Comando Dolbuck
Comando Dolbuck
Tokusou Kihei Dorvack
Tropa Armada Dorvack
[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=DX9_bnOBBVg 480 320]
Produção: Ashi Productions, 1983
Episódios: 36 p/ tv
Criação: Takeshi Shudo
Exibição no Japão: Tv Asahi (10/07/1983 – 22/06/1984)
Distribuição: Everest Vídeo
Disponível em: VHS
Última Atualização: 04/12/2009
No começo dos anos 80, um jovem visionário decidiu apostar no mercado de home vídeo que engatinhava no país, com o início das vendas de um brinquedinho que hoje só acumula pó na estante de muita gente: o vídeo-cassete. Tal jovem se chamava Toshihiko Egashira, que algumas décadas depois seria considerado um “deus” para fãs de tokusatsu no Brasil, por ter sido o responsável pelo lançamento de Jaspion e Changeman no país.
Junto dos enlatados japoneses, uma leva de animes chegou ao mercado brasileiro e por incrível que pareça, fizeram mais sucesso que os dois live-actions supracitados. Entre Vampire Hunter D, Sonhos Molhados, GO Shogun, um anime sci-fi típico daquela década de gosto duvidoso (o que era aquele cabelinho mullet – tipo o do MacGyver – ou pra que as mulheres usavam ombreiras extravagantes?) caiu no gosto dos donos de locadoras e fez o senhor Egashira abrir um sorriso de ponta a ponta no rosto. O anime do qual estamos falando atende pelo nome de Comando Dolbuck.
Os Bastidores
Embora o nome possa inflar a glândula saudosista de muitos, no Japão o Comando Dolbuck (que atende pelo nome de Tokusou Kihei Dorvack) não passou de mais um entre os muitos animes com temática espacial lançados no começo dos anos 80. Contudo, sua existência está associada com os bastidores de um certa série, cuja versão live-action foi o Blu-Ray mais vendido de 2009 nos EUA!
A produção da série foi realizada pela Ashi Productions (hoje chamada de REED Production Co.) que em seu currículo inclui a versão animada do mangá Ultramaniac e a série Cyber Team in Akihibara. Criada por Takeshi Shudo, que no ano anterior tinha dado vida à magical girl Minky Momo (lançada por essas bandas em uma fita VHS, junto com Speed Racer, com o nome de Gigi e a Fonte da Juventude), a série contou com o design de máquinas da dupla Katsumi Itabashi (que trabalhou na 3ª fase da Patrulha Estelar) e Nobuyoshi Habara (que não é exatamente um especialista na área , mas mostrou algum talento desenhando os mechas do anime Ladius – perdido em VHS por essas bandas x_x).
Patrocinando a série, uma fabricante de brinquedos: a Takatoku (hihihi) Toys. Nascida nos anos 70, a empresa chegou a fabricar miniaturas de heróis da família Ultra, e foi a responsável pela coleção da série Macross em idos de 1982. Com a ajuda direta de um dos criadores da saga espacial, a Takatoku Toys desenvolveu uma versão do caça Valkyrie rica em detalhes e movimentos, até então inéditos na maioria dos produtos do gênero. Lamentavelmente, tal fidelidade foi repassada ao preço final do produto e as vendas, embora muito boas, não geravam nenhum lucro fantástico.
Em 1983, a empresa apostou suas fichas em Super Dimension Century Orguss, uma criação do Studio Nue, responsável pelo clássico Macross, que nitidamente xerocou a clássica série espacial a fim de faturar em cima do sucesso. Os brinquedos, embora tivessem boa saída, também não compensavam muito o alto investimento na produção e a empresa entrou no vermelho. A última esperança foi depositada no Comando Dolbuck que não atingindo sequer muita audiência, acabou colaborando com a falência da empresa. A tentativa de “fazer Dolbuck dar certo” é bem clara pois no decorrer da série, a qualidade dos episódios vai melhorando – coisa que raramente ocorria na época – e o desenho dos mechas sofre sensíveis reformulações. Mas de nada adiantou o esforço.
Curiosamente, a poderosa Bandai adquiriu os projetos dos caças Valkyries e faturou bonito com o lançamento das edições baseadas no longa da série Macross (de 1984, exibido por aqui pela Manchete) . Já uma “tal” de Hasbro pegou o design das máquinas mutantes de Dolbuck, e fez um generoso upgrade no conceito visual, que culminaria com o nascimento de nada mais nada mesmo que os Transformers – somando aí as coleções adquiridas da fabricante Takara: Diaclone e Microman. Impressionante, não acha?
História
Os Edelianos são uma raça alienígena muito similar à nossa fisionomicamente (exceto pela cor de suas peles) que vagam pelo espaço em busca de um novo lar, já que seu planeta natal está prestes a entrar em colapso e extinguir a vida do povo que nele habita. Em 1999 (lembrando que a série foi lançada em 1983 :P), ao identificar a Terra como o planeta ideal, o comandante supremo de Edelian ordena uma invasão ao nosso planetinha. Como todo bom anime sci-fi dos anos 80, a Terra já estava preparada para isso, e os inimigos concentram sua invasão no Japão (o mundo é tão grande e eles invadem logo um dos menores países… Santa burrice extraterrestre Batman!).
Ordenados pelo comandante Amof, a esquadra de naves alienígenas de Edelian invade o planeta trazendo pânico ao povo. Pousando uma gigantesca nave próxima ao Monte Branco (a cara do Monte Fuji, diga-se de passagem), os Edelianos derrotam sem grande esforço qualquer ameaça terráquea aos seus interesses. Exceto claro, pelo Comando Triplo Dolbuck.
Dolbuck é o nome de uma força anexa do exército federal japonês que a princípio ficava só fazendo missões de busca e reconhecimento. O trunfo da equipe eram três “máquinas mutantes” pilotadas pelos jovens Masato (um rapaz marrento e muito bom de mira), Pierre (francês e ex-ladrão) e Louise (a flor da equipe). Essas máquinas (o jipe Carribar, o tanque Targus, e o helicóptero Gazette) tem a capacidade de se tornarem mechas de combate (um mais feio que o outro XD) que parecem ser a única coisa capaz de fazer frente diante do aparato armado de Edelia.
Auxiliando na manutenção das máquinas, temos o mecânico “Tio Bob”, o órfão Jack (bizarramente dublado por uma mulher na versão brasileira, só porque ele parecia uma bichinha XD) e o robozinho Peter. Todos seguem a batuta do rígido Coronel Takashi, que possui algumas desavenças internas no exército federal. A relação entre os personagens não é muito explorada e algumas ideias interessantes do roteiro são deixadas de lado no decorrer da série – focando a ação e os combates entre máquinas mutantes e os Edelianos.
A raça misteriosa alienígena possui uma cultura que parece estar ligada com o princípio da vida humana em nosso planeta e descobrimos que aqueles cabeções de pedra na Ilha de Páscoa são uma referência ancestral ao deus de Edelia deixada a milhões de anos em nosso planeta. Liderados pelo sinistro Zeller, no decorrer da série vemos alguns edelianos virando a casaca pro nosso lado, assim como a morte de um dos mocinhos, que é prontamente substituído por outro – rejeitado pelo marrento Masato até o fim. Diante dessa tragédia, começa a ser experimentado uma nova forma de pilotagem dos mechas (chamada Power Burn) que intensifica a ação no campo de batalha contra os inimigos – e rende um visual super armado para o Carribar versão mecha.
Comando Dolbuck no Brasil
Como comentado no início dessa matéria, Dolbuck chegou a nosso país direto em VHS, pela distribuidora de “Toshi” na época – a Everest Vídeo. O lançamento oficial se deu em 1986 e um dos motivos pelos quais Toshi teria escolhido a série seria o visual similar ao de um determinado desenho americano – que “emulava” o estilo das animações japas – chamado de Transformers. A ideia de pegar carona em cima do sucesso que a série dos carros-rôbos fazia deu super-certo, a ponto das encomendas de Dolbuck chegarem à casa das três mil fitas – enquanto outros animes patinavam na casa das duzentas fitas vendidas.
Os primeiros volumes tiveram uma ótima saída em 1986, mas quis o destino que a molecada ficasse fascinada com as capitchas de Jaspion e Changeman e os heróis começassem a ter uma procura mais intensa no mercado. Resultado: enquanto Dolbuck tinha suas vendas caindo a cada lançamento, as séries tokusatsu pegavam fogo. Segundo Michel Matsuda (integrante do lendário grupo Neo Animation, que fazia alegria do povo com vídeo-exibições em sampa nos anos 90) foram lançadas 13 fitas, com dois episódios cada. Da mesma forma que as fitas de tokusatsu lançadas na época, onde Toshi colocava um monte de imagem de outras séries (como Bioman :P) na contra-capa, a partir do volume 2 de Dolbuk, as imagens que ilustravam a contra-capa eram do anime Gall Force (!!!).
Tais fitas se tornaram objeto de colecionador, mas ainda é possível encontrar algumas em sites de venda virtual. Se bem que um fã lançou uma versão ripada dos DVDs originais japas lançados no final de 2003, e editou com o áudio remasterizado dessas fitas, produzindo um material pirata de primeira, que faz você pensar 10 vezes antes de comprar uma fita mofada :P.
A versão brasileira da série ficou a cargo da Álamo, que desde aquela época era praticamente “especialista” em dublar produções da Terra do Sol Nascente. O elenco apresenta muitos nomes famosos e lendários que trabalharam em séries tokusatsus (como o falecido Líbero Miguel – Monarca La Deus em Flashman – dublando o comandante do exército federal japonês) e o trio principal ficou a cargo de Eduardo Camarão (Green Flash em Flashman) como Masato, Carlinhos Laranjeira (Blue Flash em Flashman) como Pierre e Rosa Marli Baroli (Princesa Yan em Maskman) como Louise. Ironicamente, Eduardo e o falecido Carlinhos fariam uma dupla novamente alguns anos depois em Zillion, como Champ e JJ respectivamente.
Nomes alterados, personagens diferentes com a mesma voz no mesmo episódio (hein?!) e até mulher dublando homem (a dubladora Telma Lúcia, que fez a Nana adulta em Changeman, dublou o personagem Jack x_x) são algumas pérolas inesquecíveis daquela década em que muitos chamam de “anos perdidos”. Realmente, em se tratando de animes lançados em VHS por aqui, temos um vasto catálogo de títulos perdidos… Dolbuck permaneceu por um bom tempo como um deles, mas a lembrança dos fãs mantém essa e outras produções “vivas” – nem que seja como uma matéria do nosso acervo.