Entrevista publicada originalmente em 9 de novembro de 2018, como parte da 22ª edição da Coluna do Daileon.
Por trás do laboratório musical
Ricardo Cruz tem 37 anos, é jornalista, editor, tradutor e cantor. Foi um dos integrantes da revista e do antigo site Herói. Em 2005, se tornou o sexto membro da banda japonesa JAM Project, liderada pelo cantor Hironobu Kageyama (Changeman, Maskman e Jetman). Sua trajetória musical rendeu outros projetos como o seu disco solo On The Rocks, onde a faixa principal de mesmo nome contou com a presença do ator Hiroshi Watari (Sharivan, Boomerman e Spielvan) como o herói Cruzer.
A polivalência de Ricardo lhe rendeu outros projetos como o curso de língua japonesa NihonGO!, a formação do trio Danger 3, ao lado de Larissa Tassi e Rodrigo Rossi, e a criação do recente projeto Anison Lab.
O laboratório musical é um canal no YouTube onde experiências musicais são realizadas todas as quintas-feiras. São releituras de temas de anime e tokusatsu com novos arranjos produzidos pelo guitarrista Lucas Araújo. Para os fãs de tokusatsu, o momento ápice foi o dueto com Akira Kushida, intitulado The Space Wolf Symphony. O Anison Lab realizou seu primeiro show em Mendoza, Argentina e vai inaugurar uma série de shows no Brasil. Sendo o primeiro em São Paulo no próximo dia 17 de novembro. E é sobre o esse projeto musical que vamos conversar a partir de agora com o próprio Ricardo Cruz.
JBox: Quando surgiu a ideia de criar um projeto com releituras de temas de séries japonesas?
Ricardo: Eu já tenho essa ideia há muito tempo de misturar gêneros e referências musicais minhas usando o animesong como guia. Mas a possibilidade surgiu quando o Lucas Araújo topou, ele que é meu parceiro no canal. Eu já toquei com ele em várias ocasiões com a banda Senpai Old School e o Lucas tem várias referências musicais. Nossas ideias batem muito e ele resolveu apostar nesse projeto comigo. Tanto que o nome Anison Lab é literalmente um laboratório onde a gente pega os animesongs e faz experiências com tudo o que a gente curte. Desde trilha sonora de filmes ocidentais, você repara que em várias músicas tem um pouco de Ennio Morricone, que faz aqueles (trilhas sonoras de) filmes de velho oeste do Sergio Leone. São identidades do canal. Essas referências se repetem bastante em várias músicas de propósito mesmo, né? Um pouco de groove que a gente usou na música do Bucky, que tem uma coisa meio Daft Punk, meio “groovada“, sabe? A gente quer trazer coisas (do tipo) Michael Jackson também, que é um universo bem rico. Enfim, várias pirações que a gente vai experimentar e já tem experimentado no canal.
JBox: Como você e o Lucas organizam a produção para que os clipes sejam lançados regularmente todas as quintas-feiras?
Ricardo: Então, a gente tem que se organizar bastante. Porque desovar, lançar uma música todas as semanas não é tarefa fácil, né? E ainda mais fazer releitura, ter ideias em cima e gravar. Às vezes tem detalhes que a gravação exige uns instrumentos diferentes dos que a gente tá habituado. Então não é fácil. A gente tenta trabalhar com uma gaveta*, a gente tem uma gaveta com músicas na frente. O vídeo também, a gente grava várias músicas de uma vez. Não é muito fácil, mas essa correria faz parte do projeto e a gente tá conseguindo dar conta. A gente não deixou de publicar nenhuma semana e espero que isso nunca aconteça.
*Gaveta é um termo técnico usado em rádio e TV para definir edições reserva de determinado programa para ir ao ar em algum momento posterior.
JBox: Sobre os clipes de tokusatsu, como foi a receptividade do público?
Ricardo: Originalmente eu tenho mais público de tokusatsu do que de anime, porque eu venho desse universo. Eu falo com os fãs de tokusatsu há muito tempo. E com os fãs de anime é um tempo menor do que de tokusatsu. Então assim, quando lança música de tokusatsu, a gente tem geralmente uma audiência maior, porque já envolve todo mundo que me segue, que me conhece. Eu falo mais com essa galera, né? E eu sou muito fã de tokusatsu. A receptividade sempre é muito legal. A gente fez músicas até inusitadas como o encerramento do Kamen Rider Black, a gente fez a abertura do Lion Man (link abaixo), que é uma das minhas músicas favoritas. Super legal. Fizemos (a abertura) de Cybercop. A gente tenta trazer… não um lado B, porque são os grandes sucessos. Mas buscar músicas que a pessoa não espera. Quando surgiu a música do Lion Man, por exemplo, ninguém esperava que a gente fosse fazer de repente. E a recepção foi incrível. Foi muito bom, maior do que eu imaginava. Então, o pessoal do tokusatsu tá bem presente no canal e a gente fica muito feliz com isso.
JBox: Em junho passado fizemos uma enquete no nosso canal no YouTube, o JBox TV, para saber qual clipe o público gostaria de assistir no Anison Lab. O tema de abertura de Kamen Rider Black RX desbancou temas de anime como o clássico Guerreiras Mágicas de Reyearth e os recentes My Hero Academia (Boku no Hero Academia) e The Seven Deadly Sins (Nanatsu no Taizai). Você ficou surpreso com o resultado ou já esperava que o filho do sol fosse o favorito do momento?
Ricardo: Fiquei surpreso sim. Não esperava que Kamen Rider Black RX fosse ganhar de Nanatsu no Taizai, de Boku no Hero Academia, os grandes sucessos atuais. E Kamen Rider RX desbancou todo mundo (risos) e até mesmo o clássico Guerreiras Mágicas de Reyearth, que é uma música incrível que eu quero fazer. Independente da enquete, a gente vai fazer em algum momento. Fiquei muito feliz e essa música se tornou o maior sucesso do meu canal até o momento. É a música que tem mais visualização, mais engajamento. Não sei se engajamento, porque o medley do Kushida em homenagem ao Jaspion teve muito engajamento. Emocionou muitas pessoas. Mas a do RX teve um público muito grande no Japão também. Foi uma música muito especial pro canal.
JBox: Dentre os temas de tokusatsu apresentados no Anison Lab, teve um que foi bem especial para todos nós. The Space Wolf Symphony, clipe comemorativo aos 30 anos de Jaspion no Brasil, que contou com a participação de Akira Kushida. Quais as curiosidades de bastidores dessa maravilhosa obra prima?
Ricardo: Pra mim também foi muito especial. Mas foi muito especial. Talvez muito mais especial do que pra todo mundo que assistiu, porque eu acompanho o Kushida desde a minha juventude. Desde os meus 13, 14 anos. E poder cantar junto com ele. E não só isso, né? Poder idealizar essa obra e ele topar em gravar algo que surgiu na minha cabeça. Tipo, seria incrível pegar todas as trilhas que o Kushida gravou pro Jaspion e costurá-las num medley pra homenagear os 30 anos da série no Brasil. Eu visualizava isso na minha cabeça, sabe? E isso sair da minha cabeça e ir pro mundo real é um prazer assim… Poucas coisas na vida são tão prazerosas quanto isso, sabe? Foi uma realização muito grande poder dirigir o Kushida no estúdio, poder fazer um vídeo com ele, editar o vídeo… Então pra mim é meio que uma realização de um sonho mesmo. Nos bastidores foi muito corrido, porque ele tava aqui para um evento, o World Pop Festival, e ele não tinha muito tempo disponível pela viagem, ele já ia voltar pro Japão. A gente teve um único dia pra gravar a voz dele, pra gravar o vídeo dele, pra gravar tudo. As chamadas, as fotos. Então foi muito corrido, foi tenso. Nada podia atrasar, senão comprometeria a outra parte do trabalho. Mas no final deu tudo certo, ele gostou muito. Eu soube recentemente através de uma amiga que encontrou com ele no Japão que ele ficou muito orgulhoso, ele reiterou que gostou muito do trabalho. E até falou que quer gravar coisas inéditas junto comigo. O que me deixa extremamente feliz e muito inspirado pra continuar trabalhando com o Akira Kushida que… pô, quem diria, né? É o Akira Kushida que eu cresci ouvindo. É só muita alegria.
JBox: Além dessa homenagem ao Jaspion, tem algum clipe no Anison Lab que você considera o favorito?
Ricardo: Além do Space Wolf, todos ali são muito especiais. Porque cada um tem suas memórias, tem a gravação, quando eu gravei voz, como foi gravar e você entra naquele universo… Mas o dueto com a Yumi Matsuzawa, com o tema de abertura de Bucky, é muito especial pra mim. A participação dela é incrível e o arranjo que o Lucas Araújo fez deixou a música melhor do que a original. Eu considero o nosso arranjo ficou muito bom. O Lucas foi genial. Fora isso, deixa eu pensar… Eu gosto muito da música do Shurato. Eu gostei muito do resultado de como ficou essa música. Ela também é bem especial. A música do Lion Man é uma música especial, pelas memórias que a própria série me traz. E acho que são essas. Devo estar esquecendo de alguma coisa, mas de maneira geral, todas são muito especiais.
JBox: Você pretende refazer algum tema de tokusatsu da geração atual como Kamen Rider, Super Sentai e Ultraman?
Ricardo: Tenho a ideia sim. Uma das dificuldades desse canal é que eu tenho ideias o tempo inteiro. E aí você colocar na linha de produção pra realmente executar cada uma dessas ideias é muito complicado e é muito lento perto do volume de ideias que passam na sua cabeça (risos). Então qualquer música que eu escuto hoje em dia, que eu gosto, eu já tenho ideias de como fazer pro canal e vai ficar legal pra caramba e tal. Só que daí vem um balde de água fria. Mas calma, antes dessa tem mais 30 na lista. Daí precisa esperar pra sair essa pra você fazer essa. Então é um pouco ingrato no bom sentido esse dia a dia com o canal, porque nunca você vai conseguir satisfazer o volume de ideias que você tem na cabeça. É tão rápido, porque a gente tem esse fluxo de uma música por semana.
JBox: Em julho você anunciou que está desenvolvendo um podcast para o canal e seu primeiro convidado foi o sr. Nelson Sato, CEO da Sato Company e atual detentor dos direitos de Jaspion, Changeman, Jiraiya etc. Você já pode adiantar detalhes como nome, formato e previsão de lançamento?
Ricardo: Pois é. Eu tenho gravado o podcast com o Nelson Sato. A gente trocou uma ideia bem legal. Também já gravei com o Danilo Modolo do TokuDoc e pretendo gravar mais. Eu gosto muito do formato rádio, sabe? Só áudio, assim, um formato mais de bate-papo livre. Mas ainda não sei direito como eu vou desovar isso. É uma coisa que eu preciso pensar. Eu comecei na última terça (6) a soltar vlogs no canal, comentando assuntos em vídeo. Eu não sei se de um ponto de vista do próprio canal seria inundar muito o canal com conteúdo “de repente”. Sabe, colocar o podcast num dia, o vlog no outro, a música na quinta-feira. Então eu ainda tô um pouco perdido com essa coisa do próprio YouTube mesmo. A gente tá pensando, a gente tá vendo. Mas eu quero sim fazer podcasts semanais. Talvez quinzenais pra começar, não sei. Eu ainda não tenho um nome definido. Aceito sugestões. E é isso. Por enquanto a gente tá criando uma gaveta pra começar a liberar ainda sem periodicidade e sem nome definido.
JBox: O Anison Lab agora toma um novo passo. O primeiro show que acontecerá logo mais no dia 17 de novembro, em São Paulo. Em outubro, o projeto se apresentou em Mendoza, Argentina. Como os “hermanos” lhes receberam? Algum tema de tokusatsu foi cantado por lá?
Ricardo: Pois é, cara. A gente tá muito animado pra fazer esse show. E é o primeiro show solo da minha vida no Brasil. Sempre eu me apresentei dentro de eventos, sou convidado o tempo todo, tô viajando o tempo todo. A história da minha vida é viajar pelo Brasil inteiro e fazendo eventos, como foi o caso de Mendoza. A gente foi pro (evento) MendOtaku, fizemos a estreia do Anison Lab por lá. Mas o show do dia 17 não é isso. É um show solo meu. O público vai para me ver, para ver o Anison Lab. Então isso é inédito pra mim. Traz um frio na barriga… Mas a gente tá vendendo bastante ingresso. Tô muito feliz. É um show pequeno (de duas horas de duração). Convido a galera que ainda não tem um ingresso pra correr, porque a gente vai ter que encerrar a venda de ingressos daqui a muito pouco. O espaço é pequeno e eu não posso vender mais ingressos do que comporta. A gente tem cerca de 120 lugares. A gente tá quase chegando lá. É até desesperador porque tem bastante gente comprando. Mas eu tô muito feliz com isso, eu tô muito animado e eu considero mesmo um passo na minha carreira e pro Anison Lab. Espero fazer shows regulares ao vivo do canal pelo Brasil todo. Eu quero fazer isso dar certo, começando aqui por São Paulo. E o show de Mendoza foi super legal. É um evento que nos recebeu maravilhosamente bem. Tocamos música de tokusatsu lá, toquei Kamen Rider Black RX, toquei Power Rangers. A recepção foi muito legal. Tokusatsu não é forte na Argentina, passou muito pouco. Então a gente tinha que apresentar sempre quando era (a vez) de tokusatsu, falar um pouco que no Brasil teve bastante coisa e tal. Mas os “hermanos” foram um público muito legal, muito caloroso e não vejo a hora de voltar.
JBox: E o que o público brasileiro pode esperar? Teremos turnê pelo país?
Ricardo: Eu quero muito fazer uma turnê do Anison Lab pelo Brasil inteiro. Seja dentro de eventos, seja eu mesmo organizando os shows que é uma coisa que eu tô gostando de fazer. A gente tá montando uma equipe que também tá ajudando a produzir essa parte de organização. Eu tô muito animado e querendo sair em turnê pelo ano que vem e criar vários projetos novos em cima do canal no YouTube. Conto com todo mundo aí pra ajudar a gente a crescer e a fazer dar certo esses projetos.
JBox: Ricardo, em nome do portal JBox, quero lhe agradecer pela sua participação. Aproveite para deixar um recado aos leitores da coluna.
Ricardo: Eu que agradeço, César, pelo convite, pela oportunidade de poder conversar com você. E o recado que eu quero dar é que eu tô extremamente empolgado com o Anison Lab. A repercussão dele me motiva a cada novo vídeo, ver o canal crescer, ver a opinião das pessoas, conversar com elas, pegar sugestão delas. Eu quero que meu canal no YouTube tenha tanto esse lado musical como também um lado de bate-papo entre mim e o público. Pessoas que gostam da mesma coisa que eu como anime, tokusatsu, cultura pop no Japão. Tudo isso tem muito pano pra manga pra gente conversar, eu quero abrir sempre essa frente dentro do canal também. E é isso. Se inscrevam lá, quem não é inscrito. Comentem, deixem seu like, essas coisas todas e interajam, principalmente. Pra gente sempre conversar, trocar experiências que isso enriquece demais todos os projetos que a gente vier a criar. Muito obrigado por tudo. Um abraço.
- Detalhes sobre ingressos do Anison Lab Live e outras informações sobre a programação neste link.