O Espadachim Ninja

O Espadachim Ninja
Sengoku Kitan Youtouden
Crônicas das Lâminas Demoníacas de Sengoku

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=Avh1D665IAM 480 320]

Criação: Takeshi Narumi
Produção: J.C. Staff, 1987
Distribuidora: Patriot Filmes (Star Films)
Lançado no Brasil em: VHS

Última Atualização: 15/09/2013

Fato: Saint Seiya representa um separador de águas na história dos animes no Brasil. Pode-se tranquilamente dividir essa história em “ACDZ” e “DCDZ” – antes e depois d’Os Cavaleiros do Zodíaco, respectivamente.

Não que não existissem animes sendo lançados em nosso país antes de 1994, porém tudo que chegava não contava com uma divulgação eficaz ou mesmo uma procura muito grande. Por conta desse cenário, um grande número de títulos se “perderam” nos catálogos de distribuidoras de vídeo que hoje já não existem mais.

Tank Police Dominion, Tetsujin 28 (remake do robôzão com forma de barril do clássico Homem de Aço) e o foco dessa matéria, Youtouden, são apenas alguns títulos que aqui no JBox chamamos de “Animes Perdidos”. Achou Youtouden um nome estranho? Não é mais que o horripilante título brasileiro: O Espadachim Ninja. Cruzes!

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Origem romântica
Diferente da maioria esmagadora de produções japonesas animadas, Sengoku Kitan Youtouden (algo como Crônicas das Lâminas Demoníacas de Sengoku) teve sua origem em um romance escrito por Takeshi Narumi. A animação que chegou até aqui foi produzida em 1987 pelo então desconhecido J.C. Staff. Inclusive, essa foi a primeira animação do estúdio que cresceu bastante com o passar dos anos e fincou uma qualidade expressiva no cenário de animações no Japão. Entre alguns trabalhos do estúdio constam R.O.D, Nodame Cantabile, um monte de OVAs (produções diretamente produzidas para o mercado de home vídeo) de Slayers e trabalhos de pós-produção em mais de cem animes!

Como título de estreia, o J.C. Staff conseguiu mostrar um bom potencial e reuniu um time de profissionais legaizinhos da época para a mini-série. A direção ficou a cargo de Osamu Yamasaki, que foi staff em produções como M.D. Geist e Projec t A-Ko (ambos lançados no Brasil e cults dos anos 1980 no Japão).

O design de personagens foi assinado por Kenichi Ohnuki (Iczer One e Dragonar) enquanto o design dos demônios que desfilam pelo anime ficou por conta de Junichi Watanabe (que também trabalhou em Iczer One, primeira parte do anime Iczer 3, que foi ao ar via Rede Manchete na sessão U.S. Mangá). Watanabe já era conhecido de Yamasaki por ter trabalhado com o diretor no OVA de terror Call me Tonight, que parece uma cruza de Sonhos Molhados com algum episódio da série Além da Imaginação.

Concebido em três capítulos com média de 40 minutos cada, Youtouden foi lançado entre 1987 e 1988 e teve repercussão relativa na época, a ponto de uma compilação ser lançada em 1989 sob o formato de “Movie” e ganhar uma adaptação obscura em mangá.

A história
Durante o conturbado período de regência do imperador Oda Nobunaga, o clã ninja das sombras dos Kasumi é atacado por um demônio bestial de três cabeças em sua aldeia e apenas uma pessoa sobrevive: Ayame Hayami. Seu irmão, Shinosuke, se sacrifica para que a garota possa ir até o clã dos Hyuga com uma kodachi (espada curta) lendária, passada de geração em geração ao longo dos séculos, e assim tentar encontrar uma chance de derrotar o mal.

Sozinha no mundo, Ayame abdica seu nome feminino e passa a se chamar Ayanosuke, se vestindo mais como um rapaz – coisa difícil de fazer já que tem um busto bem avantajado :P. Durante sua jornada solitária, a garota tromba com o galante Sakon Hayate, único sobrevivente dos Hyuga, no meio de uma floresta. Depois de um duelo com suas lâminas (Sakon usa uma katana forjada da mesma lâmina mágica da kodachi de Ayame) ambos se unem contra um ataque de Jinnai Saegusa, um dos 7 Oborochus, comandados demoníacos de Nobunaga.

Salvos por um misterioso monge – chamado de pastor na dublagem brasileira x_x – que invoca um mantra que liquida os demônios zumbis de Jinnai, a dupla parte para a última tribo ninja das sombras resistente: a dos Hagakure. Chegando à aldeia (que mais parece uma fortaleza), eles são recepcionados pelo gentil Ryoma (portador da terceira lâmina mágica, sob a forma de uma lança) que os apresenta a sua irmã Kikyou (pronunciada como Kíkiú na versão brasileira) que acaba se apaixonando por Ayame. E não é que rola até uma correspondência da protagonista da história? Conservadores se descabelam aqui. =P

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Quando Jinnai e o demônio de três cabeças ressurgem para atacar a aldeia, Kikyou acaba se sacrificando pra salvar seu amor e isso faz com que Ayame libere o poder especial de sua lâmina (que reluz um brilho azul mágico) que liquida seu oponente e a criatura. Junto de Sakon e Ryoma, Ayame parte para a província de Iga onde se envolvem no embate histórico de Tensho Iga – onde as tropas de Nobunaga dizimaram a maioria dos clãs ninjas da região. Bastante sangue com trilha sonora de videogame dos anos 1980 se assiste nessa parte, já no OVA 2.

A continuidade da história não é das melhores, já que personagens aparecem do nada e saem de cena da mesma forma. Em uma sequência muito sem sentido, um dos mocinhos do trio é literalmente morto por um dos Oborochus. Só que o mesmo aparece vivinho da silva algumas cenas depois! Isso sem contar que forçadamente os protagonistas acabam se apegando a algum personagem relevante na história e expressam um sofrimento digno de novela mexicana quando eles morrem.

Os saltos de acontecimentos do segundo OVA para o último é imenso e deixa qualquer um com a sensação de que perdeu muita coisa importante da história. Mas não se engane! As referencias históricas são mal trabalhadas mesmo e talvez toda gama de acontecimentos que ela tenta mostrar fossem trabalhadas melhor em uma série de TV.

Ao menos a batalha final tem aquele “estilinho Shonen Jump de ser”, com todo mundo se sacrificando para permitir que Ayame encare Nobunaga – que vira um bichão pavoroso. E acredite se quiser: ainda tem surpresinha, quando você acha que podia ter acabado, que resume e explica um monte de fatos que ninguém se preocupou em guardar na memória!

Espada dos Ninjas
Distribuído em 1993 pela Patriot Filmes, sob o selo Star Films, Yotouden tem um dos nomes mais infelizes que já podiam ter pensado para batizar um anime no Brasil. Nem todo ninja é um espadachim afinal de contas! E pelo amor de Deus: o protagonista da história é uma mulher!!! Logo, nunca poderiam  ter  chamado o anime de “O” espadachim ninja!!! Pra deixar a coisa mais constrangedora, ainda chamavam a série de “Espada dos Ninjas” na versão brasileira dentro da fita @_@.

Mesmo com essa feiura nominal, a distribuidora lançou os três capítulos dos OVAs anualmente, entre 1993 e 1995. Carecendo de um designer gráfico que prestasse pra bolar as capas, a do volume 2 da série causa medo de tão feia. Se não viesse escrito “Espadachim Ninja II” abaixo do título muita gente não conseguiria reconhecer que “A Batalha de Koga” se tratava do segundo capítulo da história.

O mesmo vale para o volume 3, batizado de “Ninja – A Batalha Final” (com tosquíssimas espadinhas ao fundo). Ao menos se mancaram nesse volume e tiraram o artigo masculino do título.

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A dublagem foi realizada nos estúdios da Dublavídeo em São Paulo e reuniu um elenco de vozes que se tornariam famosas pouco tempo depois dublando a enxurrada de produções que chegaram ao Brasil pouco depois d’Os Cavaleiros do Zodíaco. Ayame teve a voz única de Noeli Santisteban (a Marine em Guerreiras Mágicas de Rayearth e a Motoko Kusanagi em Ghost in the Shell). Infelizmente, a escolha de sua voz acaba com um detalhe importante na história: a personagem tem originalmente uma voz mais masculina (estilo Haruka em Sailor Moon S) para não deixar evidente que se trata de uma mulher!

Sakon teve a voz do competente Mauro Eduardo (Gai em Shurato e o Inu Yasha!), Ryoma teve a voz raivosa de José Parisi Jr. (Rei Zeba em Maskman) enquanto Nobunaga foi dublado por João Francisco (General Jark em Kamen Rider Black RX). E fazendo uma série de pontinhas temos ninguém menos que Hermes Baroli, que se consagraria como a voz do Seiya de Pégaso no Brasil no ano seguinte!

Apesar do elenco legal, a pronúncia de nome de personagens foi bastante sofrível. Bocas mexendo sem sair voz, sons de fundo ausente (quando alguém é cortado, nem sempre se escuta o barulhinho T_T), “cavaleiros” surgindo do nada (no último OVA lançado em 1995, os 7 Oborochus são chamados de “7 Cavaleiros Oburôs”) e até personagens trocando de voz de um capítulo para o outro tornam a experiência de se ouvir o anime um tanto irritante depois de um tempo.

Não bastasse tudo isso, alguns diálogos parecem ter sido traduzidos pelo tradutor de Gaban, já que não fazem muito sentido – como uma cena em que Ayame pede para Ryoma tomar cuidado, sendo que ele já estava nas garras de um demônio x_x.

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Nos EUA, O Espadachim Ninja foi lançado no meio dos anos 1990 pela U.S Mangá Corps com o título de “Wrath of the Ninja” e ganhou capinhas sensacionais, que fazem qualquer um acreditar que o anime é super legal (hihihi). Curiosamente, o rosto de Ayame na capa do filme lançado nos EUA parece ter saído de algum personagem de Flame of Recca ou Yu Yu Hakusho já que não lembra em absolutamente nada o character design original da animação.

Relativamente fácil de se encontrar nas locadoras do Brasil no começo dos anos 1990 (nem que fosse uma fitinha só), O Espadachim Ninja é só mais um dos animes perdidos no Brasil. Pra uns merece permanecer desse jeito, mas pra muitos com certeza vale a pena recordar desse “clássico”.