espaço? Passaram na TV aqui…) e ainda tem aqueles “estilo Chaves” (que dá audiência mas não gera licenciamento)…

Então Dragon Quest (Fly) e Shurato não seriam títulos com potencial, mesmo sendo heróis da “Geração Cavaleiros”?
Então, é algo a se analisar com calma, caso a caso – e isso vale para o Fly e o Shurato. Mas quem sabe? Nunca descartamos nenhuma possibilidade. Veja o Golgo 13, é um clássico dos mangás que só saiu em vídeo aqui e a JBC vai lançar em breve no Brasil por conta da sua altíssima qualidade e por ser um título obrigatório para quem se diz fã de mangás.


A JBC possui algum estudo acerca da preferência do público brasileiro em termos de gênero, formato, preços…?
Desde que a JBC começou a trabalhar com mangás foi criado um departamento só para coletar esse tipo de informação em eventos, por cartas, e-mails, pombo-correio, telégrafo… Logo, temos estudos completos do mercado desses últimos nove anos. Esse é um dos motivos pelos quais a JBC se mantém como a maior editora de mangás do Brasil e também de nunca ter cancelado um de seus títulos. Conhecemos bem nosso público, assim como o mercado.

greco4Por falar em formatos… Por que optar pelo “meio-tankobon” quando parece haver uma preferência do público para os formatos inteiros?
Ele é mais acessível (financeiramente falando) para o leitor e isso possibilita que ele possa comprar mais títulos. Com isso abre-se também a possibilidade da editora trazer outros mangás para o Brasil, sempre tendo o cuidado de não entulhar as bancas.

Algumas editoras optam pelo lançamento de mangás por um preço mais caro, com uma tiragem menor, mas com uma qualidade de acabamento muito superior ao da maioria dos títulos lançados em banca de jornal. A JBC não pensa em explorar esse nicho?
Na verdade, a JBC já atua também nesse mercado. Socrates in Love é um bom exemplo. As novels de Samurai X, a enciclopédia de Samurai X (Kenshin Kaden), de Love Hina (LH – Infinity) e de Death Note (DN 13 – How to Read) são outros.

Os kazenbans (ou edições definitivas) de títulos como Samurai X e Shaman King são materiais que os fãs um dia podem esperar pelo lançamento no Brasil, ou a editora prefere optar por novos títulos?
Já faz algum tempo que a JBC tenta viabilizar lançar algumas edições definitivas de seus títulos mais famosos como Samurai X, Yu Yu Hakusho e Shaman King. O problema é que agora o Japão exige que elas sejam idênticas às japonesas – que são cheias de recursos gráficos – e o preço final fica muito alto. Então, enquanto não acharmos uma solução para baixar o custo sem perder qualidade, o projeto fica parado.

Gunm (Battle Angel Alita) e Ranma ½ já haviam sido publicados no Brasil por outras editoras. Há chances da JBC adquirir os direitos de publicação de algum “sucesso perdido” nas mãos de outra editora e dar continuidade ou fazer um “reset” da publicação?
Gunm e Ranma foram casos à parte. O primeiro foi um pedido da Shueisha feito à JBC para lançar o mangá oficialmente no Brasil, em decorrência da versão não autorizada que chegou a ser vendida. Quanto à Ranma, foram anos de negociações com a Shogakukan até a JBC conseguir o título. Fora que os japoneses relutam muito de trocar mangás de editoras. Ou seja, não é uma missão fácil conseguir algum título de outra editora, mesmo que esteja parado e sem contrato. Significa que um “sucesso perdido” pode continuar navegando sem rumo por aí ainda por um bom tempo ou até para sempre @_@!

Atualmente os japoneses andam encartando DVDs (os chamados OADs) junto de alguns mangás. Esse projeto não possui viabilidade no mercado brasileiro ou é algo que os fãs podem esperar a médio ou longo prazo em algum momento?
Acho muito difícil disso acontecer. Não impossível, claro. Mas um sonho distante. O custo seria muito grande e, por causa disso, teria poucas vendas. E não podemos esquecer que mesmo os fãs preferem baixar ou comprar o DVD pirata.

greco31Quais os mangás de maior sucesso do portfólio da JBC? E qual foi aquele que não apresentou o desempenho esperado?
A JBC teve a felicidade de emplacar praticamente todos os seus lançamentos graças ao empenho de cada departamento dentro da editora que sempre buscou agradar nossos leitores. Entre os maiores sucessos estão Samurai X e Sakura Card Captors, por terem sido os primeiros e por terem menos concorrentes em banca. Mesmo assim, conseguiram fazer frente “só” a Dragon Ball, no auge da febre no Brasil, e a Os Cavaleiros do Zodíaco. E talvez Yu-Gi-Oh! fosse um sucesso maior se tivesse sido lançado quando o animê estourou na Globo… Pelo menos o tiozinho da Kombi que vendia os minicards piratas se deu bem :P.


O Brasil “exporta” talentos em diversas áreas, inclusive nos quadrinhos. É inviável realizar no país um concurso de talentos, como os promovidos por grandes editoras japonesas?
Não vejo porque não. Só precisa ser organizado direitinho e que seja sério para valer à pena para todos os envolvidos. Acho que seria muito frustrante ganhar um concurso e parar por aí.


Como encontrar maneiras de se destacar diante do grande número de publicações nas bancas e capturar um leitor de “primeira viagem”?
Sempre buscando títulos interessantes e de gêneros variados, e, ao mesmo tempo, apresentar produtos com a maior qualidade possível ao menor custo.


Os fãs que traduzem e disponibilizam mangás online são vistos como alguma “ameaça” pela editora ou até colaboram na hora de medir a popularidade de algum título no Brasil?
Ameaçar não ameaçam, mas são pessoas, fãs ou não, que estão na ilegalidade e que podem sofrer as consequências previstas por lei a qualquer momento. É preciso lembrar que mesmo títulos não lançados no Brasil continuam tendo seus donos.


Por falar em internet… A JBC estuda a possibilidade de disponibilizar séries nesse formato em um futuro próximo, em vista disso parecer uma tendência de mercado?
Já houve alguns estudos em relação a isso, mas por enquanto não há nada concreto.

O lançamento de mangás em formato de antologia (como a versão americana da Shonen Jump) nunca foi pensado pela JBC? Quais empecilhos inviabilizam a ideia?
É quase impossível que algo do gênero seja lançado aqui. Quando saiu a Shonen Jump americana nós consultamos a Viz sobre essa possibilidade e nos foi dito que, por envolver muitas obras e diferentes donos de seus direitos, seria inviável licenciar e aprovar todo o material. Mas tudo muda, quem sabe um dia…


E revistas do naipe da Henshin? Realmente a internet não dá mais espaço para as mesmas existirem?
Claro que a internet toma muitas vendas em bancas hoje, mas ainda existe espaço para essas revistas em bancas. O detalhe é que elas dependem muito de um grande sucesso na TV.


Como editor-chefe da maior editora de mangás do Brasil, como você analisa o mercado brasileiro atual e como você acredita que será daqui a uma década? Você acreditava que o cenário brasileiro para os animês e mangás seria do jeito que é quando você ainda era o “editor do zodíaco” (risos) na revista Herói? O que você acha que pode melhorar?
Na verdade, se parar para pensar, eu nunca deixei de ser o “editor do zodíaco” até hoje (risos). Depois das Heróis, fiz a seção Santuário na Henshin, encabecei a redublagem da série clássica na Álamo junto com o Prólogo do Céu, depois de toda Saga de Hades na DuBrasil. Ainda edito o mangá The Lost Canvas na JBC. Ouso dizer que é bem possível eu ser enterrado ao som daquela versão estilo dramalhão mexicano de Pegasus Fantasy – o que me lembra que boa parte da letra de sua versão em português, fui eu, o Oka (o Tradutor-Chefe da JBC) e a Paulete (a Paula Sato, a assistente de redação que trabalhava com a gente) que escrevemos (“Faça elevar o cosmo do seu coração”, é uma frase minha, por exemplo…\o/).

Quanto às melhorias… Tudo no mundo está em constante mudança. Obviamente no futuro o que é bom hoje será melhorado amanhã e assim segue o ciclo (da vida?!). Nosso empenho aqui na JBC é sempre buscar melhorar, aprimorar, sempre para dar aos nossos leitores produtos com a mais alta qualidade em todos os sentidos.


Por fim, quais suas preferências no tocante a animês, mangás, tokusatsus, doramas, etc..
Putz, eu gosto de tanta coisa… Algumas tem um lado sentimental, mas no geral curto coisas de qualidade e que não me puxem pra baixo. É difícil de elencar, mas é óbvio que ‘Cavaleiros‘ e Ultraman foram muito marcantes em minha vida assim como muita coisa que assisti na minha infância.

Curto muito os mangás que edito na JBC. Adoro Tenjho Tenge. Acho que o Briggs e a Fran foram injustamente criticados no lançamento do mangá, pois estão fazendo um baita trabalho nele. Gosto muito do Nana, me acabo de rir com as viagens do Hellsing, curto muito Tsubasa e XXXHolic, já estou sentido falta de Love Junkies (Shinaaakooo… Mihoooo…. não me deixem…!!! O_O).

Adoro Ranma (tanto o mangá quanto o animê, principalmente depois de termos feito a tradução e adaptação dele para a dublagem. Coloquei referência de tudo quanto é coisa nele… Hehehe… O Ranma até cantarola “Sorriso Contagiante” – canção de abertura do Yu Yu Hakusho em português ).

É uma grande felicidade para mim ter feito A Princesa e o Cavaleiro e agora Golgo 13. Elevo (queimar pega mal, né?! @_@) meu cosmo ao máximo para fazer cada edição do Lost Canvas. Negima é superdivertido, assim como Yu-Gi-Oh!, Full MoonFullmetal Alchemist talvez seja o mangá com a história mais ferrada que eu já vi – a Hiromu é fantástica e ainda tem um humor único sensacional! Futari H é um mangá muito divertido…

Enfim, eu só tenho a agradecer por ter a oportunidade de trabalhar com algo que sempre curti e me identifico. E espero estar retribuindo isso à altura para quem acompanha os mangás da JBC.

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Pra acabar mesmo: como é o Marcelo Del Greco fora desse universo? Alguma curiosidade que os fãs que acompanham seu trabalho (e até se inspiraram nele, como nós :P) possam saber? Deixe uma mensagem para estes!
Sou um cara absolutamente normal, só mais bonito e inteligente que a maioria ;-). Brincadeira… Hehehe… Tento ser uma pessoa correta e justa com todo mundo, seja com minha família e amigos como na área profissional. Eu me descreveria como cara alegre, que faz piadinha de tudo, além de comunicativo… Mas minhas “vítimas” podem me enxergar como um tremendo pentelho sem noção O_O! Sou fiel e leal a todos até que me puxem o tapete, aí já era…

E fico feliz que meu trabalho seja uma fonte de inspiração, para o bem ou para mal, para vocês do JBox. Valeu mesmo! Agora, uma mensagem… Não sou muito desses lances mais “cabeça”… Queria fazer uma menção à minha pequena musa fofolete, Patricia Arquette, mas acho que a melhor mensagem no momento seria “Ronaldo! Brilha muito no Corinthians!!!”. *_*.

Não, sério agora, acho que trilhar o caminho do bem é a melhor maneira de ser feliz e vencer na vida. Não no sentido heróico, mas sim como ser humano. É só fazer o certo que o universo conspira a seu favor. Às vezes demora, mas você tem o retorno. Claro que se você for seduzido pelo Lado Negro a recíproca é verdadeira…